Mesmo após a fase crítica da pandemia, o estresse continua tirando o sono dos brasileiros
Dra. Erika Treptow: “é importante identificar corretamente o fator estressor e ver se há mudanças quando este não está presente”
Embora o período mais crítico da pandemia tenha passado, o estresse continua tirando o sono dos brasileiros. Situações estressantes são capazes de encurtar o sono, resultando na síndrome do sono insuficiente, quando se dorme menos do que o esperado para a idade. Também podem causar despertares frequentes, sensação de sono não reparador e o desenvolvimento ou piora da insônia. Os distúrbios de movimento associados ao sono, como a síndrome das pernas inquietas e o bruxismo, também podem se agravar com o estresse. “Em 2020, acreditávamos que a vacinação acabaria com a Covid-19. Mas o surgimento das variantes tornou-se um fator estressor, porque sinalizou que teremos muito tempo pela frente até nos livrarmos da crise sanitária”, afirma a médica Erika Treptow, pesquisadora do Instituto do Sono/São Paulo-SP.
O estresse é uma resposta física do organismo a um estímulo, que ocorre frente a um perigo ou ameaça. Os distúrbios de sono e essa reação orgânica mantêm, entre si, uma relação bilateral. O estresse crônico, principalmente quando acarreta ansiedade, piora o padrão de sono. Como um círculo vicioso, as noites mal dormidas são fatores potenciais para exacerbar o estresse.
Um estudo alemão demonstrou que as mulheres apresentaram maiores níveis de estresse e medo frente à covid-19 do que os homens, prejudicando a qualidade de sono. O trabalho científico foi realizado em 2020 e publicado em abril passado. Ao analisar 991 adultos, os pesquisadores constataram que os solteiros, viúvos e divorciados dormiam pior do que aqueles que tinham algum tipo de relacionamento afetivo. Outros estudos já apontaram que, em tempos difíceis, o suporte social é um elemento importante para a manutenção da qualidade de sono.
No Brasil, uma pesquisa do Instituto do Sono avaliou mais de 1.600 participantes, mostrando que 55,1% apresentaram piora do padrão de sono durante a pandemia, principalmente, por causa do aumento das preocupações. A dificuldade em dormir foi provocada também pelo medo de adoecimento, a mudança da rotina, a insegurança financeira e a distância da família e amigos.
Mas como saber se o estresse é o grande vilão do sono? A resposta não é fácil porque nem sempre é possível definir se a situação de estresse é o principal determinante dos distúrbios de sono. “Nesses casos, é importante identificar corretamente o fator estressor e ver se há mudanças quando este não está presente. Por exemplo, se o trabalho está causando o estresse, é fundamental avaliar o padrão de sono nas férias, ou aos finais de semana, e ver se há melhora dos sintomas”, observa Erika Treptow.
Sono e estresse – Em situações de estresse, ocorre a ativação do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal, que promove a integração entre o sistema nervoso central e o organismo. Essa ativação libera substâncias capazes de estimular a produção de hormônios, como o cortisol e a adrenalina, que aumentam o ritmo cardíaco e a pressão sanguínea, tensionam os músculos e promovem um estado de hiper alerta que pode contribuir para o desenvolvimento de insônia.
Quando há suspeita de que o estresse seja o responsável por noites mal dormidas, o melhor é procurar um médico especialista em Medicina de Sono ou psicólogo certificado nesta especialidade para auxiliar no reconhecimento e manejo dos distúrbios de sono. A médica Erika Treptow afirma que existem estratégias capazes de reduzir os níveis de estresse e melhorar a qualidade de sono. Confira:
1) Não leve o estresse para o quarto – o ambiente do quarto deve ser agradável e confortável para permitir uma boa noite de sono. Não utilize a cama para estudar ou trabalhar. Da mesma forma, evite situações que podem desencadear raiva ou tristeza, como discussões perto do horário de dormir.
2) Pratique atividades relaxantes no período noturno – o controle da respiração e as técnicas de relaxamento são grandes aliados para garantir o descanso.
3) Esvazie a mente antes de dormir – preocupações com compromissos podem impactar seu sono. Certifique-se de escrever numa agenda suas tarefas, planejar seus horários e estabelecer prioridades. Desta maneira, é possível “esvaziar a mente” antes de dormir.
4) Mantenha uma rotina – a regularidade dos horários de dormir e acordar, do consumo dos alimentos e da prática de exercícios é fundamental para manter um bom funcionamento do organismo.