Profissionais da geração Z lideram o uso de medicamentos para saúde mental
Luis Gonzales: “A Geração Z é digitalmente nativa e, com isso, teve que crescer em uma realidade de cyberbullying, abusos online e comparações potencializadoras de problemas de autoestima e ansiedade crônica”
Uso de medicamentos para saúde mental é maior na faixa etária de 19 a 23 anos (28,5%), seguido da faixa entre 24 a 29 (22,7%), aponta levantamento da Vidalink, empresa de plano de bem-estar corporativo. Os dados fazem parte da análise da compra de medicamentos de 196.677 funcionários entre 250 empresas no Brasil. Além disso, o Panorama da Saúde Mental, desenvolvido pelo Instituto Cactus em parceria com a AtlasIntel, aponta que jovens brasileiros com idades entre 16 e 24 anos estão entre os mais afetados por problemas de saúde mental. Luis González, CEO e cofundador da Vidalink/São Caetano do Sul/SP, destaca a preocupação em apoiar as novas gerações que chegam ao mercado de trabalho.
Segundo ele, “a Geração Z é digitalmente nativa e, com isso, teve que crescer em uma realidade de cyberbullying, abusos online e comparações potencializadoras de problemas de autoestima e ansiedade crônica. Além disso, são em grande parte conscientes das questões globais e possuem preocupações inerentes sobre o futuro. Tudo isso faz parte da construção de uma geração mais sensível ao tópico da saúde mental, embora não seja a única afetada”.
Nikolas Heine, médico psiquiatra e Coordenador de Psiquiatria da Caliandra Saúde Mental, também destaca o impacto da imprevisibilidade do mercado de trabalho na saúde mental dos jovens: “O impacto da automação e da IA no trabalho gera uma incerteza que dificulta para os jovens se estruturarem para o futuro. Isso, geralmente, resulta em sobrecarga emocional, manifestando-se em sintomas ansiosos, depressivos, impulsivos e psicossomáticos”.
Frustrações – Para o psiquiatra, tanto a maior disponibilidade de profissionais capazes de fazer o diagnóstico quanto o modo como a geração Z foi criada são fatores que contribuem para maior incidência de problemas de saúde mental. “Nossa cultura de parentalidade, focada no cuidado emocional, muitas vezes impede que os jovens experimentem frustrações durante o desenvolvimento, deixando-os menos preparados para lidar com elas na vida adulta. Isso faz com que cada vez mais jovens percebam sintomas emocionais como doenças. Além disso, hoje temos mais profissionais para realizar diagnósticos, o que não era comum em gerações anteriores”.
As novas gerações demonstram maior aceitação e estão reduzindo os estigmas relacionados à saúde mental, reconhecem a importância de cuidar da mente e estão mais dispostas a aderir ao tratamento medicamentoso, quando necessário.
O levantamento da Vidalink revela que o menor índice de uso dos medicamentos de saúde mental (14,8%) ocorre em colaboradores com mais de 59 anos. “Em muitos casos, isso pode ser explicado pelo tabu ainda existente entre gerações mais velhas para falar de saúde mental”, diz González.
Por outro lado, a compra dos antidepressivos é maior nas faixas etárias da geração X e dos Millennials (geração que nasceu entre 1980 e 1995), entre colaboradores de 39 a 43 anos (19,8%), seguidos da faixa de 44 a 48 anos (16,5%). “Embora a geração Z seja mais ativa em assuntos de saúde mental, cada geração enfrenta seus próprios conjuntos de desafios sobre o tema, moldados por experiências de vida únicas, expectativas sociais e tecnológicas em evolução”, complementa o executivo.
Busca por equilíbrio – Segundo os especialistas, as demandas da geração Z, a busca por equilíbrio entre vida pessoal e profissional, são grandes impulsionadores do conceito de bem-estar para o futuro do trabalho. “As gerações mais velhas costumam apresentar quadros psiquiátricos de transtornos adaptativos ou sobrecargas emocionais que geram estresse agudo, mas não procuram ajuda, pois consideram os sintomas uma reação normal. Pode-se dizer, então, que a popularização do debate sobre saúde mental pela geração Z reflete diretamente na desmistificação do tratamento para as demais gerações”, explica Gonzales.
A medicação, no entanto, não é o único fator para lidar com a saúde mental no ambiente de trabalho: “O apoio financeiro das empresas no subsídio de medicamentos para os colaboradores é fundamental a fim de garantir a continuidade do tratamento, mas é importante ter em mente a diferença que uma cultura faz na forma como esses profissionais se sentirão acolhidos. Um cenário de liderança tóxica pode agravar o quadro depressivo, por exemplo.”, alerta.
Mudanças de rotina e comportamento como sono adequado, alimentação equilibrada, práticas de exercícios físicos, pausas durante o dia, acompanhamento psicológico, contato social e exposição regular ao sol são recomendadas pelo psiquiatra. “Os benefícios corporativos entram em cena para que esses trabalhadores tenham os insumos necessários para mudar o estilo de vida e cuidar da saúde, juntamente com o subsídio de medicamentos”, esclarece González.
“Todas essas medidas preventivas devem ser disseminadas em campanhas de conscientização nas empresas. No entanto, é importante reforçar que esses profissionais, principalmente a geração Z, geralmente mais autoconsciente sobre suas dores, precisam buscar um diagnóstico de um psiquiatra qualificado antes de confundir o cuidado com saúde mental com quadros de doenças mentais”, finaliza o Dr. Nikolas Heine.