Globalização e era de pandemias tornarão testagem diária um procedimento necessário
Por Dr. Alexandre Aldred | Faculdade de Medicina da USP
Especializado em Termografia Médica Diagnóstica e Propedêutica e CEO da Predikta
Ao contrário da peste negra, da gripe espanhola e da peste antonina do passado, que se difundiram devagar pelo mundo, a COVID-19 e agora a Varíola dos Macacos marcaram o início de um novo padrão das pandemias que, em semanas, se espalham pelo mundo. Os vírus ‘emergentes’ alcançam rapidamente todos os recantos do planeta graças aos 202 mil voos diários – recorde registrado um pouco antes da pandemia – e aos 4,5 bilhões de passageiros anuais que os aviões transportam (2019).
Essa nova situação criará em curto prazo um imenso desafio para a Saúde Pública de todos os países. Será importante encontrar formas de testar rapidamente todos que adentrarem um estádio, em um grande escritório, em escolas, aeroportos e mesmo rodoviárias.
O problema será maior com os vírus que permanecem contagiando por tempo maior, caso de alguns do gênero Orthopoxivirus, da varíola do macaco, cujo portador continua fonte de contágio vários dias depois de aparentemente recuperado.
Pesquisadores de vários países, inclusive do Brasil, buscam as respostas para o problema e os resultados já são marcantes, com o emprego da Inteligência Artificial. A solução deve necessariamente ser de um sistema não invasivo e que libere o resultado em segundos, do tipo dos detectores de metal de aeroportos e áreas de segurança, que emitem um sinal assim que alguém portando uma faca, por exemplo, passa diante do equipamento.
Muito mais complexo, entretanto, o totem que já existe e está sendo testado, não deve apenas indicar que a pessoa está febril ou apresenta outro sintoma de doença, mas precisa também indicar sinais vitais que indiquem o contágio pelo vírus.
Para alcançar o resultado almejado, o equipamento identifica a temperatura, edemas faciais, sinais como vermelhidão dos olhos e outros, micro inflamações e, em frações de segundo, compara os dados previamente armazenados de doentes comprovadamente contaminados por vírus como da COVID, da Influenza, da gripe H1N1 e de outras 17 infecções respiratórias.
Como o totem desenvolvido no Brasil já foi testado em pacientes do Hospital Universitário da USP, na Prefeitura de Ilha Bela, em centenas de moradores da favela de Paraisópolis, numa grande sala de call center com 500 funcionários e no Hospital da PM do Estado de São Paulo, entre outros locais, o banco de dados da Inteligência Artificial tem detalhes da temperatura e do aspecto de milhares de pessoas infectadas por vírus, devidamente identificados por qPCR (o padrão ouro).
Assim que as informações de uma pessoa são coletadas pelo sistema, há uma busca automática de quem tem resultados semelhantes e, da mesma forma que um sistema de reconhecimento facial trabalha, o equipamento indica que a pessoa que passa pelo totem está sadia ou com alguma síndrome gripal. A pesquisa envolveu um total de 9.257 pessoas, que depois passaram a fazer os tradicionais testes de PCR ou antígeno.
Até agora a Inteligência Artificial é capaz de diagnosticar com segurança 84% dos casos, mas o melhor é que, à medida que mais pessoas passam pelo totem, o banco de dados se torna maior e, portanto, muito mais seguro, tendendo a aumentar constantemente o acerto dos diagnósticos.
Certamente vai demorar até que este tipo de totem, com seus sensores térmicos, esteja disponível em todos os locais de grande concentração de público. A boa notícia é que, ao contrário do que ocorria quando do início da pandemia causada pelo coronavírus, hoje já existe a ‘arma’ necessária para bloquear futuros ‘ataques’ dos vírus que certamente virão. Há muita esperança de que as pandemias do futuro não causem tantos óbitos como esta, pois a humanidade não estará mais desprevenida.