Novembro Azul: câncer de próstata, diagnóstico precoce aumenta as chances de cura da doença
O urologista Ailton Faion: “a cada ano, temos conseguido difundir mais a importância de que todo homem, a partir de uma determinada idade, faça seu controle”
O câncer de próstata é uma grande preocupação dos homens, principalmente à medida que a idade avança. E isso se justifica, pois, segundo dados do Instituto Nacional do câncer (INCA), entre os anos de 2020 a 2022, o Brasil poderá ter 625 mil novos casos de câncer. Para cada ano de 2020 a 2022, a principal incidência será de câncer de pele não melanoma, com 177 mil casos, seguido de 66 mil casos de câncer de mama e câncer de próstata, cada, aponta o estudo. Daí a importância da campanha Novembro Azul, responsável pela conscientização do câncer de próstata, que surgiu no ano de 1999 na Austrália, com um grupo de amigos que decidiram deixar o bigode crescer, com o objetivo de chamar a atenção para a saúde masculina.
Para falar sobre a iniciativa da campanha, a importância do diagnóstico precoce, exames e tratamento, entre outros aspectos, o Portal Medicina e Saúde entrevistou o médico urologista Ailton Faion, membro titular da Sociedade Brasileira de Urologia, membro efetivo do Colégio Brasileiro de Cirurgiões e Diretor Clinico do Urológica Hospital, de Belo Horizonte/MG.
Dr Ailton, como o senhor avalia a campanha Novembro Azul?
Ter um mês específico, onde todas as mídias lembrem de informar à sociedade sobre os cuidados com alguma doença específica, seja depressão, autoextermínio, câncer de mama ou de próstata, é de vital importância para aumentarmos o conhecimento e o engajamento do público para esse assunto. É aquela máxima de que “água mole em pedra dura, tanto bate até que fura!” Desde 1999, por iniciativa de um grupo de amigos australianos que tinham perdido um amigo com câncer de próstata, o mês de novembro é dedicado a essa causa. Desde então, a cada ano, mais temos conseguido difundir a importância de que todo homem, a partir de uma determinada idade, faça seu controle. Isso não quer dizer que ele não vai ter a doença, que é geneticamente condicionada, porém, quanto mais cedo ela for diagnosticada, mais eficiente serão as opções e formas de tratamento, principalmente em uma doença que não dá sintomas em suas fases iniciais, quando o controle é mais eficiente.
O que é câncer de próstata?
O câncer de próstata, como outros tumores malignos, é o crescimento desordenado de um grupo de células que deixa de responder ao código genético original. Esse crescimento sem controle, causa uma perda da arquitetura da glândula prostática, alterando sua função, aumentando a produção de algumas substâncias típicas dela (como o PSA) e levando a implantes tumorais à distância, em outros órgãos, principalmente em ossos, no fígado, pulmão e cérebro. São as chamadas metástases. Isso ocorre em fases mais tardias da doença, quando ela começa a dar sintomas, e, muitas vezes, nessa etapa, seu controle é mais difícil ou impossível, só cabendo medidas paliativas.
Qual faixa etária predominante de pacientes com câncer de próstata?
Por tratar-se de um tumor que inicia com a perda do controle genético intrínseco das células que compõem a próstata, é um tumor que está associado ao envelhecimento, sendo mais comum a partir da quarta década de vida e aumentando com a idade. Pesquisas mostram uma incidência altíssima desse tumor em pacientes com 90 anos ou mais, ainda que como achado de necropsia.
O diagnóstico precoce é fundamental para cura da doença, não é mesmo?
Sim, como havíamos colocado no início da entrevista, esse é um tumor que não dá sintomas iniciais (da mesma forma que o câncer de mama, do qual tem vários pontos em comum, até por que ambos são tumores de glândulas). Porém, ao contrário da mama, que a própria paciente consegue identificar alterações de texturas na glândula, através do autoexame, no caso da próstata, é necessário um especialista (o urologista) para fazer este exame. Quanto mais cedo é feito, maiores as chances de cura e menores os riscos de sequela do tratamento.
Homens cujos pais tiveram câncer de próstata, devem ficar mais atentos? Por que?
Novamente a questão genética responde a esta pergunta. Ter um parente de primeiro grau aumenta em até 30% a chance de uma pessoa vir a ter o câncer de próstata, porque essa característica genética é transmitida da mesma forma, por exemplo, a cor dos olhos. Somos o resultado da carga genética dos nossos antepassados, e se um deles teve esse problema, podemos herdar essa característica.
Exame de PSA e toque retal são as maneiras corretas de prevenção?
A associação entre o toque prostático e a dosagem do PSA, que é uma substância produzida pela próstata normalmente, e que aumenta muito quando ela sofre uma degeneração neoplásica, tem uma sensibilidade e uma especificidade bastante elevadas no diagnóstico da doença. Ter o PSA normal ou ter um toque prostático sem alterações, é muito bom, mas o ideal é termos os dois (toque e PSA) normais, já que tumores muito indiferenciados podem não produzir PSA, que vai estar normal, porém, com certeza, a consistência do tecido prostático ficará muito alterada, já que o crescimento é de um tecido “diferente” da próstata normal. Na outra extremidade dos casos de câncer de próstata, temos os tumores muito bem diferenciados, ou seja, que se parecem muito com a próstata normal. Nesses casos, a consistência da próstata pouco ou nada vai se alterar. Mas, por se tratar de uma proliferação muito parecida com próstata normal, o PSA vai elevar-se muito! Entre esses dois extremos, encontramos todos os cânceres de próstata, fazendo com que o toque prostático e o PSA se complementem, e não se substituam um ao outro.
Como se faz o tratamento?
As modalidades de tratamento do câncer de próstata vão depender do estágio em que é feito o diagnóstico, sendo as melhores e mais eficientes opções, aquelas oferecidas quando o diagnóstico é feito em fases iniciais da doença. Basicamente se dividem entre tratamento cirúrgicos (com várias opções, que vão da cirurgia aberta à robótica), radioterapia (desde aplicação externa da radiação até o implante de sementes radioativas na próstata, a chamada braquioterapia), e mesmo tratamento medicamentoso, com fármacos que podem ser bloqueadores hormonais, quimioterápicos específicos para células prostática que apresentam crescimento desordenado, ou até com imunoterapia, através de substâncias que vão estimular o organismo a combater esse crescimento. Cabe lembrar ainda que em algumas situações, é possível até a vigilância ativa, quando o tumor é diagnosticado muito no início e o paciente passa a ser monitorizado, segundo protocolos específicos, sem que nada mais invasivo seja feito. A qualquer momento, durante esse acompanhamento, caso as características do tumor mudem, outras opções são oferecidas ao paciente.
Muitos pacientes têm dúvidas sobre disfunção erétil, após tratamento cirúrgico. Fale um pouco sobre isso.
A disfunção erétil pode ser uma sequela temporária ou definitiva de qualquer uma das modalidades de tratamento do câncer de próstata. O fato de ser uma doença que atinge homens mais velhos, muitas vezes com outras comorbidades (onde já existe algum grau de disfunção erétil), além do fato de que nervos muitos delicados, relacionados a transmissão dos impulsos nervosos responsáveis pela ereção passarem sobre a próstata, fazem com que essa sequela seja sempre uma possibilidade. Modernas técnicas cirúrgicas (como o tratamento robótico) ou, ainda, a radioterapia mais concentrada (como a braquioterapia) têm diminuído essa complicação, mas ela nunca será desprezível. Quando falamos de tratamento medicamentoso, por muitas vezes utilizarem bloqueadores hormonais, também é uma sequela comum. Importante ressaltar que é uma complicação tratável, após resolvido o problema do câncer. No entanto, isto não deve nunca ser uma justificativa para não diagnosticar ou não tratar um câncer.
O urologista Ailton Fayon: “a cada ano, temos conseguido difundir mais a importância de que todo homem, a partir de uma determinada idade, faça seu controle”
O câncer de próstata é uma grande preocupação dos homens, principalmente à medida que a idade avança. E isso se justifica, pois, segundo dados do Instituto Nacional do câncer (INCA), entre os anos de 2020 a 2022, o Brasil poderá ter 625 mil novos casos de câncer. Para cada ano de 2020 a 2022, a principal incidência será de câncer de pele não melanoma, com 177 mil casos, seguido de 66 mil casos de câncer de mama e câncer de próstata, cada, aponta o estudo. Daí a importância da campanha Novembro Azul, responsável pela conscientização do câncer de próstata, que surgiu no ano de 1999 na Austrália, com um grupo de amigos que decidiram deixar o bigode crescer, com o objetivo de chamar a atenção para a saúde masculina.
Para falar sobre a iniciativa da campanha, a importância do diagnóstico precoce, exames e tratamento, entre outros aspectos, o Portal Medicina e Saúde entrevistou o médico urologista Ailton Fayon, membro titular da Sociedade Brasileira de Urologia, membro efetivo do Colégio Brasileiro de Cirurgiões e Diretor Clinico do Urológica Hospital, de Belo Horizonte/MG.
Dr Ailton, como o senhor avalia a campanha Novembro Azul?
Ter um mês específico, onde todas as mídias lembrem de informar à sociedade sobre os cuidados com alguma doença específica, seja depressão, autoextermínio, câncer de mama ou de próstata, é de vital importância para aumentarmos o conhecimento e o engajamento do público para esse assunto. É aquela máxima de que “água mole em pedra dura, tanto bate até que fura!” Desde 1999, por iniciativa de um grupo de amigos australianos que tinham perdido um amigo com câncer de próstata, o mês de novembro é dedicado a essa causa. Desde então, a cada ano, mais temos conseguido difundir a importância de que todo homem, a partir de uma determinada idade, faça seu controle. Isso não quer dizer que ele não vai ter a doença, que é geneticamente condicionada, porém, quanto mais cedo ela for diagnosticada, mais eficiente serão as opções e formas de tratamento, principalmente em uma doença que não dá sintomas em suas fases iniciais, quando o controle é mais eficiente.
O que é câncer de próstata?
O câncer de próstata, como outros tumores malignos, é o crescimento desordenado de um grupo de células que deixa de responder ao código genético original. Esse crescimento sem controle, causa uma perda da arquitetura da glândula prostática, alterando sua função, aumentando a produção de algumas substâncias típicas dela (como o PSA) e levando a implantes tumorais à distância, em outros órgãos, principalmente em ossos, no fígado, pulmão e cérebro. São as chamadas metástases. Isso ocorre em fases mais tardias da doença, quando ela começa a dar sintomas, e, muitas vezes, nessa etapa, seu controle é mais difícil ou impossível, só cabendo medidas paliativas.
Qual faixa etária predominante de pacientes com câncer de próstata?
Por tratar-se de um tumor que inicia com a perda do controle genético intrínseco das células que compõem a próstata, é um tumor que está associado ao envelhecimento, sendo mais comum a partir da quarta década de vida e aumentando com a idade. Pesquisas mostram uma incidência altíssima desse tumor em pacientes com 90 anos ou mais, ainda que como achado de necropsia.
O diagnóstico precoce é fundamental para cura da doença, não é mesmo?
Sim, como havíamos colocado no início da entrevista, esse é um tumor que não dá sintomas iniciais (da mesma forma que o câncer de mama, do qual tem vários pontos em comum, até por que ambos são tumores de glândulas). Porém, ao contrário da mama, que a própria paciente consegue identificar alterações de texturas na glândula, através do autoexame, no caso da próstata, é necessário um especialista (o urologista) para fazer este exame. Quanto mais cedo é feito, maiores as chances de cura e menores os riscos de sequela do tratamento.
Homens cujos pais tiveram câncer de próstata, devem ficar mais atentos? Por que?
Novamente a questão genética responde a esta pergunta. Ter um parente de primeiro grau aumenta em até 30% a chance de uma pessoa vir a ter o câncer de próstata, porque essa característica genética é transmitida da mesma forma, por exemplo, a cor dos olhos. Somos o resultado da carga genética dos nossos antepassados, e se um deles teve esse problema, podemos herdar essa característica.
Exame de PSA e toque retal são as maneiras corretas de prevenção?
A associação entre o toque prostático e a dosagem do PSA, que é uma substância produzida pela próstata normalmente, e que aumenta muito quando ela sofre uma degeneração neoplásica, tem uma sensibilidade e uma especificidade bastante elevadas no diagnóstico da doença. Ter o PSA normal ou ter um toque prostático sem alterações, é muito bom, mas o ideal é termos os dois (toque e PSA) normais, já que tumores muito indiferenciados podem não produzir PSA, que vai estar normal, porém, com certeza, a consistência do tecido prostático ficará muito alterada, já que o crescimento é de um tecido “diferente” da próstata normal. Na outra extremidade dos casos de câncer de próstata, temos os tumores muito bem diferenciados, ou seja, que se parecem muito com a próstata normal. Nesses casos, a consistência da próstata pouco ou nada vai se alterar. Mas, por se tratar de uma proliferação muito parecida com próstata normal, o PSA vai elevar-se muito! Entre esses dois extremos, encontramos todos os cânceres de próstata, fazendo com que o toque prostático e o PSA se complementem, e não se substituam um ao outro.
Como se faz o tratamento?
As modalidades de tratamento do câncer de próstata vão depender do estágio em que é feito o diagnóstico, sendo as melhores e mais eficientes opções, aquelas oferecidas quando o diagnóstico é feito em fases iniciais da doença. Basicamente se dividem entre tratamento cirúrgicos (com várias opções, que vão da cirurgia aberta à robótica), radioterapia (desde aplicação externa da radiação até o implante de sementes radioativas na próstata, a chamada braquioterapia), e mesmo tratamento medicamentoso, com fármacos que podem ser bloqueadores hormonais, quimioterápicos específicos para células prostática que apresentam crescimento desordenado, ou até com imunoterapia, através de substâncias que vão estimular o organismo a combater esse crescimento. Cabe lembrar ainda que em algumas situações, é possível até a vigilância ativa, quando o tumor é diagnosticado muito no início e o paciente passa a ser monitorizado, segundo protocolos específicos, sem que nada mais invasivo seja feito. A qualquer momento, durante esse acompanhamento, caso as características do tumor mudem, outras opções são oferecidas ao paciente.
Muitos pacientes têm dúvidas sobre disfunção erétil, após tratamento cirúrgico. Fale um pouco sobre isso.
A disfunção erétil pode ser uma sequela temporária ou definitiva de qualquer uma das modalidades de tratamento do câncer de próstata. O fato de ser uma doença que atinge homens mais velhos, muitas vezes com outras comorbidades (onde já existe algum grau de disfunção erétil), além do fato de que nervos muitos delicados, relacionados a transmissão dos impulsos nervosos responsáveis pela ereção passarem sobre a próstata, fazem com que essa sequela seja sempre uma possibilidade. Modernas técnicas cirúrgicas (como o tratamento robótico) ou, ainda, a radioterapia mais concentrada (como a braquioterapia) têm diminuído essa complicação, mas ela nunca será desprezível. Quando falamos de tratamento medicamentoso, por muitas vezes utilizarem bloqueadores hormonais, também é uma sequela comum. Importante ressaltar que é uma complicação tratável, após resolvido o problema do câncer. No entanto, isto não deve nunca ser uma justificativa para não diagnosticar ou não tratar um câncer.