Ética na Saúde: uma luta de todos
Por Cândida de Fátima Bollis (foto) e Patrícia Braile, Presidente e vice-presidente do Instituto Ética Saúde
A falta de ética está em qualquer ação que prejudique o indivíduo ao nosso lado ou o coletivo. Na saúde, ela mata. Apesar disso, os números são assombrosos. Cerca de 7% dos gastos em saúde globais, ou aproximadamente US$ 500 bilhões, são perdidos com corrupção, anualmente, de acordo com a Transparência Internacional. Em reais, isso corresponde a R$ 2,5 trilhões, um montante que equivale a quase um quarto do PIB do Brasil indo para o ralo. E quem são os grandes prejudicados? Os consumidores, no caso, os pacientes.
O que podemos fazer? LUTAR! E ajudar com nossa força de trabalho, para que as relações existentes no setor que atuamos, e tanto amamos, sejam pautadas pela transparência, integridade, honestidade, prevenção e controle. Não devemos deixar de lado os acontecimentos do passado, os que se tornaram públicos e aqueles que se mantiveram encobertos pela perspicácia dos oportunistas. Bem como aquelas práticas que, antes, eram tidas como “praxe” do setor e hoje pudemos descortinar o mal que sombreava, ainda que no toar da “ignorância”, e corrigi-las.
Entra aqui o Instituto Ética Saúde (IES), que tem a missão de lutar por um equilíbrio das relações econômico-financeiras, de buscar a sustentabilidade de todos os elos dessa grande teia da saúde – que vai do fabricante nacional aos grupos multinacionais e envolve profissionais de saúde, distribuidores, importadores, hospitais, operadoras de saúde, laboratório, indústria farmacêutica. Porque estão todos interligados. E o que buscamos no IES é, de fato, o envolvimento coletivo. É preciso parar de apontar o dedo para o outro e olhar para dentro de casa.
O mercado da saúde é complexo, todo mundo sabe, por isso a nossa luta para conscientizar e engajar todos os players. Juntos seremos a mola propulsora do que verdadeiramente pode ser considerado ética nos negócios, utilizando os mecanismos de informações, atuando nas ações práticas, com a autorregulação do mercado e revisão das regulações em vigor, levando a conhecimento público o quanto a falta de transparência e o oportunismo nas relações depreciam a cadeia produtiva e a sociedade como um todo, gerando de fato prejuízo a qualidade e o prolongamento da vida.
Também faz parte do trabalho os procedimentos de prevenção. O Instituto Ética Saúde se coloca na posição de receptor das informações das práticas ilícitas observadas. É preciso uma atuação conjunta de toda a sociedade para maior imputação e apuração das responsabilidades, além da identificação dos infratores e eventuais punições.
Sejamos os promotores da conduta ética verdadeira, com foco não de tentar ensinar somente, mas envolver cada profissional, cada cidadão. Educar no sentido de (trans)formar cada envolvido. Neste ponto, lembramos o que diz José Murilo de Carvalho sobre educar e envolver a sociedade: “Nos países em que a cidadania se desenvolveu com mais rapidez […] a educação popular foi introduzida. Foi ela que permitiu às pessoas tomarem conhecimento de seus direitos e se organizarem para lutar por eles. A ausência de uma população educada tem sido sempre um dos principais obstáculos à construção da cidadania civil e política”.
Somos um Instituto que se propõe a lutar ativamente em prol de um setor justo e sustentável para todos, ser os “ouvidos e a boca” dos players, sem deixar de mencionar que também somos o “coração”, pois, sabemos que a paixão, o amor daqueles que trabalham com a saúde vibram pela vida.