Adultização de crianças pode levar a uma sexualidade precoce e a distúrbios emocionais e psicológicos graves

“A discussão ganhou força após um influenciador popular levantar o tema em suas redes sociais, alertando sobre os perigos dessa exposição precoce”
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Nos últimos dias, as redes sociais têm sido palco de intensas discussões sobre a adultização de crianças e adolescentes, um fenômeno que expõe os jovens a comportamentos e responsabilidades de adultos, muitas vezes de forma sexualizada. A discussão ganhou força após um influenciador popular levantar o tema em suas redes sociais, alertando sobre os perigos dessa exposição precoce e seus impactos emocionais. A questão, que envolve a sexualização nas mídias digitais, só agora vem ganhando destaque, gerando preocupações entre especialistas da saúde mental, que apontam os graves efeitos sobre a formação da identidade e autoestima dos jovens, embora esse assunto já ter sido fruto de inúmeras denúncias.
De acordo com Dra. Cristiane Pertusi/São Paulo/SP, psicóloga e presidente da Associação Brasileira de Terapia Familiar – ABRATEF, a adultização precoce causa danos significativos à autoestima e ao desenvolvimento saudável das crianças e adolescentes. “Expor crianças a papéis adultos não compatíveis com sua fase de desenvolvimento pode resultar em sérios danos psicológicos, como baixa autoestima, ansiedade e problemas de socialização”, ressalta.
Segundo Cristiane, ao promoverem e monetizarem conteúdos sensuais, as redes sociais intensificam ainda mais essa pressão sobre os jovens, transformando a busca por validação externa em um ciclo vicioso e prejudicial.
Para Carla Salcedo, psicóloga, também de São Paulo/SP, especializada em saúde mental, a consequência desse processo é ainda mais grave. “A sexualização precoce afeta profundamente a forma como os jovens percebem seus corpos e suas relações. Isso pode levar ao desenvolvimento de distúrbios emocionais e psicológicos graves, como transtornos alimentares, depressão e ansiedade,” alerta. Ela também acrescenta que a busca por reconhecimento nas redes sociais pode distorcer a visão de mundo dos jovens, levando-os a acreditar que a validação vem de fora, e não do seu próprio valor.
As especialistas ressaltam que as plataformas digitais têm um papel crucial na disseminação desse conteúdo prejudicial. As redes sociais, ao promoverem e monetizarem esses vídeos e imagens, colaboram para a perpetuação do problema. Dra. Cristiane acredita que as plataformas devem ser mais responsáveis. “As redes sociais precisam adotar políticas mais rigorosas, que não apenas sinalizem conteúdos inadequados, mas que realmente os punam e os removam, em vez de alimentá-los e monetizá-los,” defende Dra. Cristiane Pertusi, que também acredita na importância da psicoeducação com as famílias e escolas sobre o tema e juntos construírem ações em conjunto para minimizar os comportamentos das famílias e dos filhos quanto a exposição na internet.
Embora o problema seja grave, Carla Salcedo acredita que há caminhos para enfrentá-lo. “É fundamental que pais, educadores e profissionais da saúde ofereçam suporte aos jovens, explicando os riscos das redes sociais e reforçando que a verdadeira validação vem de dentro, não da aprovação externa,” sugere a psicóloga. Ela também destaca que o empoderamento dos jovens é a chave para que eles possam se proteger e navegar de forma saudável no ambiente digital.
Além disso, enfatiza a necessidade de políticas públicas mais eficazes para proteger a infância nas redes sociais. A criação de leis mais rígidas, que punam a exploração sexual e a disseminação de conteúdo inapropriado, é fundamental para garantir a segurança dos jovens.
A adultização nas redes sociais é uma questão urgente que exige uma resposta coletiva de todos os envolvidos: pais, educadores, profissionais da saúde e das próprias plataformas digitais. A solução passa por um esforço conjunto para educar, proteger e empoderar os jovens. Proteger a infância e a saúde mental dos adolescentes é uma responsabilidade de todos.