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Câncer de mama: disparidades regionais em cirurgia e reconstrução mamária para pacientes

Trabalho apresentado no Congresso Brasileiro de Câncer na Mulher, no Rio de Janeiro, mostra que as regiões Sul e Sudeste respondem por 64% das mastectomias, 80% das reconstruções mamárias e 70% das cirurgias conservadoras de retirada de apenas um segmento da mama.

  Imagem: Divulgação

As regiões Sul e Sudeste concentram a maioria das cirurgias e reconstruções realizadas no Sistema Único de Saúde (SUS). Essa desigualdade é um problema complexo e multifacetado, que envolve fatores estruturais. “As regiões Sul e Sudeste do Brasil possuem uma maior concentração de hospitais de alta complexidade, especialistas, centros de referência e unidades de saúde bem equipados, além de receberem uma maior parcela do orçamento de saúde, tanto em termos absolutos, quanto per capita, o que leva a melhores indicadores socioeconômicos”. A observação é da cirurgiã oncológica Viviane Rezende de Oliveira, diretora da Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO), que analisou estudo apresentado em julho, no Rio de Janeiro, durante o Congresso Brasileiro de Câncer na Mulher, organizado pela SBCO. 

Com a proposta de mapear o cenário de procedimentos cirúrgicos em pacientes com câncer de mama realizados nas cinco regiões brasileiras, entre 2008 e 2023, o trabalho foi desenvolvido no âmbito de iniciação científica por alunos de graduação em Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Foram levantadas as informações de 255 mil pacientes na base de dados do Sistema de Informações Hospitalares (SIH), no TabNet-DATASUS. Ao longo dos 15 anos, foram realizadas 170.158 mastectomias, 22.070 cirurgias de reconstrução e 85.265 cirurgias de retirada de segmentos da mama (segmentectomias). 

No total, as regiões Sul e Sudeste responderam no período por 64% das mastectomias, 80% das reconstruções mamárias e 70% das segmentectomias. Em contraste, a região Norte concentra apenas 6% das mastectomias, 3% das reconstruções e 5% das segmentectomias. Esse contraste, explica Viviane Rezende, se deve ao fato de a região Norte enfrentar uma escassez de infraestrutura hospitalar e profissionais. “Somam-se a isso, grandes distâncias e dificuldade da logística de transporte das pacientes”, lamenta. 

Nesse sentido, o cirurgião oncológico e presidente da SBCO, Rodrigo Nascimento Pinheiro, reforça que é de fundamental importância agregar um olhar mais integral à saúde oncológica da mulher. “O estudo contribui para identificar como está a realização de cirurgias e reconstruções mamárias e quantificar os possíveis gargalos, que venham a nortear a ampliação da estrutura do SUS”, ressalta o médico, explicando no quadro a seguir, a distribuição por região e o total de procedimentos de 2018 a 2023:  

 MastectomiasReconstruçõesSegmentectomias
Norte10.136648465
Nordeste38.1572.55114.393
Centro-Oeste11.6731.4127,531
Sudeste81.15512.98942.655
Sul29.0374.65317.323

No comparativo ano a ano, a conclusão é que houve a diminuição de mastectomias e um aumento discreto das cirurgias de reconstrução mamária. A região Norte tem o menor número deste procedimento. Quanto às segmentectomias, há um aumento substancial no país. O Sudeste, o Sul e o Centro-Oeste têm tendências similares quanto à queda da mastectomia, crescimento da reconstrução e oscilações nas quantidades anuais de segmentectomia. Além disso, houve diminuição destas abordagens cirúrgicas durante a pandemia de Covid-19, especialmente no Norte e Nordeste.

De acordo com Ana Julia Schramm Galvão Valadares, uma das autoras do estudo, analisar esta tendência regional dos procedimentos cirúrgicos é muito importante para observar se o país tem tido melhoras e está avançando junto com as tendências tecnológicas. “Observamos que a mastectomia é a modalidade mais utilizada, mas sem um aumento expressivo de reconstrução mamária, procedimento necessário para recuperação física e mental da paciente com câncer de mama”, observa

A cirurgiã Viviane Rezende de Oliveira ressalta que são vários os fatores que explicam a redução das mastectomias. Dentre eles, o diagnóstico de câncer de mama ocorrendo em fases mais iniciais, em consequência dos avanços nas estratégias de rastreamento e detecção precoce. Para os casos de tumores avançados, explica a especialista, tem havido resposta satisfatória ao tratamento neoadjuvante, principalmente com a incorporação de terapia-alvo, permitindo à paciente uma abordagem conservadora. 

Sobre as reconstruções mamárias – que estão previstas em Lei, sendo assim um direito da paciente como parte do tratamento – a especialista ressalta que ainda é um procedimento a ser perseguido. “Vários fatores interferem na oferta da reconstrução imediata e tardia. Os desafios são vários, entre eles limitações de recursos financeiros e disponibilidade de insumos, de capacidade e infraestrutura hospitalar, gestão das filas, tempo de espera, desigualdades regionais, equipe profissional capacitada e fortalecimento das políticas de saúde como linha de cuidado”. 

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