Depressão e ansiedade podem afetar seriamente a saúde bucal
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Dados do IBGE – levantados durante os anos de 2013 e 2019, evidenciam um aumento de 34% nos casos de depressão no Brasil. No ano de 2019, cerca de 10% das pessoas com mais de 18 anos teriam recebido o diagnóstico. Até mesmo antes da pandemia, o país já dominava os casos de ansiedade. Uma pesquisa de 2017, da OMS, indicava que 18 milhões de brasileiros sofriam com o transtorno.
De acordo com o Conselho Regional de Odontologia de São Paulo (CROSP), com essa condição, somada ao estresse, a ansiedade e transtornos mentais, o paciente acaba tendo menos foco na saúde bucal.
Conforme relata o presidente da Câmara Técnica de Periodontia do CROSP, Marcelo Cavenague, “a depressão é um exemplo típico do paciente que deixa de dar atenção a suas necessidades básicas por conta de seu transtorno. O paciente depressivo mal toma banho ou se alimenta, tem dificuldade em sair de casa ou realizar as tarefas comuns do dia a dia. O paciente depressivo dificilmente terá condições de dar a devida atenção à sua higiene bucal e, como consequência, terá maior risco de ter cárie e doença periodontal, necessitando um acompanhamento mais próximo do profissional”.
Segundo o Dr. Cavenague, os pacientes com transtornos mentais podem ter quadros de cárie, visto que a higienização fica comprometida, em decorrência do estado emocional do indivíduo, além das medicações que diminuem o fluxo salivar, desregulando o pH bucal, podendo ainda causar reações adversas na cavidade oral e na ocorrência ou piora do bruxismo.
Transtornos alimentares também podem implicar na piora da saúde bucal. Anorexia, bulimia e compulsão alimentar colocam o paciente em situações de risco. A anorexia, por exemplo, faz com que a pessoa tenha resposta imunológica muito baixa; já a bulimia provoca acidez bucal, o que pode gerar erosão ácida na região palatina dos dentes anteriores superiores pelo contato com ácido estomacal. No caso de compulsão alimentar, corre o risco de ter cárie, pois o paciente tem o hábito de comer a todo momento, o que o leva a uma constante alteração de pH.
Da mesma forma, o bruxismo também pode ser grave para quem sofre com doenças e transtornos mentais. A integrante da Câmara Técnica de Disfunção Temporomandibular e Dor Orofacial, Dra. Katia Akemi Uezu, explica que o bruxismo é autorrelatado (ou relatado por alguém próximo) ao ser notado o apertamento ou ranger dos dentes, das contrações involuntárias dos músculos da mastigação e/ou movimentos parafuncionais da boca. Essa condição, observa, pode desgastar e trincar os dentes, causar disfunção temporomandibular e dor nos músculos da mastigação, lesões em mucosas por mordedura, entre outras consequências.
Ela destaca ainda que as medicações prescritas para o tratamento das doenças e dos transtornos mentais. Elas podem causar reações adversas na cavidade oral e na ocorrência ou piora do bruxismo.
“O tratamento é realizado por profissionais capacitados e é multidisciplinar, interdisciplinar e multiprofissional. As consultas desses pacientes não devem ser muito longas para não afetar a sua condição geral. A escuta e o acolhimento são importantes, além da orientação e educação quanto à relação e o impacto dessas condições na saúde oral”.
Em todos os contextos, o papel do cirurgião-dentista é de extrema importância no acolhimento e análise clínica do histórico do paciente, a fim de orientá-lo a seguir o melhor tratamento para a resolução/manejo dos impactos causados na saúde bucal da pessoa com doença e/ou transtornos mentais.