Câncer de boca: 90 segundos que salvam vidas!

O exame clínico da boca é atualmente o único método confiável de rastreamento para detecção precoce da doença. Ele pode reduzir sua incidência em até 21% e a mortalidade em até 24% em grupos de risco
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O câncer de boca representa um dos mais graves problemas de saúde pública mundial. Segundo o Instituto Nacional de Câncer – INCA, no Brasil, cerca de 15 mil novos casos são diagnosticados por ano. É o quinto tipo de câncer mais comum entre os homens, com altos índices de mortalidade — aproximadamente metade dos pacientes diagnosticados vai a óbito.
Estudos mostram que aproximadamente 80% dos casos de câncer de boca são diagnosticados tardiamente, o que compromete significativamente a eficácia do tratamento. Diante desse cenário alarmante, o Colégio Brasileiro de Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial – CBCTBMF, chama atenção para o papel fundamental da prevenção e do diagnóstico precoce.
Segundo Marianne Carvalho, professora associada da Universidade de Pernambuco, uma simples prática pode transformar esse panorama: “Com apenas 90 segundos, é possível mudar o destino de um paciente. O exame clínico da cavidade oral e da região cervical deve ser incorporado à rotina de todo cirurgião-dentista. É um procedimento simples, rápido e que pode representar a diferença entre a vida e a morte”, afirma.
O protocolo propõe que o cirurgião-dentista, durante qualquer atendimento de rotina, dedique pouco mais de um minuto à inspeção visual e palpação das estruturas orais e cervicais. O objetivo é identificar sinais precoces de alterações potencialmente malignas, quando as chances de cura são muito maiores e os tratamentos menos mutilantes. A ideia foi difundida em um artigo publicado na Journal of the American Dental Association por Stolberg e Shuman.
Entre os principais fatores de risco está o consumo de tabaco nas suas diversas formas. Quando associado ao consumo de bebidas alcoólicas, esse risco é potencializado, podendo aumentar em até 15 vezes a chance de desenvolvimento da doença. A infecção por HPV e a exposição solar sem proteção também são relevantes, especialmente para os casos de câncer de orofaringe e de lábio, respectivamente.
A prevenção deve acontecer em dois níveis: primária – com foco na redução de exposição aos fatores de risco, e secundária – com foco no diagnóstico precoce. Ambas as estratégias são essenciais para reduzir a incidência e mortalidade da doença.
De acordo com o Dr. Belmiro Vasconcelos, presidente do CBCTBMF, “precisamos fortalecer a linha de cuidado do câncer de boca no Brasil. Isso passa pela capacitação dos profissionais de saúde bucal, pela conscientização da população e por políticas públicas eficazes de rastreamento e acesso ao tratamento oncológico”.
O CBCTBMF também destaca a importância de estratégias de rastreamento direcionadas a populações de risco, como homens acima de 40 anos que fazem uso de tabaco. Documentos do Ministério da Saúde, como o manual do INCA sobre diagnóstico precoce do câncer de boca, assim como diretrizes da OMS, endossam essa estratégia como método eficiente e comprovado.
Segundo a Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (IARC), o exame clínico da boca é atualmente o único método confiável de rastreamento para detecção precoce da doença. A estratégia pode reduzir a incidência em até 21% e a mortalidade em até 24% em grupos de risco. Diante da urgência, o CBCTBMF convida todos os cirurgiões-dentistas e profissionais de saúde bucal a incorporarem o exame de 90 segundos em suas rotinas clínicas. “Um gesto simples, de enorme impacto”, ressalta o especialista.