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Diabetes: o impacto invisível da doença nos vasos sanguíneos

Por Dra. Anna Paula Weinhardt, médica e cirurgiã vascular, de São Paulo/SP.

A diabetes tem impacto direto e profundo sobre a circulação. A doença provoca alterações inflamatórias crônicas, muitas vezes silenciosas, na estrutura dos vasos sanguíneos. Com o tempo, essas agressões podem levar ao endurecimento das paredes arteriais, à formação de placas e a obstruções progressivas do fluxo sanguíneo, geralmente de maneira gradual e pouco perceptível.

Na prática, isso significa que pessoas com diabetes apresentam maior risco de desenvolver doença arterial periférica, caracterizada pela redução do fluxo de sangue para pernas e pés. Esse cenário favorece o surgimento de úlceras e feridas de difícil cicatrização, além de alterações de sensibilidade que tornam machucados despercebidos, aumentando também a probabilidade de trombose, microtromboses e, em casos mais avançados, amputações quando o tratamento é iniciado tardiamente.

Para quem convive com a doença, alguns sinais precisam ser observados com atenção, principalmente quando envolvem mudanças na circulação dos pés e das pernas. Dor ao caminhar, extremidades mais frias, alterações súbitas de cor, como palidez ou tonalidade arroxeada, e feridas que não cicatrizam são alertas importantes. Calos ou bolhas recorrentes, perda de sensibilidade, formigamento, queimação, inchaço persistente, infecções locais e alterações nas unhas também merecem avaliação médica. Como muitas dessas manifestações podem ser mascaradas pela perda de sensibilidade típica da diabetes, o acompanhamento periódico se torna indispensável, mesmo quando o paciente não apresenta dor.

A boa notícia é que grande parte desse quadro é reversível e prevenível com um estilo de vida mais equilibrado. Estudos mostram que cerca de 90% dos casos de diabetes tipo 2, comum entre adultos, podem ser revertidos ou controlados a ponto de dispensar medicações, desde que haja mudanças consistentes na alimentação e na adoção de exercícios regulares. Nesse contexto, os pilares da medicina do estilo de vida apontam caminhos eficazes para proteger a saúde vascular e promover mais longevidade e qualidade de vida:

  • Alimentação equilibrada: rica em fibras, vegetais, sementes, grãos integrais, proteínas magras e com redução de ultraprocessados, diminuindo os picos glicêmicos, melhorando o perfil inflamatório e protegendo a circulação.
  • Exercícios regulares: aumentam a sensibilidade à insulina, reduzem o açúcar circulante no sangue, melhoram o fluxo sanguíneo e fortalecem vasos e músculos que sustentam a circulação.
  • Sono adequado: regula hormônios envolvidos no controle do açúcar, do apetite, melhora a pressão arterial e reduz processos inflamatórios.

Essas decisões cotidianas têm impacto expressivo e cumulativo na saúde dos vasos e no controle metabólico. Muito mais do que estética ou perfeição, trata-se de constância. Ainda assim, essas práticas seguem subutilizadas. No campo da alimentação, o foco não deve ser apenas restringir, mas incluir. Isso significa deixar claro que uma dieta com menos açúcar, menos ultraprocessados e mais comida de verdade já representa um avanço significativo para a saúde vascular.

A atividade física tem importância semelhante. Muitas pessoas sedentárias não sabem por onde começar, e é papel do profissional de saúde criar estratégias que facilitem a introdução gradual do movimento no cotidiano. Subir alguns lances de escada, caminhar até a padaria, estacionar mais longe: essas pequenas escolhas podem ser orientadas e acompanhadas para que o paciente desenvolva consciência corporal e proteção vascular. A partir desse ponto, volume e intensidade podem ser ajustados progressivamente, buscando mais engajamento e prazer na prática.

O estilo de vida também ajuda no controle de outro fator determinante para a diabetes e para a saúde dos vasos: o estresse. O estresse crônico aumenta a liberação de cortisol e adrenalina, hormônios que elevam a glicose no sangue, reduzem a sensibilidade à insulina e causam vasoconstrição. Na prática, pacientes que manejam o estresse por meio de movimento, meditação, pausas na rotina, conexões sociais e espiritualidade costumam apresentar melhor controle glicêmico, menor inflamação sistêmica, melhor fluxo sanguíneo e pressão arterial mais estável, além de redução de dor e inchaço nas pernas.

Gerenciar o estresse é uma intervenção terapêutica. Não é luxo. É prevenção vascular com foco em longevidade.

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