Exemplos de superação acalentam nossa alma e nos dão força e esperança: a história de Leandro Cardoso (Leo) é um desses exemplos.
Leandro Cardoso (Leo) e Dona Iolanda Gontijo Cardoso (mãe dele) vivem em Belo Horizonte
Certas dificuldades e privações muitas vezes nos chegam como provas de superação que somente o amor nos dá força para passar nos testes. Temos inúmeros exemplos, principalmente relacionados à saúde. O anúncio de uma gravidez sempre é motivo de grande alegria, mas que pode trazer também apreensão diante do inesperado da vida.
Iolanda e Leandro Cardoso (Leo) são exemplos de resistência, de superação e do que o amor é capaz.
Leo nasceu com 30 semanas de gestação, quando o normal são 40 semanas. “Desde então, foi uma luta enorme para ele sobreviver”, relembra Dona Iolanda Cardoso, ao contar que seu filho ficou 30 dias na UTI neonatal e, depois, mais 30 dias, no Berçário. Durante esse período, teve septicemia hospitalar. Com oito dias de vida havia perdido um terço do peso, “o que nem preciso falar que já era mínimo – ele nasceu com 1,5k. Em função dessa septicemia e dos antibióticos que tomou, ficou surdo. Foi desentoado antes da hora e, consequentemente, teve uma paralisia cerebral, cuja perspectiva era dele não mais sair de uma cama; “o que nunca acreditei”, destaca. “Então, logo no início, comecei a questionar os médicos a respeito da fisioterapia e eles me falavam para ter calma e que ele seria encaminhado para este tratamento no tempo certo, o que só aconteceu aos nove meses de vida”. Hoje, o paciente com sequelas da paralisia cerebral é encaminhado para a fisioterapia com45 dias de nascido. “Daí, dá para ver o tempo que nós perdemos nesse período em que ele ficou sem este tratamento”, lamenta Dona Iolanda.
Mas, graças a Deus, Leo sobreviveu e, contra todas as perspectivas médicas, ele conseguiu dar seus primeiros passos e a caminhar aos cinco anos de idade. Para isto, seus dias foram extensos em tratamentos e em muitos exercícios que exigiam dele muita coragem, disciplina, persistência e resiliência, e mais, ao trabalho amoroso dos pais, que sempre o incentivaram e estiveram ao lado dele. Mas isso não eliminou o fato de não precisar mais fazer mais os exercícios fisioterápicos, pelo contrário, ele continuou a fazer fisioterapia e fonoaudiologia até completar 18 anos. Um processo árduo, difícil, cheio de cuidados, atenção e de muito amor, base para a formação do caráter do Leo. Uma criança que sobreviveu a um parto prematuro, cresceu e se tornou admirável como pessoa, como ser humano e como exemplo de superação.
Além do dia a dia extenso em tratamentos, exercícios contínuos, Leo teve que enfrentar momentos difíceis diariamente para “vencer” a paralisia e poder sair da cama e se movimentar. Para melhorar mais ainda, precisava fazer uma cirurgia no pé, que foi feita aos 20 anos. Em função de sequelas da paralisia cerebral, sua marcha ficou muito comprometida, mas que poderia ser melhorada através de um procedimento cirúrgico.
“Mas eu dei um salto aqui”, destaca Dona Iolanda, voltando o tempo quando Leandro começou a caminhar. Foi aos 5 anos de idade. Na época, foi uma surpresa muito grande tal o comprometimento dele. Mas, graças a Deus, ele sempre teve muita vontade de melhorar e nós também nunca desistimos, tanto eu quanto Olavo – pai do Leo, sempre nos empenhamos muito. A gente procurou tratamento fora – eu ia a São Paulo sempre com o meu filho de seis em seis meses. Os profissionais daqui aceitaram muito bem as orientações dos de lá, e isso nos adiantou muito.
Com 18 anos, ele estava ficando impaciente, já estava bem, a gente parou com a fisioterapia. Naquela época, então, ele passou a fazer equoterapia por dois anos, o que foi muito bom. Foi quando ele teve um estirão. Na verdade, um pouco mais tarde do que dos outros meninos. Ele estava ficando sem equilíbrio e a equoterapia foi muito boa. Deu a ele muito equilíbrio. Depois disso, ele parou e a gente ficou esses anos todos achando que estava tudo bem.
Agora, com a pandemia, ou melhor, antes da pandemia ele já estava sentindo muita dor na coluna. Procuramos o ortopedista e ele o encaminhou para a fisioterapia e, depois que melhorou, para o pilates.
Com o isolamento social, nós paramos com tudo e ele voltou a sofrer terrivelmente com problemas na coluna. Foi uma luta atroz, mas graças a Deus, agora ele está bem melhor. Voltou para a fisioterapia e está muito bom.
Leo, hoje com 35 anos, é um rapaz muito bem relacionado. É bem humorado e tem muitos amigos – 90% surdos, mas ele tem amigos ouvintes também. De modo geral, ele é muito querido. Antes de começar esse problema que estamos vivendo (a pandemia), Leo tinha uma vida intensa, frequentava muita festa, muita reunião, gostava de ir para bar… um moço normal. Realmente, quanto a relacionamento, ele não tem muita diferença, não. Na família, ele é muito bem aceito, muito querido. A família é grande e todos têm muito carinho e muita atenção por ele.
Leo tem uma irmã e um cunhado que o amam de coração, que moram em São Paulo, onde sempre ia vê-los. Ele tem um passe que não paga ônibus. Assim, sempre que podia ia a São Paulo ver a irmã e o cunhado. Agora, com a pandemia, não vai mais, mas eles sempre se falam no face book. Estão sempre em contato.
Meu filho é muito esforçado. Ele vai colocar grau agora, em abril. Ele fez curso de Letras em Libras numa fundação federal, em Corinto. Foi fácil? não foi, mas ele teve muita ajuda de colegas, que são também surdos, mais velhos, têm mais vivência. Leo se esforçou muito para fazer este curso e tem a maior alegria ao concluí-lo. Ele quer ser professor de libras e “eu tenho certeza que ainda vai conseguir”, destaca Dona Iolanda, ao lembrar que ele já deu aulas por dois períodos, ano passado, na Uni-BH, e, em 2021, em março, ia começar a dar aulas na PUC, quando tudo foi suspenso por causa da pandemia. Há seis anos passou também no concurso da Copasa que, infelizmente, foi anulado. Depois, em função de dificuldades com a saúde, quando saiu novo edital, não pode se inscrever. Ele trabalha há 11 anos no Detran-MG.
O amor que Dona Iolanda e Olavo têm pelo filho brilha em todas as suas falas, gestos e atenções. “Posso falar horas sobre ele. Leo tem inúmeras qualidades, mas a que mais admiro é a sua força de vontade de superar as dificuldades. E não foram e nem são poucas, como podem imaginar, mas ele não desiste das coisas que quer. Está sempre lutando para superar suas limitações físicas e para conseguir um trabalho que lhe dê uma rentabilidade melhor. Manda currículo, vai às entrevistas, mas, infelizmente, o que as empresas querem são pessoas normais (sem deficiência), ou que têm uma deficiência muito moderada, o que não é o caso do meu filho. Mesmo assim, ele não desiste, continua na luta. Eu o amo profundamente!”, conclui.