Bruno Soares: transplantado desde dezembro do ano passado, segue agora vida normal

“Experimentei a sensação de morrer e renascer na mesma vida. Foram seis meses de uma batalha. Sejam doadores de órgãos”
Bruno Soares, 41 anos, é casado e pai de três filhas. Ele descobriu de repente o diagnóstico de doença renal em estágio avançado. Transplantado desde dezembro do ano passado, ele agora segue uma vida normal e faz um pedido: “Experimentei a sensação de morrer e renascer na mesma vida. Foram seis meses de uma batalha para sobreviver: diagnóstico, hemodiálise, transplante, rejeição, novo tratamento e, agora, a luta pela recuperação da saúde plena. Sejam doadores de órgãos”, clama Bruno.
Os rins filtram resíduos e excesso de líquido do nosso sangue. À medida que eles falham, as impurezas se acumulam, causando diversos males ao corpo. De acordo com o coordenador do Serviço de Nefrologia da Rede Mater Dei da RMBH, Marcus Lasmar, “cerca de 35% dos pacientes que iniciam a diálise só descobriram a enfermidade quando já estavam com a função renal comprometida. Os sintomas se desenvolvem lentamente e não são específicos da doença. Algumas pessoas nem apresentam sintomas. Por isso, a importância do monitoramento com exames laboratoriais anuais e consultas de check up”.
O diagnóstico se dá com exames laboratoriais. “Solicitamos exame de urina para detectar presença de sangue, de proteína e outras anormalidades. Além da urina, o exame de sangue é necessário para dosar os níveis de ureia e creatinina, que são os marcadores do funcionamento dos rins. Se há alguma alteração, existem testes mais específicos para diagnóstico correto. Às vezes existe a necessidade de realizar um ultrassom dos rins e vias urinárias, ou até uma biópsia renal”, observa o médico.
“Eu tinha uma vida normal, me sentia bem, até então saudável, nunca tive nenhum sintoma. Em setembro de 2023, fui fazer um exame médico para renovação da minha CNH e a pressão estava muito alta. Este foi o alerta. Procurei um cardiologista, fiz uma série de exames e fui encaminhado para um nefrologista que solicitou novos exames. No retorno à consulta médica, recebi o diagnóstico já com a recomendação de iniciar hemodiálise. Eu continuava sem sintomas, mesmo tendo apenas 11% de funcionamento dos dois rins”, lembra Bruno.
Conforme ressalta o Dr. Marcus, é preciso ficar alerta e observar alguns possíveis sinais: alteração na cor da urina, espuma quando estiver urinando, urinar mais de uma duas a três vezes à noite, inchaço dos tornozelos ou ao redor dos olhos, dor lombar, pressão sanguínea elevada, anemia, fraqueza e desânimo constante, bem como náuseas e vômitos, emagrecimento e perda do apetite, dor abdominal. “Vale destacar que hipertensão e diabetes são condições que podem acarretar doenças renais crônicas, em 35% a 55% dos casos”, destaca o médico nefrologista.
Segundo dados da Sociedade Brasileira de Nefrologia, cerca de uma em cada 10 pessoas tem algum tipo de comprometimento no sistema renal. Atualmente, cerca de 120 mil pessoas passam pelo tratamento de diálise. “Iniciei o tratamento no Hospital Mater Dei Contorno, três vezes por semana, quatro horas por dia. Enquanto minha família realizava exames para verificar a compatibilidade da doação do órgão. Meu irmão foi compatível e marcamos o transplante para 23 de dezembro do ano passado. Agora faço acompanhamento uma vez por semana, além de exames para ajustar a dosagem dos medicamentos. Já voltei ao trabalho e me sinto bem. Sou muito feliz pela possibilidade de ter retornado à vida. Eu me sinto curado. O sentimento que fica é de gratidão pela vida, por Deus, por ter tido a oportunidade do transplante, de fazer um tratamento com equipe tão capacitada dentro de um hospital que, para mim, é referência”, agradece sempre Bruno.
Para o médico, a prevenção passa pela identificação de indivíduos com risco para desenvolver a doença, pelo diagnóstico precoce e o encaminhamento imediato para avaliação e, quando necessário, acompanhamento nefrológico. Os medicamentos ajudam a controlar os sintomas. Nas fases posteriores, pode ser necessário realizar filtragem do sangue com uma máquina (diálise) ou fazer um transplante.
“O tratamento da doença renal crônica deverá ser realizado de acordo com o déficit de função renal apresentado pelo paciente. Há casos para medicamentos, para diálise peritoneal, hemodiálise e até transplante”, esclarece o Dr. Marcus, ao explicar que a diálise visa repor as funções dos rins, retirando as substâncias tóxicas e o excesso de água e sais minerais do organismo, estabelecendo assim uma nova situação de equilíbrio. Por sua vez, a hemodiálise é uma das formas de terapia de substituição renal para pacientes com doença renal crônica avançada, assim com a diálise peritoneal e o transplante renal. Somente nos dois últimos anos, foram mais de 24.200 sessões de hemodiálises realizadas nas unidades da Rede Mater Dei em Belo Horizonte e região metropolitana e 16 transplantes renais.
O Serviço de Hemodiálise atende pacientes renais crônicos e agudos, seja para pacientes do CTI, internados, pacientes atendidos nos ambulatórios de hemodiálise da rede e para pacientes externos, de outras localidades que precisam permanecer em tratamento durante um determinado período. O atendimento intra-hospitalar é realizado em todas as unidades da Rede, já o atendimento ambulatorial acontece em três turnos, nas unidades Mater Dei Contorno e Mater Dei Betim-Contagem.
Pensando na medicina preventiva, acrescenta o médico, “é importante esclarecer que o rim envelhece conforme o passar da idade. É preciso nos atentarmos para a saúde dos rins para que a população não perca as funções renais e que não seja preciso tratamento. Para minha tese de doutorado, fiz um estudo com 420 pacientes e 45% deles tinham perdido o rim sem saber a causa. Muitas vezes, a função do órgão está tão deteriorada que não é possível fazer biópsia, nem saber o motivo da perda da sua função. A causa indeterminada no Brasil, é muito comum. Aí, é preciso instituir uma das terapêuticas ou encaminhá-lo para o transplante ou diálise peritoneal ou hemodiálise”.