Pais com seus filhos em UTIs: como fica a saúde mental e emocional de quem passa por essa situação?
Psicóloga Sheila Cordeiro, do Grupo Neocenter: “a hospitalização configura um fator muito estressante, pois há neste momento uma ruptura de toda a rotina da família”
O mês de janeiro inicia com a campanha Janeiro Branco, que tem a proposta de voltar os olhares do mundo para o que se passa na cabeça de cada um de nós, ou seja, a saúde mental e emocional das pessoas. Nesse sentido, o Grupo Neocenter, com sede em Belo Horizonte/Minas Gerais, dedica especial atenção a essa iniciativa, tendo como foco a saúde mental e emocional dos pais que acompanham seus filhos em Unidades de Tratamento Intensivo (UTI) neonatais ou pediátricas, seja em decorrência de um parto prematuro ou por alguma enfermidade.
De acordo com a psicóloga Sheila Cordeiro, do Grupo Neocenter, este é um momento de grande sofrimento emocional para a família, que precisa lidar com o sentimento de frustração perante a desconstrução daquele bebê/criança idealizado para trabalhar a elaboração de construções do bebê real. Tendo em vista esta questão, ou seja, ajudar os pais a manterem uma mente em equilíbrio afim de lidar com questões do cotidiano de forma produtiva e funcional consigo mesmo, no ambiente e com outras pessoas, o Neocenter oferece um suporte especializado, através da Psicologia.
“A hospitalização configura um fator muito estressante, pois há neste momento uma ruptura de toda a rotina da família, tornando a experiência dolorosa e frustrante, podendo levá-los à presença de sintomas, como humor triste, insônia, irritabilidade, perda de concentração, ansiedade, preocupações excessivas e recorrentes que podem causar até prejuízos funcionais”, explica a psicóloga, que tem formação em TCC – Terapia Cognitiva Comportamental, Análise de Polissonografia e em Tanatalogia e Cuidados Paliativos, entre outros cursos.
Sintomas – Nesse contexto, Sheila Cordeiro chama atenção para alguns sinais emocionais que os pais apresentam. Entre os de maior relevância, ela aponta a depressão ou tristeza profunda, ansiedade (medo excessivo, sentimentos negativos, irritabilidade) e sentimento de culpa.
Estas questões emocionais não dependem se a mãe ou pai é jovem ou de mais idade. “O contexto que envolve os sentimentos e comportamentos é indiferente à idade e bagagem vivencial”, destaca. Os pais, ao se depararem com a situação do filho na UTI, apresentam, no primeiro momento, sentimentos de desamparo, medo e, por vezes, desenvolvem sentimentos de desespero diante das incertezas que a internação apresenta. Muitas vezes lidam negativamente e os pensamentos de possibilidade e proximidade da morte de seu filho tornam-se constantes. Durante a vivência da internação e a busca por conhecimentos, eles vão desenvolvendo junto a equipe estratégias de enfretamento e ressignificações para lidar com os processos. Nesse processo, “a escuta acolhedora é fundamental para estabelecermos um vínculo com os pais, ou seja, para que eles possam verbalizar suas angústias, medos e incertezas sem julgamentos, de forma a ajudá-los também ao longo da internação e adoecimento de seu filho”, acrescenta a psicóloga, ao ressaltar a importância do papel deste profissional, cuja abordagem principal nesse atendimento é proporcionar um ambiente seguro para a subjetividade das histórias, além de uma escuta humanizada, assegurando o estabelecimento do vínculo de confiança. Nessa abordagem, o psicólogo deve facilitar e estimular as verbalizações sobre as emoções, pensamentos, medos e angústias atuais, bem como proporcionar o estímulo e reforço positivo para as reflexões e construções durante o processo de acompanhamento”, conclui