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Cólica renal: sintomas, causas, prevenção e tratamento

Urologista Ailton Faion, diretor clínico do Urológica Hospital, em Belo Horizonte: “o mais comum é a dor em cólica, angustiante, de forte intensidade, que começa de uma hora para outra”

De acordo com a literatura médica, 1 em cada 8 pessoas terá uma “pedra” nos rins em algum momento, ou seja 12% da população. A formação desse cálculo pode ocorrer em crianças, jovens e idosos e quem já teve relata uma enorme dor. Por isso, é importante a pessoa procurar um atendimento médico rapidamente, conforme orienta, nesta entrevista, o urologista Ailton Gomes Faion, diretor clínico da Urológica Hospital, em Belo Horizonte/MG, membro da Sociedade Brasileira de Urologia e membro efetivo do Colégio Brasileiro de Cirurgiões.

Inicialmente, Dr. Ailton, o que é um cálculo renal?

É uma pequena “pedra” formada por uma alta concentração de cristais na urina, devido, por exemplo,a pouca ingestão de água e/ou de comidas com muito sal e proteínas. O cálculo pode estar dentro do rim ou em qualquer nível do ureter (canal por onde a urina desce do rim até a bexiga). Obstruindo, esta passagem causa dor intensa, comumente denominada cólica renal. Esta obstrução pode ser causada também por um coágulo, por compressões extrínsecas do rim ou do ureter, ou tumores do aparelho urinário.

Quais os sintomas?

O mais comum é a dor em cólica, angustiante, de forte intensidade, que começa de uma hora para outra (sem nenhum fator desencadeante, como uma pancada, por exemplo). Geralmente, esta dor já se inicia de forte intensidade (não é gradativa…), e associa-se, muitas vezes, a náuseas e vômitos, ou até a episódios de diarreia. Esses sintomas associados são uma reação do organismo que sabe que uma víscera está obstruída (no caso o rim). Porém, o sinal de alarme é desencadeado para todo o corpo e, como uma tentativa de “desobstruir” o local afetado, aparecem náuseas, vômitos e até a diarreia. Outro sinal bastante frequente durante as crises renais é a presença de sangue na urina, de forma visível (macroscópica) ou nos exames de urina solicitados (microscópica). Outro sinal, menos comum, mas bastante preocupante, é a presença de febre.

Quais as causas?

Como dito acima, por tratar-se de uma obstrução na drenagem da urina pelo rim, qualquer coisa que obstrua o rim ou o ureter, seja dentro deles (como um cálculo ou um coagulo de sangue), ou externamente (como o crescimento de um tumor em alguma parte do abdome que comprima o ureter ou o rim) pode causar a cólica. De longe, a causa mais comum são cálculos renais.

Por que a dor é tão intensa?

Apesar de ser difícil “medir” a dor de um ser humano, pois isso envolve diversos fatores, inclusive sociais e culturais, sabe-se que a dor renal é uma das piores dores que o “homem” pode experimentar. O rim, apesar de não ter terminações nervosas para estímulos que conhecemos comumente (como calor, frio, etc..) é um órgão extremamente sensível a variações de pressão no seu interior. Quando ocorre a obstrução à drenagem de urina, até para preservar sua função, vital para nossa vida, a dor é intensa.

Qual a sua incidência em homens e mulheres? Por que?

A prevalência da cólica renal é na proporção de três homens para cada uma mulher, ou seja, o triplo em homens. Isso tem a ver com várias questões, que passam pela ingestão maior de proteína, tipo de trabalho e ritmo de atividade física (seja laboral ou recreativa), até por características genéticas, mais fáceis de serem transmitidas pelo cromossomo Y do que pelo X. A obesidade, por ser um fator predisponente e mais comum em homens do que em mulheres, também é uma causa da diferença de incidência por gênero.

Qual a faixa etária predominante? Por que?

Entre 20 e 40 anos, justamente por ser a faixa etária onde os fatores predisponentes (sejam intrínsecos ou extrínsecos), mais atuam nos indivíduos.

O que fazer para aliviar a dor?

Ir a um Pronto Atendimento médico é a providência mais sensata a ser tomada diante de qualquer dor de origem repentina e de forte intensidade. Até mesmo o uso de medicações analgésicas, que sempre temos em casa, pode dificultar o diagnóstico. Se a pessoa já sabe que é uma cólica renal (já que é frequente as recidivas) ela pode tomar um antiespasmódico (como Buscopam) ou outros analgésicos (como Dipirona). Medicações mais fortes, como os derivados de codeína, devem preferencialmente serem usados em um Ambulatório médico ou em um Hospital, sob supervisão médica. Uma providencia caseira e eficiente, sem riscos, é o uso de bolsa de água quente no local onde a dor é mais intensa.

Como se faz o diagnóstico?

A entrevista médica (chamada anamnese) e o exames físico (existe um exame onde é feito uma percussão na região lombar da pessoa, chamada sinal de Giordano), quase fecham o diagnóstico. Exames de imagem (Ultrassom ou Tomografia), além de exames de laboratório (sangue e urina), complementam o diagnóstico e mostram como o episódio deve ser tratado. 

Estatisticamente falando, qual é a incidência da cólica renal no Brasil?

Dados estatísticos nesse tipo de doença, sempre são sujeitos a críticas de viés. De qualquer forma, estima-se que 13% da população mundial têm cálculo renal. No Brasil, segundo a Sociedade Brasileira de Urologia, 5% dos brasileiros têm cálculos renais (um ou mais). Como um paciente pode ter mais de uma cólica, devido ao mesmo cálculo e, por outro lado, alguns cálculos podem passar uma vida inteira sem nunca causarem uma cólica renal, é possível ver como é difícil estimar esse número.

Quais os avanços no tratamento?

Os principais avanços são no âmbito dos procedimentos cirúrgicos, cada vez menos invasivos, devido a equipamentos mais delicados, flexíveis, e a disponibilidade de laser mais potentes, capazes de quebrar e pulverizar cálculos, mesmo maiores e mais “duros”, em pouco tempo. Mesmo casos mais complexos de cálculos, temos disponibilizados aos pacientes alternativas bem melhores do que há alguns anos, quando era inevitável uma cirurgia aberta, com uma grande cicatriz e um pós operatório doloroso. Isso tudo ficou no passado. Além disso, do ponto de vista de prevenção e de tratamentos medicamentosos, também temos oferecido alternativas muito recentes e eficientes.

Qual a sua orientação final para nossos leitores?

Importante salientar que sempre que houver algum problema de saúde, um médico deve ser procurado. Em caso de dor, especificamente lombar, a opinião de um urologista deve ser ouvida. Como recado final, para os pacientes que já tiveram cálculo renal, ou que nunca tiveram mais, e para aqueles que  já viram alguém com a dor e não querem passar por isso, uma sugestão bem simples, de forma preventiva, são alguns hábitos elementares: tomar muito líquido (agua, sucos, chás, etc….), perfazendo um volume de três litros ao dia, no mínimo, ter uma atividade física constante e diminuir a ingestão de proteína animal (carnes, queijos e frutos do mar), bem como também a ingestão de sódio, o famoso sal de cozinha, presente em vários alimentos, principalmente os processados. Lembro ainda que refrigerantes, principalmente os diet, contem muito sódio.

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