Saúde Mental na maternidade: desafios e realidades além da idealização
Ginecologistas explicam como a pressão social pode impactar a saúde mental das mulheres, desde as tentativas até a gravidez
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A maternidade é um período de intensas transformações físicas e emocionais, e a saúde mental é um aspecto crucial que merece total atenção. Desde o desejo de engravidar até o pós-parto, as mulheres enfrentam desafios que podem impactar significativamente seu bem-estar psicológico. Dados do Ministério da Saúde e da OMS revelam que cerca de uma em cada cinco mulheres enfrentará problemas de saúde mental, como depressão e ansiedade, durante a gravidez ou no primeiro ano após o nascimento do bebê.
Infelizmente, a gravidez ainda é frequentemente romantizada na sociedade, perpetuando a imagem idealizada de plenitude e felicidade, que nem sempre reflete a realidade das mulheres. Essa idealização pode criar uma pressão social intensa, levando muitas mulheres a se sentirem inadequadas ou culpadas por não atenderem às expectativas externas.
Essa pressão, observa o ginecologista obstetra Arnaldo Schizzi Cambiaghi, não afeta apenas as mulheres grávidas, mas também aquelas que estão tentando engravidar e enfrentam dificuldades”. Ele é especialista em Reprodução Humana, em São Paulo/SP. Segundo ele, “as mulheres que estão tentando conceber, muitas vezes enfrentam desafios profundos que vão além das dificuldades físicas. A idealização pode gerar um ambiente de estigma e solidão, onde a dor e a frustração não são bem compreendidas. A saúde mental é fundamental para a fertilidade, e o estresse emocional pode impactar negativamente a capacidade de engravidar, exacerbando a sensação de inadequação e culpa”.
Durante a gravidez, as mulheres passam por alterações hormonais significativas que podem influenciar diretamente sua saúde mental. O aumento dos níveis de hormônios, como estrogênio e progesterona, essenciais para o desenvolvimento do bebê e a manutenção da gravidez, pode afetar o equilíbrio emocional da gestante, provocando variações de humor, irritabilidade e maior vulnerabilidade a sentimentos de ansiedade e depressão.
Para as mulheres que estão tentando engravidar, os níveis hormonais também desempenham um papel crucial. Desequilíbrios hormonais podem dificultar a ovulação regular e a implantação do embrião, tornando mais difícil a concepção. O estresse emocional e a pressão social associados à tentativa de engravidar podem exacerbar esses desequilíbrios hormonais, criando um ciclo desafiador que afeta a fertilidade.
De acordo com a ginecologista e obstetra Marina Cocuzza, também de São Paulo/capital, essas mudanças hormonais são naturais, mas podem intensificar ou desencadear problemas emocionais pré-existentes. “Além das avaliações físicas regulares, destaca, “é essencial incluir uma avaliação da saúde mental durante as consultas pré-natais. Isso envolve observar sinais de estresse excessivo, ansiedade, alterações de humor e sintomas de depressão. Conversar abertamente com as pacientes sobre como elas estão se sentindo emocionalmente e oferecer suporte adequado ou encaminhamentos para profissionais de saúde mental, se necessário, é fundamental”.