A volta do HIV: um desafio para a nova geração
Por Anderson Dias Cezar: Biólogo, Parasitologista, Professor e Coordenador da Pós-graduação da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Rio
O HIV (Vírus da Imunodeficiência Humana), causador da AIDS (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida), foi uma das maiores crises de saúde pública do final do século XX. Embora os avanços na medicina tenham transformado o diagnóstico em algo mais controlável, a doença ainda persiste como uma ameaça significativa, especialmente entre jovens. O aumento recente de infecções reflete um cenário preocupante, marcado por falta de conhecimento, adoção de práticas sexuais livres e relaxamento nas práticas preventivas. Para a geração atual, compreender o HIV e lidar com ele de forma eficaz é mais urgente do que nunca.
O Vírus HIV infecta as células do sistema imunológico que são importantes na produção de anticorpos, os Linfócitos T, fazendo com que essas células infectadas morram e, consequentemente, a resposta imune contra qualquer outra doença infecciosa por vírus, bactérias etc., sejam comprometidas. Portanto, ninguém morre de AIDS, propriamente dito, mas das consequências de um sistema imunológico altamente debilitado pelo vírus HIV.
A dificuldade de produção de vacinas eficientes deve-se a vários fatores, dentre eles a alta capacidade de mutação do vírus, produzindo variantes distintas que se espalharam pelo mundo. A origem mais provável da AIDS em humanos é a mutação de um vírus similar ao HTLV em primatas, que infectaram humanos, dando origem ao HIV.
Muitos acreditam que o HIV deixou de ser uma ameaça grave. Essa percepção, em parte, surge devido ao avanço de tratamentos como, os antirretrovirais e a profilaxia pré-exposição (PrEP), que previnem a infecção. No entanto, essas ferramentas, por si só, não resolvem o problema. Pelo contrário, podem gerar a falsa sensação de que há cura para a doença, o que não é verdade. É fundamental que tais medidas, venham acompanhadas de educação e conscientização contínuas.
Outro desafio é o estigma que ainda envolve a doença. A desinformação e o preconceito dificultam o acesso ao diagnóstico e ao tratamento, sobretudo para jovens. Em contextos de relações sexuais casuais, o aumento de parceiros sexuais, onde o uso de preservativos vem diminuindo, a vulnerabilidade aumenta. Além disso, muitos subestimam o risco de infecção, agravando o cenário.
Estratégias para enfrentar o HIV
1.Educação e conscientização – O conhecimento é uma das armas mais eficazes contra o HIV. Programas de educação sexual devem incluir informações claras sobre como o vírus é transmitido, como preveni-lo e a importância de detectar a infecção precocemente. Precisamos voltar a falar da AIDS nas escolas, universidades e plataformas digitais que podem desempenhar um papel central na disseminação de informações corretas à população.
2.Práticas sexuais seguras – Reduzir o número de parceiros sexuais e o uso do preservativo ainda são métodos mais confiáveis para prevenir o HIV e outras ISTs (infecções sexualmente transmissíveis). A introdução da profilaxia pré-exposição (PrEP) e o avanço no tratamento com antirretrovirais criaram uma falsa sensação de segurança. Embora sejam ferramentas poderosas, essas medidas precisam ser acompanhadas por campanhas de conscientização e educação contínuas. É essencial garantir que essas alternativas sejam amplamente acessíveis e bem compreendidas.
3.Infecção por contato sanguíneo e transfusão de sangue – A infecção por contato sanguíneo é uma das formas de transmissão de diversas doenças infecciosas, incluindo o HIV, hepatites B e C e outras infecções virais ou bacterianas. Essa via de transmissão ocorre quando o sangue contaminado entra na corrente sanguínea de outra pessoa, seja por transfusão, doação de órgãos, compartilhamento de instrumentos cortantes ou acidentes envolvendo materiais perfurocortantes. É preciso conscientizar os profissionais da saúde para que sejam rigorosos com as normativas técnicas estabelecidas pelos órgãos reguladores de saúde, quanto a técnicas, diagnósticos e manuseio de materiais biológicos em unidades de saúde e laboratórios. Profissionais mal treinados, por exemplo, podem pôr em risco muitas pessoas. Temos um caso recente disso!
4.Incentivo ao teste e ao tratamento – Realizar testes regulares é crucial para detectar o HIV precocemente. O diagnóstico rápido permite iniciar o tratamento antirretroviral, que pode reduzir a carga viral a níveis indetectáveis, impedindo a transmissão do vírus. O autocuidado deve incluir exames regulares e, quando necessário, adesão ao tratamento.
5.Combate ao estigma – Ainda hoje, muitas pessoas evitam buscar diagnóstico ou tratamento por medo do preconceito. Desafiar estigmas é um passo importante para promover a aceitação e criar um ambiente em que aqueles que vivem com HIV possam receber apoio. A nova geração tem um papel fundamental em transformar essa narrativa, promovendo empatia e inclusão.
A ciência continua avançando na busca por soluções definitivas para o HIV. Enquanto isso, é possível contar com uma série de recursos que ajudam a controlar a doença e prevenir sua disseminação. A combinação de educação, acesso à saúde e políticas públicas eficazes podem transformar a forma como lidamos com o vírus.
O aumento das infecções por HIV entre os jovens serve como um alerta. A nova geração tem o poder de mudar essa realidade por meio de informação, prevenção e empatia. Encarar o HIV com seriedade e responsabilidade é essencial para reduzir o número de casos e eliminar o estigma que cerca a doença.
A erotização da sociedade, intensificada por meios de comunicação, redes sociais e a cultura do consumo, tem impacto direto na disseminação de informações sobre sexualidade e saúde, incluindo a prevenção da AIDS. Ao mesmo tempo em que promove maior liberdade sexual, essa erotização muitas vezes prioriza o prazer imediato em detrimento de práticas seguras, como o uso de preservativos. Isso pode levar ao aumento do comportamento de risco, especialmente entre jovens, que são mais influenciados por padrões midiáticos e menos expostos a uma educação sexual abrangente.