Câncer adrenal: tumor raro, mas agressivo, pode afetar crianças e adultos acima de 40 anos

“Caso o tumor esteja apenas na glândula adrenal e não tenha se espalhado para outros órgãos, a remoção cirúrgica (adrenalectomia) pode oferecer uma chance significativa de cura”
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O câncer adrenal (que ocorre na glândula suprarrenal), denominado também como carcinoma adrenocortical, é um tipo raro que pode ser agressivo e afetar crianças menores de 5 anos, e adultos, principalmente, entre 40 e 50 anos. Dados da American Cancer Society mostram que, diagnosticada precocemente, quando não há sinais de que o tumor maligno se espalhou para fora da glândula adrenal, a taxa de sobrevida (o paciente estar vivo cinco anos após o diagnóstico e início do tratamento) supera os 70%.
Por sua vez, de acordo com a Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO), quando a doença se espalhou para além das glândulas adrenais, o tratamento se torna mais desafiador e com menor chance de cura. A atriz belga Emilie Dequenne, vencedora do prêmio de Melhor Atriz no Festival de Cannes, em 1999, faleceu no dia16 de março, aos 43 anos, em decorrência de um câncer da glândula suprarrenal, diagnosticado em 2023.
O cirurgião oncológico e presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO), Rodrigo Nascimento Pinheiro, explica que quando o câncer de glândula suprarrenal é diagnosticado precocemente, a cirurgia é uma opção curativa. “Caso o tumor esteja apenas na glândula adrenal e não tenha se espalhado para outros órgãos, a remoção cirúrgica (adrenalectomia) pode oferecer uma chance significativa de cura. No entanto, em casos avançados, o tratamento se torna mais complexo, exigindo uma abordagem multidisciplinar para controle da doença e melhora da qualidade de vida do paciente”, detalha.
O que é? – Este tumor se desenvolve nas glândulas suprarrenais, localizadas acima dos rins. Essas glândulas são responsáveis pela produção de hormônios essenciais para o funcionamento do organismo, como cortisol, aldosterona e andrógenos, que regulam o metabolismo, a pressão arterial e outras funções vitais. Segundo a American Cancer Society, apenas 5% dos tumores da glândula suprarrenal são malignos, ou seja, a predominância é de adenomas benignos.
Sinais e sintomas – Os sintomas variam, dependendo dos hormônios que o tumor produz em excesso, e são inespecíficos (associados com o desenvolvimento de outras doenças). Eles podem incluir:
- Dor nas costas;
- Dor abdominal;
- Perda de peso (sem intenção);
- Perda de apetite;
- Ganho de peso;
- Fraqueza muscular;
- Estrias rosadas ou roxas na pele;
- Hematomas que acontecem mesmo com lesões pequenas;
- Pressão arterial elevada;
- Níveis elevados de açúcar no sangue ou diabetes.
Na presença de um conjunto desses sintomas, é indicada a consulta com um médico especialista.
Apesar de menos frequentemente, o tumor também pode produzir os hormônios sexuais estrogênio e testosterona. Com essa alteração, as mulheres podem apresentar pelos faciais excessivos, queda de cabelo na cabeça e ciclos menstruais irregulares. Nos homens, essas mudanças hormonais podem fazer os testículos encolherem e o tecido mamário aumentar. Além disso, raramente o câncer adrenal pode produzir o hormônio aldosterona, mas se produzir, pode causar pressão arterial elevada e níveis baixos de potássio no sangue.
Fatores de risco – Em cerca de 90% dos casos, os carcinomas adrenocorticais são esporádicos, ou seja, não relacionados com alterações genéticas hereditárias. Realizado no Estados Unidos com 6.946 casos de carcinoma adrenocortical, um estudo populacional publicado na revista científica Cancer Treatment and Research Communications, é o primeiro trabalho, segundo o autores, a evidenciar o tabagismo como um fator de risco para esta doença. Outras causas ainda não são estabelecidas.
Em cerca de 10% dos casos, segundo a Mayo Clinic, a doença está associada com alterações genéticas relacionadas com maior predisposição, como a síndrome de Beckwith-Wiedemann, polipose adenomatosa familiar, síndrome de Li-Fraumeni, síndrome de Lynch e neoplasia endócrina múltipla tipo 1 (MEN 1).
A síndrome de Li-Fraumeni é responsável pela maioria dos casos pediátricos, especialmente no Brasil, onde 0,3% da população da região Sul (1 em cada 300 nascidos vivos), é portadora da mutação germinativa fundadora TP53 R337.
Diagnóstico e tratamento – A investigação de um câncer adrenal começa em consulta médica com exame físico e revisão do histórico de saúde pessoal e familiar. O diagnóstico também envolve exames de sangue e urina e exames de imagem como, tomografia computadorizada, ressonância magnética e tomografia por emissão de pósitrons. A cirurgia para remover a glândula adrenal pode ser indicada para confirmar o diagnóstico de câncer.
O presidente da SBCO, Rodrigo Pinheiro, detalha que, feito o diagnóstico, a cirurgia tem o papel de remover o câncer, com opção curativa. “Por meio do procedimento cirúrgico também é possível ver se o câncer se espalhou para fora da glândula adrenal”, relata.
A cirurgia também pode ajudar com o alívio de sintomas como, dor abdominal e dor nas costas, que ocorrem quando um câncer adrenal cresce muito.