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O impacto invisível das LER/DORT na saúde mental do brasileiro

Segundo a OMS, dor crônica, como a causada por LER/DORT, quadruplica o risco de depressão e ansiedade

Foto: Divulgação

Imagine sentir uma dor constante nos punhos ou ombros, a ponto de tarefas simples como digitar ou levantar uma xícara se tornarem insuportáveis. Agora, imagine que, além do desconforto físico, a condição dobra suas chances de desenvolver depressão ou ansiedade. Esse é o impacto das Lesões por Esforço Repetitivo (LER) e dos Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (DORT), que afetam milhares de brasileiros e estão longe de ser apenas um incômodo passageiro.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde, pessoas que convivem com dor crônica têm quatro vezes mais chances de desenvolver depressão e o dobro de probabilidade de enfrentar dificuldades no trabalho. No Brasil, os números são alarmantes: entre os anos 2018 e 2023, mais de 46 mil casos de LER/DORT foram registrados, com um aumento expressivo no último ano, segundo dados do DATASUS.

A terapeuta ocupacional Syomara Cristina Szmidziuk, de Curitiba/ PR, que há mais de 30 anos atua na reabilitação de pacientes com lesões neuromotoras, alerta para a importância do diagnóstico precoce e da abordagem integral no tratamento dessas condições. “Não se trata apenas de aliviar a dor. É preciso entender que essas lesões comprometem a autonomia do paciente e afetam diretamente sua saúde mental. A reabilitação precisa considerar corpo e mente para ser eficaz”, explica, lembrando que a dor crônica também pode afetar o sono, aumentar os níveis de estresse e contribuir para a depressão. Segundo matéria  publicada pelo Ochsner Journal, cerca de 35% a 45% das pessoas com dor crônica podem estar sofrendo de depressão.

Condições inadequadas – As síndromes conhecidas como LER ou DORT afetam os músculos, esqueleto e nervoso. A maioria dos casos é causada por condições de trabalho inadequadas ou agravadas por elas. Entre os distúrbios mais comuns estão a tenossinovite e a tendinite, que provocam inflamação nos tendões; a epicondilite, conhecida como cotovelo de tenista, que inflama músculos e tendões do cotovelo; e a bursite, que atinge pequenas bolsas de líquido responsáveis por reduzir o atrito entre músculos, tendões e ossos. Também se destacam a síndrome do túnel do carpo, causada pela compressão de um nervo no punho, e a doença De Quervain, que provoca inflamação nos tendões do polegar.

A relação entre o ambiente de trabalho e o agravamento dessas condições também é evidente. Jornadas exaustivas, cobrança excessiva por produtividade, falta de reconhecimento e até situações de assédio moral agravam o quadro. “Em muitos casos, os profissionais têm de encarar a incredulidade de colegas e chefes, já que a dor é algo muito subjetivo e difícil de ser comprovado. Isso gera frustração e isolamento,” comenta Syomara.

A terapeuta ressalta que é necessário também ter cautela com movimentos repetitivos fora do ambiente profissional. Falta de postura ou ergonomia nas horas de lazer – como o uso excessivo de celulares, computadores ou controles de videogames – pode agravar casos de LER/DORT. O mesmo acontece em outras atividades rotineiras, como carregar sacolas de compra de forma inadequada, elevar pesos excessivos ou fazer tricô por muitas horas.

Prevenção da Ler/Dort – A prevenção passa por adaptações ergonômicas no ambiente profissional e mudanças na rotina. Ajustes simples, como cadeiras e mesas na altura correta, uso de equipamentos ergonômicos e pausas regulares para alongamentos, reduzem a sobrecarga muscular. Alternar tarefas que exigem diferentes grupos musculares também é fundamental para evitar esforços repetitivos.

Além das medidas físicas, a conscientização sobre ergonomia e o cuidado com o estresse no ambiente de trabalho são essenciais. Programas de orientação e um ambiente que valorize o bem-estar ajudam a identificar sintomas precoces, além de prevenir o agravamento das condições. Atividades físicas regulares e posturas adequadas completam o ciclo de prevenção, o que garante mais saúde e produtividade aos trabalhadores.

A terapeuta ocupacional acredita na importância de um olhar integral para o paciente, atuando na recuperação da funcionalidade e na redução da dor. Esse trabalho avalia as limitações do paciente nas atividades diárias e profissionais, desenvolvendo estratégias que incluem exercícios de fortalecimento e alongamento, técnicas de relaxamento e orientações sobre posturas corretas. O tratamento também engloba educação sobre ergonomia e suporte emocional, o que ajuda a evitar recaídas, promovendo qualidade de vida.

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