Síndrome do Olho Seco e o uso das telas, qual a relação?
Dra. Daniella Nazih Danif: “condição já afeta cerca de 15% dos brasileiros”
O despertador toca e, quase que simultaneamente, as mãos já procuram o celular enquanto os olhos se abrem diante das primeiras notificações na tela. Se essa cena parece familiar, você não está sozinho. À medida que o Brasil se aprofunda na era digital, uma condição oftalmológica, conhecida como Síndrome do Olho Seco (SOS), surge como um reflexo indesejado do tempo conectado. Com sintomas que variam desde ardência até a sensação de areia nos olhos, essa síndrome transcende um mero desconforto ocasional, representando uma crescente preocupação de saúde pública que afeta brasileiros de todas as regiões.
Segundo a Tear Film Ocular Surface Society (TFOS), autoridade global em pesquisa sobre o filme lacrimal e superfície ocular, cerca de 15% dos brasileiros sofrem de SOS. Esse número revela uma realidade alarmante, sublinhando que o problema é uma questão de saúde nacional.
Especialistas apontam, que a prevalência da SOS no Brasil é impulsionada não apenas por fatores ambientais, como o clima seco e a alta poluição, mas pelo tempo também excessivo que passamos diante de telas. “Esse comportamento, já enraizado em nosso cotidiano, diminui consideravelmente a frequência das piscadas, essencial para manter a saúde ocular, e contribui para o ressecamento e irritação dos olhos. As mulheres, especialmente, são mais vulneráveis a essa condição, possivelmente devido a flutuações hormonais. Essa constatação reforça a importância de uma abordagem inclusiva e diversificada no tratamento e na prevenção da SOS”, destaca a oftalmologista Daniella Nazih Danif, especialista em Cirurgia Refrativa e Ceratocone, Glaucoma e Catarata do Serviço de Oftalmologia do Hospital Felício Rocho/Belo Horizonte/MG.
Prevenção e Tratamento – Daniella Danif recomenda estratégias preventivas como pausas regulares para descansar os olhos, a regra 20-20-20 (olhar para algo a 20 metros de distância por 20 segundos a cada 20 minutos de uso de tela) e o uso de lubrificantes oculares para diminuir os riscos da SOS. No entanto, o tratamento de condições como o olho seco evaporativo e a Disfunção das Glândulas de Meibomius (DGM) frequentemente apresenta desafios, impactando a qualidade de vida dos pacientes. “A gama de tratamentos inclui lubrificantes tópicos, compressas mornas, limpeza com shampoo neutro diluído e expressão das glândulas meibomianas, além de suplementação oral de ácidos graxos essenciais, antibióticos tópicos e sistêmicos, corticosteroides e imunomoduladores tópicos”, explica a oftalmologista.
Tecnologia e Esperança – A introdução da tecnologia de luz intensa pulsada (IPL), inicialmente utilizada por dermatologistas para tratar doenças de pele como a rosácea, representa uma inovação promissora no tratamento da Síndrome do Olho Seco. Os pulsos luminosos do IPL atuam na pele, reduzindo a vasodilatação e os efeitos das alterações vasculares. “Estudos já demonstram que a luz pulsada pode melhorar significativamente os sinais e sintomas do olho seco evaporativo secundário à Disfunção das Glândulas de Meibomius. É importante, no entanto, buscar sempre um diagnóstico médico, pois apenas um especialista pode decidir o tratamento mais adequado para cada paciente”, observa Daniella Danif, ressaltando que esse panorama evidencia a necessidade de uma reflexão coletiva sobre como equilibrar os benefícios da tecnologia com a preservação da saúde ocular, buscando soluções que permitam aos brasileiros aproveitar os avanços digitais sem comprometer o bem-estar visual.