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Menopausa aumenta riscos cardiovasculares

Por Salete Aparecida da Ponte Nacif/ Membro da equipe de cardiologia do Hospital do Coração de São Paulo, diretora da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo – SOCESP e integrante da equipe da SOCESP Mulher

Ondas de calor, indisposição, falta de libido. As queixas mais comuns das mulheres na menopausa – a maioria delas passível de ser resolvida com reposição de hormônios – podem ser um problema menor quando nos deparamos com estudos que falam direto ao coração feminino:  é comprovado que a menopausa aumenta a prevalência de doenças cardiovasculares (DCVs) e mortes, causando preocupação sobre as perspectivas de envelhecimento desta população.

Um estudo com 3.302 mulheres de várias raças, realizado pelo SWAN (Study of Women’s Health Across the Nation), comprovou aumento acelerado da pressão arterial no primeiro ano após a menopausa, indicando a contribuição da condição hormonal para a hipertensão como um dos fatores de risco, quando o assunto é infarto. Além disso, doenças mentais, como a depressão, impactam o sistema cardiovascular feminino mais do que o masculino.

Levantamento da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo – SOCESP, aponta que a cada 12 minutos uma mulher morre infartada no país. As DCVs femininas superam em mais de duas vezes o número de óbitos por todos os tipos de câncer anualmente. Há cerca de 60 anos este tipo de patologia matava nove homens para cada mulher. Hoje, estes números são equivalentes. Alimentação inadequada, baixa atividade física, consumo de álcool e tabagismo são alguns fatores que corroboram para este cenário, que ganha incidência nas classes sociais menos favorecidas.

Coração partido – Literalmente, além de sermos vítimas das DCVs, também sofremos mais com a Síndrome do Coração Partido ou Síndrome de Takotsubo, em uma proporção de nove para cada homem. Trata-se de uma cardiomiopatia identificada em pessoas submetidas a situações extremas, tanto do ponto de vista emocional como físico. Este pico de estresse favorece uma descarga de adrenalina no organismo e o resultado é o estreitamento temporário das artérias que irrigam o coração, modificando o funcionamento do músculo cardíaco, com chances de provocar lesões graves, sendo fatal em 10% dos casos, normalmente quando não é possível o socorro adequado a tempo. E, novamente, a menopausa é a grande vilã.

Segundo dados publicados pelos Arquivos Brasileiros de Cardiologia, entre as explicações para o maior acometimento feminino de Takotsubo estão fatores como deficiência do hormônio estrogênio, além de uma resposta do sistema nervoso autônomo aumentada. Acima dos 50 anos há cinco vezes mais chances das mulheres terem a síndrome em relação às mais jovens. Já entre os fatores que predispõe a recorrência da doença encontram-se, além de ser do sexo feminino, o baixo IMC (Índice de Massa Corpórea), hipercontratilidade (aumento da contração muscular) do terço médio do ventrículo esquerdo e menor tempo após o primeiro episódio.

A semelhança com o infarto – dor torácica na região precordial esquerda, falta de ar e sensação de fraqueza intensa – pode não precisar a verdadeira causa porque as alterações detectadas no eletrocardiograma e nas enzimas do coração são semelhantes as de um paciente infartado. Para o diagnóstico clínico confiável é necessário fazer cateterismo e afastar a presença de coronárias entupidas, além do ecocardiograma para observar se a região inferior do coração está dilatada, uma alteração típica da Síndrome do Coração Partido. De 1% a 3% daqueles que manifestam sintomas consistentes com síndrome coronária aguda são diagnosticados com Takotsubo.

Conscientização – É muito importante que estes dados sejam divulgados para manter a população em alerta. Isso porque é muito comum que as mulheres – por excesso de atividades ou responsabilidade com a família – minimizem o que sentem, atribuindo ao estresse do dia a dia, negligenciando a busca por serviços médicos ou de emergência. Mas a procura por ajuda é determinante tanto para a ocorrência da Síndrome de Takotsubo como para o infarto agudo do miocárdio, que em 12 ou 24 horas pode evoluir para um quadro grave ou irreversível.

O impacto das doenças do coração na população feminina levou a criação da Lei 14.320/2022, que institui a data de 14 de maio como Dia Nacional de Conscientização das Doenças Cardiovasculares na Mulher. O objetivo é facilitar políticas públicas e iniciativas das instituições privadas para promoção de palestras, eventos e treinamentos sobre o tema.

Cumprindo seu papel social e por ocasião do Dia Internacional da Mulher, 8 de março, a SOCESP programou ações de orientação e informações, com postagens em mídias sociais e entrevistas com especialistas, esclarecendo sobre a realidade das doenças coronarianas em mulheres.

Mas devemos ressaltar que a receita médica vale para ambos os sexos: consultas periódicas, acompanhamento dos níveis de glicemia, colesterol e pressão arterial e o conhecimento da predisposição genética para doenças do coração são medidas profiláticas importantes para antever qualquer problema. Além disso, exercícios físicos incluídos na rotina, dieta saudável, uma vida livre de tabaco e consumo comedido de bebidas alcóolicas constroem a ponte mais segura para um coração saudável, sem distinção de gênero.

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