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A morte da cantora Marília Mendonça nos leva a questionar a morte e como lidar com o luto

           Foto: Divulgação

A recente morte da cantora sertaneja Marilia Mendonça, em um acidente de avião na região de Caratinga/MG, aos 26 anos de idade, causou comoção nacional, com grande cobertura da imprensa convencional e plataformas digitais com cenas do local do acidente, do velório e das homenagens de cantores brasileiros. Muito admirada principalmente pelo público jovem, ela era também considerada uma voz que representava as mulheres. Marilia deixa um filho de apenas dois anos de idade.

Principalmente, nos últimos tempos, com o advento da pandemia da covid, o mundo todo tem sofrido perdas de familiares, parentes e amigos. Momentos difíceis e um grande aprendizado sobre a finitude da vida. A fatalidade ocorrida com a jovem cantora nos leva novamente a questionar a morte, como lidar com esse luto? Quanto tempo dura essa dor? Como superá-la?

Para falar sobre o assunto, o Portal Medicina e Saúde ouviu profissionais da Psicologia e da Psicanálise.

O  psicólogo Reginaldo Pessanha/Belo Horizonte – MG, que se define como um observador da cena da vida, destaca que “impactados pela pandemia, fomos colocados diante da finitude da vida!  Mas logo nos protegemos, admitindo que a grande massa afetada é majoritariamente idosa e/ou portadora de alguma comorbidade. A morte de mais de seiscentas mil pessoas torna-se uma estatística monótona, divulgada pelas redes sociais a cada dia”.

O impacto, porém, da morte de Marilia Mendonça, jovem cantora-compositora e com carisma imenso, em plena explosão de sucesso, uma personalidade luminosa, é uma ducha de água gelada, observa, ao afirmar que “estamos vivendo um grande luto coletivo.

Para o psicólogo Reginaldo Pessanha, mesmo os que não tinham contato com a música de Marilia Mendonça, sobretudo os mais jovens, que perderam uma porta-voz, estão de luto, mergulhados no processo de elaborar a perda”. 

Segundo ele, “o impacto inicial leva a negar de imediato, a ideia de que a perda ocorreu. Logo, a realidade se impõe, levando ao desespero ou a aceitação. O processo evoluindo adequadamente, chega-se ao desligamento, desapega-se do que se perdeu e adapta-se à vida, sem o que foi perdido. Superamos, então, a perda e nos tornamos capazes de nos ligarmos novamente”. Assim, acrescenta, o costumeiro ´vai passar´! A memória pessoal e coletiva é seletiva, colocando na sombra os fatos dolorosos e dourando as experiências positivas, permitindo-se dizer “como era verde o meu vale”!

De tudo fica um pouco, analisa o psicólogo. “Para todos, fica a urgência de viver aqui e agora. O passado não existe mais, só na memória, o futuro não existe ainda, só na imaginação. Carregamos, porém, no presente, a riqueza do passado e os projetos do futuro para que o presente não se torne um jogo cabra-cega”.

 Os jovens, passado o susto, continuarão a viver despreocupadamente, pontua Reginaldo Pessanha. “Aos vinte anos se é imortal. Aos que têm mais passado e futuro, um forte sinal de alerta: a vida só acontece aqui e agora, cada dia se torna mais absoluto”, conclui.

Para a psicóloga e psicanalista Heloisa Mamede, também de Belo Horizonte/MG, de acordo com Freud, “O luto, de um modo geral, é a reação à perda de um ente querido, à perda de alguma abstração que ocupou o lugar de um ente querido, como o país, a liberdade ou o ideal de alguém, e assim por diante. A perda de um objeto amoroso constitui excelente oportunidade para que a ambivalência nas relações amorosas se faça efetiva e manifesta”.

Assim, destaca, “podemos deduzir, dessa citação, que, independentemente do parentesco e da faixa etária, evidencia-se que o luto é a reação a uma perda de algo em que se colocou um forte investimento afetivo. A reação ao luto não pode ser generalizada, pois o mesmo depende da singularidade de cada um, causando diferentes graus de emoção”.

Heloisa Mamede explica que na adolescência, a instabilidade emocional, própria dessa faixa etária, dificulta a compreensão do luto, pois as perdas irreversíveis evidenciam a vulnerabilidade associada à fantasia de infinitude própria dessa época. “Em consequência, ocorrem reações múltiplas, por exemplo, a perda de um ídolo é vivenciada de uma forma angustiante de grande intensidade. Essas expressões são vividas em silêncio ou através de uma comunicação com outros pertencentes ao mesmo grupo, ressaltando ainda, o papel atual da internet de grande importância na expressão emocional dos adolescentes”.

Já para o adulto jovem, observa a psicanalista Heloisa Mamede, “a elaboração do luto é mais estável e os sentimentos são expressos com maior liberdade e compreensão da finitude de vida”

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