Disfunções neurológicas em bebês prematuros
A médica Bárbara Nogueira Valério, pediatra do Grupo Neocenter: “são alterações que impedem o cérebro de desempenhar sua capacidade plena esperado para cada idade”
Uma das consequências da prematuridade é o recém-nascido apresentar disfunções neurológicas, envolvendo coordenação motora fina e grossa, postura, equilíbrio, reflexos e distonias. Segundo a Dra. Bárbara Carolina Vieira Nogueira Valério, Pediatra do Grupo Neocenter, que atua no Neocenter Maternidade/Belo Horizonte, instituição referência no cuidado e atenção ao bebê prematuro, instalada em Belo Horizonte, Minas Gerais, a criança que nasce abaixo de 37 semanas de gestação pode apresentar tais disfunções, uma vez que o desenvolvimento neurológico intrauterino foi interrompido. Nesse sentido, demanda cuidados especiais.
Mas o que vêm a ser essas disfunções neurológicas? De acordo com a pediatra, “são alterações que impedem o cérebro de desempenhar sua capacidade plena esperado para cada idade. Ela explica que em cada período da gestação ocorre a multiplicação, migração e organização de estruturas específicas do cérebro. O nascimento prematuro interrompe essa evolução normal, interferindo no desenvolvimento e no crescimento cerebral do bebê. Além disso, o cérebro imaturo está mais susceptível a sofrer lesões cerebrais, como hemorragia peri-intraventricular. “Como consequência, o bebê terá um fator de risco maior para apresentar disfunções cerebrais em relação ao bebê que nasce na idade gestacional entre 37 e 41 semanas e 6 dias”, destaca.
Ela reforça que as disfunções neurológicas do prematuro podem repercutir a curto e longo prazos, sendo as principais a alteração motora (atraso na execução de atividades motoras esperadas para cada idade), cognitiva (dificuldade de aprendizagem) e fala. As sequelas podem ser temporárias ou permanentes, de acordo com o grau da lesão neurológica.
Acompanhamento – As dificuldades apresentadas pelas lesões permanentes, informa a médica, podem ser minimizadas através de um acompanhamento multidisciplinar. Existem outras sequelas que não são permanentes e têm o seu prognóstico diretamente relacionado à assistência que a criança recebe na primeira infância.
O diagnóstico das disfunções é clínico, ou seja, elas são identificadas pelo pediatra e pela equipe multidisciplinar que acompanha a criança. Para avaliar estruturas cerebrais, o especialista pode solicitar exames, quando necessário.
Janela para o tratamento – O desenvolvimento do cérebro infantil é um processo dinâmico. Através da construção, aquisição e interação de novas habilidades ocorre a remodelação cerebral, conhecida como plasticidade cerebral. “Em razão desse dinamismo específico da faixa etária, devemos atuar de forma multidisciplinar com o bebê prematuro para aproveitarmos essa ‘janela de oportunidade’ da primeira infância, ou seja, quanto antes cuidarmos do cérebro do prematuro de forma individualizada, melhores serão os resultados”, observa a Dra. Bárbara Nogueira Valério.
O tratamento é multidisciplinar, cuja equipe deve ser formada de maneira a atender a cada criança de acordo com suas necessidades específicas, pois cada bebê tem suas particularidades. De forma geral, a criança deve ser acompanhada, principalmente por um neurologista pediátrico, oftalmologista pediátrico, otorrinolaringologista, fisioterapeuta, terapeuta ocupacional, fonoaudióloga. Durante todo esse processo os pais estão presentes e merecem toda a atenção também da equipe médica. Um auxílio psicológico pode ser necessário.