Cardiopatia congênita rara: cirurgia realizada com êxito por equipe do Vera Cruz Hospital de Campinas

“Essa doença impede que o sangue saia do coração em direção aos pulmões para ser oxigenado. Sem tratamento rápido, o bebê pode evoluir rapidamente para insuficiência cardíaca e até óbito”, alerta médica
Foto: Freepik
A equipe multiprofissional do Vera Cruz Hospital, em Campinas (SP), realizou, em junho, uma cirurgia cardíaca de alta complexidade em um bebê de apenas 40 dias de vida, diagnosticado com uma cardiopatia congênita rara e grave: a atresia da valva pulmonar.
As cardiopatias congênitas são malformações no coração que se desenvolvem ainda na gestação e afetam cerca de 1 a cada 100 nascidos vivos, segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria. A conscientização sobre a importância do diagnóstico precoce dessas condições é muito importante, pois, apesar de frequentes, ainda são pouco conhecidas pela população. A atresia da valva pulmonar representa de 1% a 3% desses casos de cardiopatias congênitas
“Essa doença impede que o sangue saia do coração em direção aos pulmões para ser oxigenado. Sem tratamento rápido, o bebê pode evoluir rapidamente para insuficiência cardíaca e até óbito”, explica a médica Michelle Marchi de Medeiros, coordenadora do serviço de Neonatologia do Vera Cruz.
O diagnóstico foi feito durante o pré-natal, por meio de um ecocardiograma fetal, exame que avalia a estrutura e o funcionamento do coração do bebê ainda na barriga da mãe, idealmente realizado entre a 24ª e a 28ª semana de gestação, principalmente em grávidas com fatores de risco, como diabetes, histórico familiar de cardiopatias ou alterações em outros exames.
“Quando conseguimos identificar, como neste caso, podemos organizar todo o atendimento para garantir o suporte necessário desde o nascimento”, explica a médica. “No Vera Cruz Hospital, temos estrutura completa para esses casos: diagnóstico intraútero, centro cirúrgico especializado, UTI pediátrica, equipe multidisciplinar com experiência e, se necessário, suporte com ECMO, que é uma forma avançada de oxigenação extracorpórea.”
Logo após o nascimento, a equipe iniciou o protocolo de estabilização, com a administração de uma medicação chamada prostaglandina, essencial para manter o canal arterial aberto e permitir a passagem de sangue para os pulmões até a cirurgia. O bebê foi cuidadosamente monitorado e só passou pelo procedimento quando atingiu o peso mínimo de dois quilos, condição que trouxe mais segurança.
A cirurgia, paliativa e chamada de “shunt de Blalock-Taussig”, cria uma nova passagem para o sangue alcançar os pulmões e ser oxigenado. A operação durou cerca de oito horas e foi concluída com sucesso, sem complicações no pós-operatório imediato. O bebê seguiu por duas semanas em recuperação, com acompanhamento das equipes de cardiologia pediátrica e cirurgia cardíaca da unidade, e já teve alta.
“O objetivo dessa primeira cirurgia foi garantir uma boa oxigenação até que ele cresça e esteja apto para as próximas etapas do tratamento, que podem incluir uma ou mais operações corretivas ao longo da infância”, detalha a médica. “Esse caso reforça a importância de termos uma estrutura integrada e profissionais experientes para agir com rapidez em situações tão críticas.”
Teste do Coraçãozinho
Além do diagnóstico durante a gestação, outra ferramenta importante de triagem é o teste do coraçãozinho (oximetria de pulso), obrigatório para todos os recém-nascidos com mais de 35 semanas de gestação. O exame, simples e rápido, é feito entre 24 e 48 horas de vida, antes da alta hospitalar, e pode detectar problemas cardíacos que não foram identificados no pré-natal.
Um diagnóstico tardio pode complicar os tratamentos. “Quando a cardiopatia só é descoberta após o bebê apresentar piora clínica, o quadro pode já estar muito grave, limitando as opções de tratamento e aumentando os riscos. Em alguns casos, pode ser necessário o uso de medicações potentes, cirurgias de emergência ou até transplante cardíaco”, explica.
Por isso, além dos exames, é fundamental que mães, pais, cuidadores e responsáveis estejam atentos a sinais de alerta que podem indicar problemas cardíacos em recém-nascidos e lactentes: cianose (coloração azulada nos lábios, língua ou extremidades); dificuldade para mamar ou ganhar peso; respiração rápida ou com esforço (taquipneia); batimentos cardíacos acelerados ou muito fortes; sonolência ou fraqueza excessiva e inchaço em torno dos olhos, pés ou barriga.
“Cianose persistente, falta de ar grave, recusa alimentar com sonolência extrema, desmaios, convulsões ou extremidades frias com pele pálida ou acinzentada são sinais de emergência e a orientação é procurar imediatamente o pronto-socorro”, alerta a médica.