Sociedade Brasileira de Geriatria aponta práticas essenciais para manter independência e bem-estar na longevidade

“A longevidade não depende apenas de se evitar doenças, mas sim de preservar a funcionalidade, a autonomia e a qualidade de vida”, alerta geriatra
Foto: Imagem de Aristal Branson por Pixabay
O Dia Nacional e Internacional da Pessoa Idosa, celebrado em 1º de outubro, foi criado para conscientizar a sociedade sobre as questões do envelhecimento, a importância de proteger e cuidar da população idosa e garantir os direitos e participação plena na sociedade. Hoje, no Brasil, existem mais de 33 milhões de pessoas com mais de 60 anos. Para as próximas décadas, a projeção do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) é que a expectativa de vida chegue a 77,8 anos em 2030; a 79,7 anos em 2040; a 81,3 anos em 2050; a 82,7 anos em 2060 e a 83,9 anos em 2070.
Segundo especialistas, o aumento da longevidade é consequência de uma série de fatores, como a melhoria na alimentação, a prática de exercícios físicos e os avanços da medicina. Em 2070, espera-se que 37,8% dos habitantes do país sejam idosos, mais do que o dobro de hoje.
De acordo com o geriatra e presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), Dr. Leonardo Oliva, a longevidade não depende apenas de se evitar doenças, mas de preservar a funcionalidade, a autonomia e a qualidade de vida. Ele explica que os principais cuidados que a população 60+ deve ter com a saúde incluem manter um acompanhamento médico regular e tratar possíveis doenças crônicas, manter uma atividade física regular, cuidar da nutrição e do sono, cuidar da saúde mental, controlar o estresse, não beber e não fumar e manter vínculos sociais.
“O aumento da expectativa de vida se dá por uma combinação de fatores que incluem desde a melhoria das condições sanitárias, avanços na medicina, especialmente relacionados às vacinas, antibióticos, controle de doenças cardiovasculares, controle e tratamento dos cânceres e maior conscientização sobre estilo de vida saudável”, analisa o Dr. Leonardo, ao revelar que esse aumento da expectativa de vida no Brasil provocou um envelhecimento populacional acelerado, dobrando a população idosa de 7% para 14% em pouco mais de duas décadas.
Quando procurar um geriatra? – A idade certa para se procurar um geriatra é quando a pessoa decide que quer envelhecer bem, afirma o presidente da SBGG. Segundo ele, não existe um marco etário para iniciar o acompanhamento geriátrico, mas muitas pessoas imaginam que só podem ir ao geriatra após os 60 anos, o que não é verdade.
O geriatra, acrescenta, tem um papel importante na saúde dos indivíduos mais jovens. “Começamos a envelhecer por volta dos 30, 35 anos e para essa população este profissional acaba ajudando a tomar decisões ao longo da vida, que influenciarão como essas pessoas chegarão à terceira idade”.
Conforme destaca, aproximadamente 20% de como a pessoa envelhecerá está relacionada com a parte genética; outros 20% – pelo ambiente em que se vive; e os outros 60% – pelas escolhas tomadas com o auxílio do geriatra.
“É importante entendermos que o envelhecimento é um processo heterogêneo. As pessoas envelhecem de maneira diferente e não existe um ‘pacote fixo’ de exames que devem ser realizados por todos. Existem os mais comuns e os chamados de rotina, a cada um ou dois anos, a depender da idade e das condições clínicas do paciente e do histórico familiar, que são importantes do ponto de vista da saúde cardiovascular e na detecção precoce de cânceres.” No entanto, para se ter uma longevidade bem-sucedida, é necessário um acompanhamento de outros profissionais da área da saúde, especialistas em gerontologia, como fisioterapeutas, nutricionistas, fonoaudiólogos, psicólogos, terapeutas ocupacionais, entre outros, cabendo ao geriatra o gerenciamento e a coordenação desses cuidados.
Trabalho em conjunto – A parte nutricional merece destaque especial. Afinal, o alimento tem um papel importante na longevidade. Para se ter uma vida mais longeva, é preciso atenção. A nutricionista especialista em gerontologia e membro do conselho consultivo da SBGG, Dra. Simone Fiebrantz Pinto, explica que a hidratação é fundamental, mas que muitas vezes acaba sendo “esquecida”, o que não é o correto, segundo ela, já que não se pode esperar a sensação de sede para beber água, o que é difícil do idoso sentir.
De acordo com a nutricionista, “existe uma conta para se chegar à hidratação correta. São 30 mililitros multiplicados pelo peso da pessoa. Por exemplo, se ela pesa 75 quilos, precisa ingerir, ao longo do dia, dois litros e duzentos e cinquenta mililitros de líquidos, que podem ser água pura, água com gás, água saborizada com folhas de hortelã ou lascas de frutas, e chás”.
Os alimentos mais recomendados são as proteínas animais (carnes, leite, ovos e peixes) e vegetais (leguminosas). Elas podem ser distribuídas em todas as refeições, pensando em 30 gramas de proteína por porção. “Importante ressaltar que as proteínas precisam ser de 1,2 grama a 1,5 grama por quilo de peso. Assim, essa pessoa de 75 quilos, precisa consumir entre 90 gramas e 112 gramas por dia”, orienta.
Para imunidade e garantir o melhor funcionamento do intestino, a nutricionista indica o consumo de 350 gramas a 500 gramas por dia entre frutas e legumes, além de consumir 30 gramas de sementes oleaginosas (nozes, castanhas, amendoim) também diariamente. “Comer bem é ter proteínas em todas as refeições, tendo uma boa variedade de alimentos no dia a dia, com a consistência estar adequada para cada necessidade. Quando este consumo não está sendo atingido, podemos incluir suplementos. Mas o grande erro é usá-los por autoprescrição. Consultar um profissional é fundamental”, alerta.
Pilares da longevidade – A fisioterapeuta e presidente do Departamento de Gerontologia da SBGG, Dra. Isabela Azevedo Trindade, explica que a longevidade depende de três pilares principais: manter-se fisicamente ativo; preservar vínculos sociais e cuidar da saúde. Dentre as atividades físicas mais indicadas, ela cita a musculação, a caminhada, a hidroginástica, o pilates, o alongamento e os exercícios de equilíbrio. “O ideal é combinar atividades aeróbicas, de força e de flexibilidade, com prática de três a cinco vezes por semana, sempre com orientação profissional para evitar lesões.”
A pessoa idosa deve se atentar para possíveis acidentes dentro e fora de casa. De acordo com Dra. Isabela, os maiores riscos estão relacionados a quedas. “Dentro de casa, geralmente, a queda é provocada por tapetes soltos, má iluminação e ausência de barras de apoio. Já no lado de fora, o problema está relacionado a irregularidades no piso, trânsito e aglomerações”. Nesse sentido, orienta, pessoa idosa deve utilizar, se necessário, uma bengala ou andador para facilitar a locomoção, assim como ter a visão e a audição avaliadas regularmente, bem como utilizar roupas confortáveis, que não limitem os movimentos, e sapatos fechados, antiderrapantes e firmes. “Interromper a prática de atividades físicas, automedicar-se, resistir a adaptações na casa e acreditar que envelhecer significa se isolar são os principais erros que a pessoa idosa costuma cometer”, afirma.
Atenção à saúde mental – Manejo do estresse, fortalecimento da autoestima e do sentimento de autoeficácia, por meio do aprendizado de coisas novas, manter vínculos de amizades, criar novas relações sociais e ter propósitos de vida, por exemplo, são também fundamentais para longevidade.
De acordo com a psicóloga Cecília Galetti, especialista em gerontologia e membro da diretoria da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia – Seccional Paraná, não cultivar as amizades ao longo da vida, não manter vínculos positivos com a família e não ter atividades de lazer são os principais erros cometidos, que prejudicam a saúde mental. “A família da pessoa idosa tem um papel importante nesse processo, mantendo uma dinâmica que gere o senso de pertencimento, valorização e reconhecimento do seu papel dentro da família, tratando esse idoso conforme suas capacidades, não como incapaz, bem como não infantilizá-lo”, explica, ao citar o idadismo, a desqualificação e a desvalorização da pessoa como as principais ameaças à saúde mental da população 60+.