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Prática esportiva: avaliação médica deve fazer parte da rotina do atleta

Atividade física faz bem à saúde, mas, se realizada sem supervisão de profissionais especializados, pode causar lesões, até mesmo em atletas de alta performance

Durante eventos esportivos, como a Copa do Mundo e as Olimpíadas, aumenta o incentivo para a prática de esportes. Porém, antes de começar a fazer qualquer tipo de atividade, é fundamental passar por avaliação médica com o acompanhamento de equipe multidisciplinar para auxiliar no treinamento e, sobretudo evitar lesões e outras complicações que podem prejudicar o processo de condicionamento físico, tão importante para saúde de qualquer pessoa. Os atletas de alta performance sabem muito bem disso, pois estão em constante busca pelo auge da condição física, e cada aspecto do treinamento é cuidadosamente pensado com o objetivo de melhorar o desempenho.

Conforme o presidente da Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular – Regional São Paulo, Dr. Fabio Rossi, em geral, a saúde do atleta é muito boa, mas todo cuidado é pouco. Principalmente o atleta amador deve tomar deve ficar atento. Do ponto de vista vascular, não é incomum que esportistas observem a presença de veias dilatadas ou saltadas nos membros, principalmente nas pernas, durante ou imediatamente após a prática do exercício, o que gera muitas dúvidas. “Esse é um processo fisiológico normal e, na realidade, em certas modalidades, como no halterofilismo, ciclismo e pedestrianismo, ocorre a hipertrofia das veias, que podem permanecer dilatadas mesmo após a pausa no treinamento. O uso de meias elásticas auxilia no retorno venoso, pode melhorar o desempenho e, principalmente, encurta o tempo de recuperação do atleta”, explica o cirurgião vascular.

O exercício físico em alta intensidade, afirma, é capaz de provocar sobrecarga anatômica e fisiológica no sistema musculoesquelético e cardiovascular. A lesão vascular deve fazer parte do diagnóstico diferencial na presença de dor, inchaço, disfunção motora e queda do rendimento de quem pratica qualquer tipo de esporte. “A falta do diagnóstico está relacionada ao baixo conhecimento específico sobre as principais doenças vasculares, sobretudo pelos treinadores e atletas de alta performance, e pela semelhança existente entre as queixas, como aqueles presentes nas lesões do sistema musculoesquelético, que são mais comuns nesse grupo de pacientes”, reforça o médico.

Riscos – Inicialmente, os sinais e sintomas da insuficiência vascular podem ser notados apenas durante a realização do exercício físico, na dificuldade em obter condicionamento, na queda de rendimento e quando um maior tempo é necessário para que ocorra a recuperação física. Entretanto, com o passar do tempo, caso essas injúrias vasculares não sejam identificadas, podem ocorrer lesões definitivas, como progressão de obstruções, tromboses e até mesmo embolizações e isquemia. Temperaturas extremas também ocasionam alterações vasculares, como a hipotermia, que pode provocar vaso espasmo grave, isquemia, necrose, amputação de extremidades e até parada cardiorrespiratória.

Outra modalidade de injúria vascular que, apesar de rara, vem aumentando de prevalência, principalmente nos praticantes de esportes radicais, de alta velocidade e impacto, é a dissecção aguda da aorta e das artérias cervicais, que se não diagnosticada e tratada precocemente, pode levar a consequências graves, como acidente vascular cerebral e até mesmo a morte.

Entre as doenças vasculares mais comuns em atletas, ele aponta as seguintes – em membros superiores:

Trombose Venosa Profunda:

A trombose venosa espontânea, induzida pelo esforço repetitivo, que ocorre pela compressão de estruturas músculo-ligamentares, na veia subclávia ou axilar, é conhecida como Síndrome de “Paget-Schroetter”. É a obstrução mais frequente que ocorre em atletas jovens de alta performance. A embolia pulmonar pode ocorrer em até 35% desses pacientes, demonstrando a importância de seu diagnóstico precoce. Sua ocorrência é mais comum em atletas que executam movimentos repetidos com os braços elevados, como os jogadores de basebol, vôlei, goleiros, tenistas e nadadores.

Estenose e aneurisma da artéria subclávia e axilar:

Apesar de serem mais raros, os mesmos fenômenos fisiopatológicos compressivos e obstrutivos, acima descritos, podem também ocorrer nas artérias e provocar compressões, obstruções, aneurismas, embolismo, trombose e até isquemia do membro.

Lesão do arco arterial palmar:

É uma lesão vascular que pode ocorrer em pessoas envolvidas em esportes de impacto constante e repetitivo nas palmas das mãos, como ocorre em jogadores de handebol, basebol, basquete e goleiros. É causada por inflamação crônica dos vasos, que pode levar à fibrose de sua parede, trombose, aneurisma e até mesmo isquemia das artérias de fino calibre da palma da mão.

Já em membros inferiores, o médico aponta para as seguintes doenças:

Endofibrose da artéria ilíaca externa:

Sua causa não é bem conhecida, aparentemente ocorre por fatores anatômicos, mecânicos e posturais que provocam compressão externa na parede dessa artéria por ligamentos e por músculos hipertrofiados durante o exercício físico intenso. Acometem principalmente ciclistas, triatletas e esquiadores.

Síndrome do canal dos adutores:

O canal dos adutores é um túnel aponeurótico formado pelas bordas do músculo vasto medial, adutor longo, magno e sartório, na região medial da coxa. Quando existe hipertrofia desses músculos, pode ocorrer compressão externa da artéria femoral, que pode provocar diminuição do fluxo sanguíneo, queda da pressão arterial de perfusão e desencadear perda de rendimento esportivo. É mais comum em corredores de rua e esquiadores.

Síndrome do aprisionamento da artéria poplítea:

A artéria poplítea situa-se na região posterior da coxa e do joelho. Ela é responsável pela vascularização das pernas e dos pés e pode também ser comprimida por estruturas ligamentares, principalmente pela cabeça medial do músculo gastrocnêmico (batata da perna). Essa compressão pode levar à obstrução, formação de aneurismas, embolia e isquemia. Os principais esportes que podem desencadear essas síndromes são: basquete, futebol, rúgbi, artes marciais e halterofilia, principalmente em usuários de anabolizantes. 

Síndrome do aprisionamento da veia poplítea:

A fisiopatologia é a mesma, mas ao invés de levar à isquemia, acontece o represamento e a hipertensão venosa do sangue drenado das pernas e pés. Nos estágios iniciais ocorrem sensação de peso, dificuldade de condicionamento e recuperação física, ou até mesmo dor, edema e escurecimento da pele. Nos casos mais graves há chances de formação de varizes e ulcerações e até mesmo a trombose.

“A lista de possíveis problemas vasculares relacionados ao esporte é vasta, mas, de uma forma geral, qualquer dor, edema, inchaço e alteração na performance pode indicar sintoma vascular e deve ser investigado”, destaca o Dr. Fábio Rossi, lembrando que as orientações devem ser seguidas também pelos que praticam esportes apenas esporadicamente.

Conforme ressalta, a prática de esportes sem acompanhamento médico aumenta os riscos. O infarto agudo do miocárdio e o AVC ocorrem em maior frequência na presença de hipertensão arterial, que pode estar presente em esportistas, sobretudo os amadores. Durante o exercício físico, a pressão pode aumentar ainda mais, e muitos não sabem que são portadores”, alerta o médico.

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