Medicina de Família e Comunidade: aumenta a procura por esta especialidade no Brasil

De acordo com a Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade, o número de especialistas aumentou 171% em uma década
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A busca frequente por atendimento médico diante de qualquer sinal de mal-estar revela uma preocupação legítima com a doença, mas não necessariamente com a saúde. Para que se promova uma mudança de paradigma — do cuidado reativo para o preventivo, é imprescindível a adoção de um acompanhamento longitudinal, que considere não apenas os sintomas, mas também os hábitos de vida, os vínculos familiares, o ambiente domiciliar e demais determinantes sociais da saúde. Esse modelo de atenção exige um profissional com formação específica e abrangente: o médico de família e comunidade.
A Medicina de Família e Comunidade tem se consolidado como uma das especialidades médicas de maior crescimento no país. De acordo com a Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade (SBMFC), fundamentados na Demografia Médica 2020, elaborada pelo Conselho Federal de Medicina e instituições parceiras, o número de especialistas aumentou 171% entre 2010 e 2020. Em 2022, observou-se novo incremento de 30%, totalizando 7.149 médicos atuantes na área.
Apesar do avanço, o número de profissionais ainda é insuficiente frente às necessidades da população. A escassez de médicos dedicados à atenção primária contribui para a superlotação dos serviços de urgência e emergência. Enquanto o Brasil apresenta uma razão de 2,93 médicos de família e comunidade por mil habitantes, países como Alemanha e Espanha registram índices de 4,5 e 4,6, respectivamente. A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) recomenda um mínimo de 3,7 médicos dessa especialidade.
Tradicionalmente vinculados às Unidades Básicas de Saúde (UBS) do Sistema Único de Saúde (SUS), os médicos de família e comunidade vêm ampliando sua atuação na rede privada. Iniciativas como a Amparo Saúde, pertencente ao Grupo Sabin, têm implementado clínicas de Atenção Primária à Saúde (APS) que oferecem linhas de cuidado contínuo a pacientes vinculados a planos de saúde e em empresas que ofereçam a APS como benefício para os colaboradores e na gestão de saúde de grupos populacionais.
Segundo o Dr. Leonardo Demambre Abreu, médico de família e comunidade e coordenador técnico da Amparo Saúde, de São Paulo/SP, o modelo adotado busca estabelecer um vínculo genuíno entre profissional e paciente desde a primeira consulta, por meio de protocolos estruturados de acolhimento e escuta qualificada.
O médico de família e comunidade possui competências para atender indivíduos em todas as fases da vida, realizar procedimentos ambulatoriais — como suturas, remoção de lesões e inserção de dispositivos intrauterinos (DIU) — e resolver até 85% das demandas clínicas sem necessidade de encaminhamento imediato.
A percepção de que intervenções médicas decisivas ocorrem apenas em unidades de terapia intensiva foi gradualmente substituída, na trajetória de Abreu, pela valorização do acompanhamento longitudinal. “A responsabilidade de acompanhar um paciente ao longo dos anos é imensa, porque consegue detectar precocemente patologias graves, como um câncer”.
A medicina de Família e Comunidade representa, segundo destaca, não apenas uma especialidade médica, mas uma filosofia de cuidado centrada na pessoa, na continuidade e na integralidade — fundamentos essenciais para a construção de um sistema de saúde mais eficiente, humano e resolutivo”.