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Violência contra idosos: sinais de alerta

Muitas vezes, silenciosa e cometida por pessoas próximas, a violência contra o idoso pode ser física e/ou emocional. Por isso, profissionais da saúde e comunidade devem ficar atentos aos sinais

Foto: Pexels/Divulgação

No  dia 15 de junho, o mundo voltou seus olhos para um tema urgente e muitas vezes silenciado: a violência contra a pessoa idosa. A data, instituída pela Organização das Nações Unidas (ONU), busca conscientizar a sociedade sobre os abusos sofridos por pessoas com mais de 60 anos, frequentemente dentro de seus próprios lares.

Para a professora Mariane Barbosa, enfermeira e docente do curso de Enfermagem da Una Itumbiara/MG, é preciso quebrar o ciclo de invisibilidade que ainda envolve o envelhecimento. “A violência contra o idoso é, muitas vezes, silenciosa e cometida por pessoas próximas, como familiares e cuidadores. Por isso, o olhar atento dos profissionais de saúde e da comunidade é fundamental para romper o silêncio e garantir proteção”, alerta.

Tipos de violência mais frequentes – Na prática da enfermagem, Barbosa destaca que os casos mais comuns são de negligência, quando o idoso não recebe cuidados básicos, como alimentação adequada, higiene, administração de medicamentos e proteção contra o frio ou calor. Também são recorrentes os casos de violência psicológica, com ameaças, humilhações e isolamento, bem como violência patrimonial ou financeira, em que os bens e recursos da pessoa idosa são usados sem consentimento.

Outros tipos, como agressões físicas, abuso sexual, abandono, discriminação por idade e maus-tratos em instituições de longa permanência, também compõem o cenário de violações. “Cada tipo de violência traz impactos profundos na saúde física e emocional do idoso. Por isso, a escuta qualificada é essencial para o acolhimento e encaminhamento adequado”, explica a docente.

Sinais de alerta – Identificar que algo está errado nem sempre é fácil, já que muitos idosos têm medo de denunciar por vergonha ou por tentarem proteger seus familiares. No entanto, Barbosa ressalta alguns sinais que podem indicar maus-tratos: lesões físicas sem explicação, alterações no comportamento, ansiedade, depressão, retraimento social, desnutrição, falta de higiene e interrupções no uso de medicamentos.

O papel de cuidar e escutar – A enfermagem tem papel estratégico nesse processo. “O profissional de enfermagem atua na linha de frente do cuidado. Por isso, é quem muitas vezes identifica os primeiros indícios de violência, faz a escuta acolhedora, registra a ocorrência e encaminha o caso aos órgãos responsáveis. Essa atuação integrada é essencial para romper o ciclo de violação”, reforça.

A professora lembra que familiares e cuidadores devem ser orientados para oferecer um cuidado respeitoso e seguro. “O idoso precisa sentir que pode confiar. Quando encontra um espaço seguro para se expressar, as chances de relatar abusos aumentam, e a rede de proteção pode ser acionada”, afirma Barbosa, enfatizando ainda que o cuidado não pode ser solitário, sendo importante adaptar rotinas e amparar também quem cuida.

Desafios e caminhos possíveis – Apesar da existência de leis que garantem os direitos da pessoa idosa — como o Estatuto da Pessoa Idosa (Lei nº 10.741/2003) e a obrigatoriedade da notificação de casos suspeitos (Lei nº 12.461/2011) —, os principais desafios enfrentados pelos profissionais são “falta de tempo nas visitas domiciliares, pouco apoio das famílias, dificuldade de articulação com a rede de proteção e a resistência do próprio idoso em denunciar. Tudo isso dificulta o enfrentamento”, destaca.

Além dos profissionais de saúde, toda a sociedade tem um papel importante no combate à violência contra a pessoa idosa. Barbosa sugere “promover o respeito às diferenças geracionais, incentivar o convívio intergeracional, denunciar abusos e apoiar políticas públicas e redes de apoio comunitário. É dever de todos proteger quem já cuidou de nós”.

Casos suspeitos podem ser denunciados pelo Disque 100, pelo aplicativo Direitos Humanos Brasil, pelo 181 da Polícia Civil ou nas Unidades Básicas de Saúde e delegacias locais.

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