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Outubro Rosa: autoestima e sexualidade também fazem parte do cuidado com a mulher

Especialista alerta que mudanças físicas e emocionais após o câncer de mama impactam a intimidade feminina

Foto: Freepik por IA

No Brasil, o câncer de mama é o tipo mais incidente entre as mulheres, com mais de 73 mil novos casos estimados para 2025, segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA). Embora os avanços médicos tenham ampliado as chances de cura, especialistas chamam atenção para os efeitos menos visíveis da doença: as transformações na autoestima, na percepção do corpo e na sexualidade.

Estudos indicam que até 70% das pacientes relatam alterações na vida íntima após o diagnóstico. Entre os fatores mais comuns estão a diminuição do desejo sexual, o ressecamento vaginal e a dor durante as relações, associados tanto às mudanças hormonais quanto ao impacto emocional das transformações físicas, como cicatrizes e queda de cabelo.

Para a psicóloga e sexóloga Laís Melquiades, Rio de Janeiro/RJ, esses aspectos precisam ser abordados com a mesma seriedade que os cuidados médicos. “É comum ouvir de mulheres em tratamento a frase: ‘eu não me reconheço mais’. Essa sensação de estranhamento com o próprio corpo pode afastar a paciente da intimidade e fragilizar sua autoestima. O problema é que, muitas vezes, essa dimensão da saúde não é sequer discutida nos consultórios, afirma.

Segundo a especialista, as consequências vão além da esfera sexual: “quando a mulher não consegue se reconectar com o próprio corpo, surgem sentimentos de inadequação, insegurança e até medo de rejeição. Isso pode comprometer a relação consigo mesma e com o parceiro(a). É por isso que falar sobre sexualidade durante e após o tratamento é uma questão de saúde integral, e não de vaidade.”

Para lidar com esses impactos, Melquiades defende a importância de estratégias de autocuidado e suporte emocional. “Acompanhamento psicológico, grupos de apoio, exercícios de autoconhecimento e uma comunicação aberta com o parceiro(a) ajudam a ressignificar a relação com o corpo e a retomar a vida íntima de forma saudável. O momento, afirma, requer cuidado e, acima de tudo, compaixão e generosidade consigo mesma”.

Ela explica que o processo terapêutico pode ser um grande aliado nessa jornada, ao abrir espaço para o autoconhecimento e para a construção de um repertório sexual possível e coerente com o momento de vida de cada mulher. “Mais do que retomar a intimidade, trata-se de reencontrar-se. Quando a paciente se permite olhar para si com acolhimento, ela cria novas formas de expressão: no corpo, na fala, na maneira de se relacionar. É nesse movimento de cuidado e consciência que muitas vezes nasce a chance de ressignificar o corpo e a própria sexualidade, de forma mais leve e prazerosa”, afirma.

Ela reforça ainda que o Outubro Rosa é uma oportunidade para ampliar o olhar sobre a saúde da mulher.  Conforme destaca, “prevenção e tratamento salvam vidas, mas qualidade de vida depende também de como essa mulher se percebe e se relaciona consigo mesma. A sexualidade faz parte disso. Quando incluímos corpo, mente, afeto e desejo no cuidado, estamos oferecendo às pacientes não só saúde, mas dignidade e possibilidade de prazer novamente”.

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