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Uso excessivo de telas contribui para epidemia de miopia entre crianças e adolescentes

Foto:  Santa Casa BH 

O uso crescente de telas por crianças e adolescentes nos últimos anos, especialmente após a pandemia de Covid-19, tem gerado sérias consequências para a saúde ocular das novas gerações. Segundo o Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO), cerca de 20% das crianças em idade escolar no país já apresentam algum tipo de problema visual, com a miopia sendo uma das condições mais prevalentes. Desde 2020, o número de casos desse distúrbio aumentou 70% entre os pacientes de 0 a 19 anos.

No Ambulatório Especializado em Oftalmologia da Santa Casa BH, que é 100% SUS, o coordenador Médico, Dr. Marcus Vinicius Souza, tem notado um aumento considerável no número de pacientes crianças e adolescentes com miopia e outros problemas visuais. Segundo ele, esse crescimento também está diretamente relacionado ao uso excessivo de dispositivos eletrônicos. “Temos observado nos consultórios, sobretudo após a pandemia, um crescimento significativo de problemas de refração, como a miopia, nessa faixa etária, sendo muitos desses casos ligados ou agravados pela exposição excessiva a tablets e smartphones em curtas distâncias e por longos períodos”, alerta Dr. Marcus. 

Segundo o médico, “além da sobrecarga visual gerada pelo uso contínuo desses dispositivos, é preciso considerar, claro, a questão hereditária. Outro fator importante é a baixa exposição à luz natural e a falta da prática de atividades ao ar livre, que, como indicam pesquisas, contribuem para a saúde ocular”.

O impacto da tecnologia na visão infantil não é uma preocupação apenas do Brasil. Estudo publicado no British Journal of Ophthalmology revelou que as taxas de miopia entre crianças e adolescentes triplicaram desde 1990, com um aumento especialmente acentuado após 2020. A pesquisa mostrou que os jovens expostos intensamente às telas, como resultado da educação a distância, durante o confinamento da pandemia, apresentaram um agravamento significativo dos casos de miopia, além de outros sintomas como olhos secos e cansaço ocular.

De olho na sala de aula – A miopia em crianças é frequentemente diagnosticada durante a fase escolar, quando a demanda visual aumenta. A dificuldade de enxergar o quadro da sala, mesmo estando a poucos metros de distância, é o principal sinal de que o aluno pode ter um problema na visão. 

Situações como essa não são isoladas e exigem atenção por parte dos educadores e cuidadores, principalmente no caso de estudantes em condições de vulnerabilidade social, isso porque elas podem gerar, como consequência, a defasagem no aprendizado e até a evasão escolar. É o que revelam diversos estudos sobre o tema e os relatos cada vez mais frequentes dos professores.

Pensando nesse cenário, a Santa Casa BH participa do programa Miguilim, uma iniciativa da Secretaria Estadual de Saúde de Minas Gerais (SES-MG), em conjunto com a Secretaria Estadual de Educação (SEE-MG), que visa ampliar as ações de promoção e prevenção relacionadas à saúde auditiva e ocular nas escolas públicas em todo o estado.

No caso da visão, o público atendido é da faixa etária de cinco a 18 anos. O coordenador do Ambulatório Especializado em Oftalmologia da Santa Casa BH explica como o programa atua. “Nossos profissionais, assim como de outros centros, vão até as escolas para realizar exames e consultas especializadas em oftalmologia, possibilitando a identificação precoce de alterações visuais nos alunos. Se necessário, eles são encaminhados aos centros de saúde para seguirem com o tratamento. Além disso, a iniciativa também prevê a concessão de óculos para todos os estudantes que tenham indicação ”. 

Ele ressalta a importância de programas como o Miguilim, uma vez que nem sempre as famílias têm recursos para procurar atendimento. “Muitas vezes, a criança está desatenta na sala de aula, sem prestar atenção, com dificuldade para concluir as atividades. Caso ela tenha algum problema ocular, o diagnóstico precoce é fundamental. Esse projeto visa contribuir para a resolução dessas questões”, observa.

Um levantamento do Conselho Brasileiro de Oftalmologia reforça esse cenário. Segundo a entidade, 23 milhões de crianças em idade escolar no Brasil têm problemas de refração que interferem em seu desempenho diário, seja no aprendizado, na autoestima ou na inserção social.

O nome “Miguilim” é uma referência a um personagem de Guimarães Rosa, um menino do Sertão que, devido a uma deficiência visual, não compreendia o mundo dos adultos. No entanto, sua perspectiva muda quando ele ganha óculos, permitindo que veja a vida de uma maneira nova.

Prevenção – A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) recomenda que crianças menores de 2 anos não sejam expostas a telas e que o tempo indicado para crianças de 2 a 5 anos seja limitado a, no máximo, uma hora por dia. Para crianças entre 6 e 10 anos, o limite é de até duas horas diárias e adolescentes entre 11 e 18 anos não devem ultrapassar três horas por dia de exposição aos dispositivos. 

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