Como o excesso de tela impacta na linguagem e na educação
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Uso indiscriminado desses dispositivos pode prejudicar o desenvolvimento infantil e escolar.
Foto: Pixabay
Crianças que passam horas diante das telas têm menos tempo para interagir, brincar e explorar o mundo à sua volta – atividades essenciais para o desenvolvimento da linguagem, das habilidades sociais e, até mesmo, do desempenho escolar. Desde os primeiros meses de vida, o excesso de estímulos digitais pode interferir na construção dos “mapas cerebrais” de sons e palavras, além de prejudicar a qualidade das interrelações, tão importantes para o desenvolvimento socioemocional da criança. Em idades mais avançadas, afeta a capacidade de concentração e aprendizado. Esses efeitos preocupantes reforçam a importância de limites claros no uso da tecnologia, tanto em casa quanto na escola.
Esse tema ganha ainda mais relevância neste período de volta às aulas atrelado à recente sanção da lei federal que proíbe celulares em escolas, salvo para fins pedagógicos ou de segurança. A medida, alinhada a práticas adotadas em países como França, Canadá e México, busca conter os impactos negativos do uso excessivo de dispositivos no ambiente escolar. A partir deste ano letivo de 2025, esses dispositivos – telefones, tablets e smartphones, estarão proibidos em aulas, recreios e atividades extracurriculares, exceto em situações de emergência ou questões de saúde.
Para a coordenadora do Departamento de Foniatria da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial – ABORL-CCF, Dra. Vanessa Magosso Franchi, de São Paulo/SP, a regulamentação da lei é um passo relevante para proteger o desenvolvimento infantil. “A decisão é positiva, pois ajuda a minimizar os impactos negativos do uso excessivo de telas no ambiente escolar. Mas o papel dos pais e responsáveis é essencial nesse processo”, reforça.
Segundo a especialista, é em casa que as bases do desenvolvimento linguístico e cognitivo são construídas, com estímulos como, conversas, leituras e brincadeiras. “Esses momentos de interação são insubstituíveis e fundamentais nos primeiros anos de vida”, observa.
Ponto crítico – Para a médica otorrinolaringologista Mônica Elisabeth Simons Guerra, foniatra do Departamento de Foniatria da Aborl, a relação entre telas e atraso na fala. Segundo informa, crianças pequenas possuem sistemas auditivos imaturos e precisam de um ambiente sonoro claro para associar palavras aos seus significados. “Televisões ou aparelhos constantemente ligados criam ruídos de fundo que dificultam esse processo. Nesse sentido, se a criança não consegue ouvir claramente o som da fala, ela pode ter dificuldade em construir o vocabulário e apresentar atrasos significativos na linguagem”, enfatiza.
A questão também se reflete em crianças e adolescentes em idade escolar, que enfrentam desafios adicionais como, a distração, dificuldades de concentração e redução no desempenho acadêmico. Em casos mais graves, o uso excessivo de dispositivos pode impactar o sono, o equilíbrio emocional e as relações sociais, além de ser um gatilho para transtornos como ansiedade e isolamento.
Para evitar esses impactos, especialistas do Departamento de Foniatria da ABORL-CCF, a partir de uma norma técnica publicada no site da instituição, recomendam limites no uso de telas em diferentes fases da infância:
- Até 2 anos – Evitar totalmente o uso;
- De 2 a 6 anos – Limitar a 1 hora diária, priorizando atividades que envolvam interação com familiares ou cuidadores;
- Acima de 6 anos e adolescentes – Estabelecer equilíbrio com atividades físicas, sociais e educacionais.
A tecnologia pode ser uma aliada quando usada de forma consciente, afirma a especialista. É essencial, afirma, “que pais e educadores promovam momentos de interação e aprendizado longe das telas, ajudando as crianças a desenvolverem não apenas habilidades acadêmicas, mas, também, sociais e emocionais, que serão fundamentais para o futuro”.