Melanoma no Brasil: número de mortes provocados pelo tipo mais agressivo de câncer de pele pode crescer 80% até 2040

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Principal causa de morte por câncer de pele, o melanoma constitui um desafio de saúde para os pacientes e para os sistemas de saúde, inclusive na América Latina. O número de casos da doença vem aumentando rapidamente globalmente, particularmente em locais com elevada concentração de pessoas com ascendência europeia, característica considerada um fator de risco para a doença. Esse elemento é especialmente importante para populações heterogêneas, que vivenciaram intensos fluxos migratórios, como alguns países latino-americanos – a exemplo de Argentina, Brasil e Colômbia.
No Brasil, a análise dos óbitos por melanoma entre os anos 2000 e 2023 indica uma tendência crescente no número de mortes, com um aumento substancial a partir de 2015. Além disso, dados do Cancer Tomorrow, ferramenta da Agência Internacional para Pesquisa do Câncer (IARC), sugerem que as mortes anuais por melanoma no Brasil poderão saltar de 2,2 mil (em 2020), para 4 mil (em 2040), um aumento de 80% no comparativo entre os dois anos.
Ter cabelos loiros ou ruivos, pele clara e olhos claros são algumas das características físicas associadas ao risco aumentado de desenvolver melanoma, bem como apresentar sardas ou um número elevado de pintas. Na Argentina, por exemplo, regiões com elevada prevalência de pessoas com pele clara, tais como Buenos Aires, apresentam taxas de mortalidade por melanoma muito superiores às encontradas em províncias como Salta e Tucumán, nas quais predominam pessoas de ascendência indígena. No Brasil, da mesma forma, a incidência da doença é maior em habitantes da região Sul com ascendência europeia, na comparação com moradores de outras partes do País.
Variável – Apresentar um histórico individual ou familiar de melanoma é outra variável relevante na avaliação de risco para a doença. Contudo, apesar da influência de fatores genéticos e físicos, cerca de 75% dos casos de melanoma em todo o mundo são atribuídos à exposição inadequada aos raios ultravioletas. Uma vez que os danos provocados pela radiação solar são cumulativos. A idade avançada também constitui um fator de risco para o tumor. O envelhecimento populacional, por sua vez, vem avançando na América Latina – a expectativa de vida para ambos os sexos na região passou de 48,6 anos (em 1950) para 75,1 anos (em 2019), podendo alcançar os 77,2 anos em 2038.
“Os latino-americanos são frequentemente expostos à radiação ultravioleta em função do clima tropical, da alta altitude e da redução da camada de ozônio em algumas regiões. O tema também tem a ver com questões culturais, uma vez que a pele bronzeada pode ser percebida como sinônimo de beleza e saúde em alguns países. Por isso, o trabalho de conscientização sobre o melanoma é fundamental”, afirma a diretora médica da Pfizer no Brasil, Adriana Ribeiro.
Fatores ambientais – Em termos geográficos, vale ressaltar que muitas áreas populosas na América Latina se localizam em regiões de altitude elevada, mais expostas à radiação ultravioleta – esse é o caso de La Paz, na Bolívia. No México, áreas como o estado de Zacatecas se estendem pelo Trópico de Câncer e têm altitudes elevadas, com intensa exposição solar.
As mudanças ambientais das últimas décadas também vêm sendo analisadas no contexto do melanoma, especialmente os danos na camada de ozônio. Estudos apontam maior incidência de melanoma entre as populações que vivem sob o buraco na camada de ozônio localizado no sul do Chile e do Brasil, na comparação com moradores de regiões que não enfrentam essa situação.
Também a Colômbia, localizada perto da linha do Equador, experimenta elevados níveis de radiação ultravioleta, especialmente ao meio-dia, com várias áreas do território classificadas como regiões de exposição muito alta aos raios ultravioleta. Vale destacar que o país também apresenta uma população heterogênea, em que 20% dos habitantes têm ascendência europeia.
Importância do diagnóstico precoce – A velocidade na identificação do melanoma faz diferença no prognóstico do paciente. A taxa de sobrevida em cinco anos passa de 99% nos casos diagnosticados precocemente, com a doença em fase inicial, mas essa porcentagem é de 35% quando a detecção ocorre no estágio mais avançado, em que há metástases para órgãos distantes. Taxas menores de sobrevivência ao melanoma vêm sendo observadas em pacientes que residem em áreas de baixa renda, situação socioeconômica que também engloba uma parcela considerável da população latina.
Visitas frequentes ao médico aumentam a probabilidade de diagnosticar o melanoma em estágio inicial, o que ainda constitui um desafio em muitos países da América Latina. Na Colômbia, um amplo estudo analisando a população mista da região andina identificou um tempo médio de 243,5 dias entre a detecção da lesão associada ao melanoma e a avaliação do dermatologista, com o diagnóstico tardio predominando em mulheres, com idade superior a 65 anos, residentes da área rural. No Brasil, uma pesquisa analisando 29 mil casos da doença registrados ao longo de 15 anos apontou que 46% dos pacientes tinham sido diagnosticados nos estágios III e IV do tumor, que são os mais avançados.
“Um dos caminhos para estimular o diagnóstico precoce do melanoma é educar a população para a realização do autoexame mensal da pele, à procura de pintas corporais suspeitas. O melanoma costuma se manifestar por meio de lesões pigmentadas e maiores, geralmente assimétricas, com bordas irregulares e múltiplas cores”, afirma Adriana Ribeiro. “Essa análise é importante, mas não substitui a avaliação médica. Ao notar lesões suspeitas, é preciso procurar o dermatologista para exames específicos. O tratamento varia de acordo com o estágio da doença, mas é importante saber que a ciência vem avançando fortemente no combate à doença”, complementa.
Regra ABCDE: identificando pintas suspeitas
- Assimetria: imagine uma divisão no meio da pinta e verifique se os dois lados são iguais (caso contrário, vale investigar a fundo)
- Bordas irregulares: pintas dentadas, chanfradas, com sulcos
- Cores diferentes: a coloração não é a mesma em toda a pinta, há diferentes tons de marrom, preto e, às vezes, azul, vermelho ou branco
- Diâmetro: é importante analisar se a pinta ou mancha está crescendo progressivamente ou se é maior que 5 mm (0,5 cm)
- Evolução suspeita: mudanças na aparência da pinta ou crescimento rápido são sinais de alerta