Em FocoÚltimas Matérias

A importância da radioterapia no tratamento do câncer de mama

Levantamento encomendado pela Sociedade Brasileira de Radioterapia (SBRT) mostra que número de pacientes que receberam radioterapia em 2024 no Instituto Nacional de Câncer equivale a 53% das matriculadas na instituição com diagnóstico de câncer de mama

Foto: Orion Production/ Divulgação

Em 2024, o Instituto Nacional de Câncer (INCA) registrou 1.383 novas matrículas de pacientes com diagnóstico de câncer de mama. Deste total, 740 mulheres receberam radioterapia na instituição, número que corresponde a 53% das pacientes matriculadas no INCA no período. Os dados fazem parte de um levantamento encomendado pela Sociedade Brasileira de Radioterapia (SBRT), que buscou, em alusão à campanha Outubro Rosa, analisar o cenário assistencial em um dos maiores centros oncológicos do país.

Esse percentual reforça uma estimativa já consolidada em estudos internacionais que mostra que cerca de seis em cada dez pacientes diagnosticadas com câncer de mama devem receber a indicação de radioterapia em algum momento de sua jornada de tratamento. “O levantamento traz o recorte específico do INCA como uma instituição de referência no Rio de Janeiro. Nele, não vemos um déficit acentuado. Por sua vez, o Brasil apresenta muitos vazios assistenciais e não deveremos ter o mesmo cenário”, observa Gustavo Nader Marta, presidente da SBRT.

Regulação e fluxo de pacientes – O dado ganha contornos ainda mais complexos quando se observa o funcionamento do Sistema Único de Saúde (SUS). De acordo com a radio-oncologista Raquel Guimarães, chefe da Divisão de Diagnóstico do Hospital do Câncer 1 do INCA, os números do levantamento não representam apenas o universo fechado das pacientes diagnosticadas e tratadas na instituição. “Vale registrar que as pacientes matriculadas no INCA que necessitam de radioterapia podem ser tratadas em qualquer serviço do SUS que possua o recurso. E o contrário também ocorre, ou seja, recebemos as pacientes vindas de outros centros. O dado mostra algo que já vemos no dia a dia. Mais da metade das pacientes com câncer de mama vai precisar de radioterapia em algum momento do tratamento. É um recurso indispensável para reduzir recidivas e aumentar a sobrevida”, afirma.

Conforme explica a Dra. Raquel, a radioterapia para pacientes com câncer de mama pode ser utilizada em diferentes fases da doença. Após cirurgias conservadoras, reduz significativamente o risco de recorrência local. Em casos de mastectomia, é indicada em situações específicas, como quando há comprometimento linfonodal ou tumores volumosos. Além disso, desempenha papel essencial no controle de sintomas em pacientes metastáticas, contribuindo para a qualidade de vida e prolongamento da sobrevida.

“O dado reforça a noção de que não existe tratamento integral do câncer de mama sem considerar a radioterapia como uma etapa fundamental”, acrescenta a radio-oncologista. Para os especialistas, a manutenção e expansão do acesso ao recurso no Brasil são fundamentais para reduzir desigualdades regionais e garantir resultados semelhantes aos de países com maior cobertura.

Rastreamento no Brasil – Paralelamente ao debate sobre os tratamentos, o Brasil também vive mudanças importantes no rastreamento do câncer de mama. O Ministério da Saúde anunciou recentemente a atualização das diretrizes nacionais, ampliando a oferta de mamografia no SUS para mulheres sem história pessoal ou familiar da doença a partir dos 40 anos. Até então, o exame era recomendado oficialmente a partir dos 50 anos. A medida busca ampliar o diagnóstico precoce, etapa fundamental para alcançar índices de cura superiores a 90%. Especialistas destacam que identificar o tumor em fases iniciais aumenta as chances de cirurgias menos invasivas e de outros tratamentos também menos agressivos. Além da ampliação da faixa etária, a estratégia prevê o fortalecimento da rede de atenção com uso de carretas de saúde da mulher, a incorporação de novos medicamentos, capacitação de equipes e a criação de uma linha de cuidado que garanta acesso ao exame também em pacientes assintomáticas.

Outro ponto inovador é o chamado “rastreamento sob demanda”, em que profissionais de saúde orientam as mulheres sobre benefícios e riscos da mamografia, favorecendo escolhas informadas. Para o governo, a diretriz busca reduzir desigualdades regionais e assegurar que brasileiras de diferentes estados e contextos sociais tenham acesso a diagnóstico precoce e a tratamentos de maior qualidade.

Avanços e desafios – Embora o levantamento do INCA indique que mais da metade das pacientes com câncer de mama têm acesso à radioterapia, a realidade brasileira é marcada por disparidades. Regiões com menor concentração de centros oncológicos ainda enfrentam longas filas de espera e deslocamentos exaustivos para o início do tratamento. Para a SBRT, a superação desses desafios depende de políticas públicas que ampliem a infraestrutura de radioterapia, formem novos profissionais e incentivem a incorporação de tecnologias já validadas em estudos internacionais.

O dado de 2024, portanto, não é apenas um retrato da rotina do Instituto Nacional de Câncer, mas também o alerta de que, enquanto a unidade do INCA consegue manter índices próximos ao ideal, grande parte do território nacional ainda apresenta lacunas que comprometem o cuidado integral às mulheres com câncer de mama.

Artigos relacionados

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo