Entendendo o protagonismo da enfermagem nos hospitais de transição
Enfermeiros assumem papel de relevância no dia a dia das instituições de cuidados continuados junto a equipe interdisciplinar, conduzindo o planejamento terapêutico individualizado para cada paciente e família
No Brasil, os hospitais e clínicas de transição têm uma relevância muito grande na continuidade dos cuidados, especialmente, no caso de pacientes que enfrentam problemas agudos e pós-agudos. Essa é uma questão ainda mais sensível quando olhamos para o atual cenário da epidemiologia, marcado pelo envelhecimento populacional e aumento das doenças crônicas não transmissíveis. Para atender a essas necessidades, toda a estrutura funcional é adaptada e difere do hospital tradicional. Isso inclui a participação do time de enfermagem, que, aliás, tem conquistado cada vez mais protagonismo nesse modelo, que tem como proposta o cuidado integrado e centrado no paciente.
De acordo com enfermeira Luiza Watanabe Dal Ben, consultora em serviços de saúde extra hospitalares – atenção domiciliar e hospital de cuidados de transição- e membro da Câmara Técnica do CorenSP/gestão atual, um hospital de transição atua como eixo de cuidados continuados, no planejamento da alta do paciente que deixa um hospital geral e precisa de um nível de cuidado essencial com uma equipe interdisciplinar especializada para reabilitação, retorno à sua condição de cidadão e enfrentamento à sua nova condição física. São pacientes em condições clínicas estáveis, porém com uma demanda de cuidados intensivos de enfermagem. O responsável por centralizar, facilitar e coordenar todo esse processo, as ações e interações entre os profissionais das equipes multidisciplinares tem sido o enfermeiro.
“A equipe de enfermagem supervisionada pelo enfermeiro é especializada em cuidar e construir o processo de relação com empatia, acolhimento, perseverança e positividade com os pacientes e familiares assistidos nas unidades de cuidados de transição, ancoradas em conhecimentos técnicos científicos, éticos, legais e políticos, visando uma prestação de cuidados segura, com qualidade e de entusiasmo à vida, buscando a autonomia, acompanhando o paciente e familiares aos setores do hospital de transição, tais como: solário, reabilitação, refeitório, convivência e musicoterapia entre outros, diferentemente do hospital geral que se destina aos pacientes que necessitam de intervenções essenciais para a sobrevida, como os cuidados intensivos”, ressalta. É esse time que por meio de estruturas específicas, que visam buscar a recuperação dos pacientes, assegura a continuidade da assistência após a internação hospitalar e, principalmente, que esse paciente tenha a sua possibilidade de melhores condições de alta e adquira confiança para enfrentar a próxima fase de seu tratamento. “Estamos falando de relação muito próxima, mútua de solidariedade, em que o profissional da enfermagem é o que permanece o mais tempo ao lado do paciente, em especial naqueles momentos em que ele mais precisa de cuidados”, complementa Luiza.
O trabalho desempenhado por essa equipe engloba períodos sucessivos de demarcação e aproximação, sempre baseada na construção dessa credibilidade e buscando manter essa intersubjetividade. Para isso, os profissionais que atuam nessa área têm um olhar atento e direcionado a entender a história de cada um dos seus pacientes, bem como seus principais anseios, compartilhando esses detalhes para o restante da equipe interdisciplinar. Essa intermediação é o que, relata Luiza Dal Ben, permite manter o plano terapêutico integrado não só consoante às necessidades físicas – o tratamento em si – mas, também, psico-sociais, funcionais, valores, desejos, entre outros.
“Na verdade, o que fazemos é identificar e potencializar todos os recursos que o paciente possui e, juntamente com a família – afinal a participação da família é premissa nos cuidados de transição, decidir pela melhor alternativa, individualizada. Isso independente do fato dele estar conosco para reabilitação, para receber uma medicação, um tratamento mais prolongado, ou esteja enfrentando algum dos estágios de cuidados paliativos. Essa é uma prática muito comum em todos os hospitais e clínicas, principalmente, nas instituições que fazem parte da Associação Brasileira de Hospitais e Clínicas de Transição – ABRAHCT”, explica a especialista.
É exatamente essa forma de atuar do time de enfermagem que permite aos hospitais de transição coordenar o planejamento terapêutico integrado e de cuidado dessas pessoas. O foco está em seu bem-estar e não somente na questão da cura, em especial, pois alguns casos nem sempre é possível. Portanto, o entendimento de todo o processo de doença é sempre envolvendo a família de uma forma concreta nos processos decisórios com objetivo da continuidade do cuidado.
O principal diferencial entre a atuação nesse modelo e no modelo tradicional, é fato do paciente estar no local certo, no momento certo, no tempo adequado com a equipe interdisciplinar necessária, para haver o cumprimento, reavaliação do plano terapêutico integrado, otimização dos recursos em saúde e prepará-los (paciente/família) para a volta ao domicílio em condições mais tranquilas e, muitas vezes, libertos da necessidade de usar dispositivos médicos. E, mesmo nos casos em que eles sejam necessários, essas famílias são capacitadas e preparadas para essa nova situação.
“Historicamente é uma profissão de cuidar, porém, no modelo de transição somos eleitos para coordenar, implementar e avaliar eficazmente a continuidade dos cuidados na transferência do paciente, desde a alta hospitalar, durante o tratamento no hospital de transição e quando ele vai para casa”, finaliza.