Cirurgia Plástica no Brasil: o que os pacientes precisam saber
Dr. Jorge Luiz Abel: “vale lembrar a importância na hora da escolha do cirurgião, procure ver o currículo e não o número de seguidores”
Com muita frequência são publicadas na mídia brasileira notícias de mortes de pacientes que fizeram cirurgia plástica, o que nos deixa assustados porque, em geral, são mulheres jovens, cuja maioria juntou suas economias para arcar com as despesas de uma cirurgia e realizar seus sonhos. Aí fica uma pergunta no ar: essa cirurgia era mesmo necessária? Ou, quem sabe, quais os limites que devem ser observados para a realização dessas cirurgias?
É importante lembrar que as cirurgias plásticas com êxito são inúmeras e diárias e, os óbitos, do ponto de vista numérico, pequeno. Entretanto, são vidas perdidas, dramas em famílias marcados para sempre, sendo, portanto, fundamental, que os pacientes procurem informações sobre o cirurgião plástico. Esta é a opinião do Dr. Jorge Luiz Abel, Membro Titular e Especialista da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, Membro Titular da Sociedade Iberolatinoamericana de Cirurgia Plástica (FILACAP) e Coordenador do Serviço de Cirurgia Plástica do Hospital São Cristóvão/SP e Regente do Serviço de Cirurgia Plástica Dr. Wilson Andreoni/Hospital São Cristóvão e Hospital Heliópolis- MEC e SBPC.
O rico currículo do Dr. Abel referenda as suas respostas nesta entrevista concedida ao Portal Medicina e Saúde.
Dr. Jorge, com muita frequência são divulgadas na mídia notícias sobre óbitos de pacientes que fizeram cirurgia plástica: Por que essa realidade?
A Cirurgia Plástica é uma especialidade que realiza procedimentos cirúrgicos em pacientes sadios. Nossa responsabilidade é muito grande, e, por isso, quando uma intercorrência acontece, chama tanto a atenção. É como andar de avião: sabemos que esse meio de transporte é muito seguro. Diariamente existem algo em torno de 200.000 mil voos no mundo, mas quando raramente acontece uma queda em um desses aviões, existe uma comoção enorme. Mas, sabemos que faz parte do risco. Com nossa especialidade é muito parecido, quando uma intercorrência acontece é notícia de primeira página. Nesse sentido, vale aqui lembrar a importância na hora da escolha do cirurgião: procure ver o currículo e não o número de seguidores, tenha referências com pessoas que foram operadas pelo profissional escolhido e, muito importante também: consulte a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP). Vá ao site www2.cirurgiaplastica.org.br e pesquise se ele é membro da SBCP. Se submeter a uma cirurgia plástica com um profissional devidamente habilitado é muito seguro.
Quais as cirurgias plásticas que têm mais sequelas? Por quê?
As cirurgias que apresentam maiores intercorrências são as que mais são realizadas: Lipoaspiração e Mamoplastias de aumento e redução. São procedimentos que envolvem uma grande expectativa de resultado e muitas vezes encontrar o ponto de equilíbrio entre o que a paciente deseja, lá no seu íntimo, e o que se pode oferecer de uma forma ética e segura por intermédio de uma cirurgia plástica, observamos, em determinados casos, que a expectativa está muito acima de uma realidade, até porque medicina não é matemática e são muitos os fatores que devem ser levados em conta na hora de se avaliar uma paciente. Existem três limites muito importantes que devem ser levados em consideração, que são os limites da paciente, os limites do cirurgião e os limites anatômicos, esse último, muitas vezes, não podemos fazer nada, é como se imaginar com lindos olhos verdes quando os tenho castanhos.
E óbitos? Por que?
Morrer é a única certeza que temos na vida desde que nascemos. Pessoas morrem no trânsito, no trabalho, em casa, nas ruas, nos parques … mas se levarmos em consideração o número de cirurgias plásticas que são realizadas todos os dias com o número de óbitos poderemos constatar que essa estatística é extremamente baixa, e, quando ocorre o óbito, ele deve ser discutido e estudado, existindo, para isso, comissões para cada vez mais aumentarmos a segurança das cirurgias, uma vez que reações adversas acontecem, intercorrências acontecem e tantas outras situações que devemos ter em conta. Na minha consulta sempre digo aos meus pacientes que ele corre o risco de morrer e vejo que depois de uma hora de consulta, com todas as explicações pertinentes à cirurgia em pauta, eles entendem perfeitamente o quero dizer. Todos os dias quando saio da minha casa, eu rezo, e, quando chego, agradeço. Cada um com as suas crenças.
Mulheres bonitas fazem cirurgias plásticas estéticas e conhecendo-as achamos que não precisariam se submeter a um procedimento desse. O que leva alguém buscar um ideal de beleza?
Definir o belo é muito difícil, e a autoimagem mais ainda. Sabemos que o foco sempre vai cair em um ponto que se chama autoestima. Existem pacientes que estão buscando um resultado que muitas vezes são inatingíveis. Nesses casos, a insatisfação recai em uma esfera psicológica e o cirurgião precisa estar atento porque em tal situação nada vai ficar bom. O cirurgião plástico é um psiquiatra com um bisturi nas mãos.
Devemos também estar atentos em chamar a atenção para o fato que o ótimo é inimigo do bom, e cabe ao cirurgião ético e consciente da sua responsabilidade dizer NÃO.
Vivemos em um país tropical, com um litoral lindo onde a exposição do corpo é grande, vemos uma pressão da mídia das redes sociais que mostram corpos esculturais onde se transmite a mensagem que para ser feliz é preciso se submeter a tudo e a qualquer preço, e, muitas vezes, a cirurgia plástica entra nessa roda, onde o bisturi parece ser mais lógico que ter hábitos alimentares sadios e praticar atividade física rotineiramente. Nossa responsabilidade em orientar devidamente, mostrar os erros que estão sendo cometidos no dia a dia e fazer que entendam a importância de ter um foco, uma força de vontade para ter e manter o ideal de beleza que é individual, e precisa ser respeitado.
No Brasil, qual é esse ideal de beleza?
É muito difícil falar em ideal de beleza em um país que foi colonizado por múltiplas raças. A mulher brasileira tem uma mistura que, com certeza, a coloca entre as mulheres mais bonitas do mundo. Temos aqui belezas de todos os tipos em todas as idades.
Quanto mais idade tem a paciente, maiores são os riscos de uma cirurgia plástica?
O que contraindica uma cirurgia não é a sua idade, mas o seu estado clínico geral e seus exames pré-operatórios dentro dos parâmetros normais. Temos que acrescentar aqui estarmos realizando a cirurgia em um hospital adequado, com um cirurgião experiente, um bom anestesista e uma equipe bem treinada. Quando esses pontos são seguidos à risca e bom senso de um cirurgião ético dizer não quando achar o risco, mesmo que calculado desnecessário, tudo fica mais seguro.
Existe uma idade ideal para se submeter a tais procedimentos?
Existem parâmetros que o cirurgião deve seguir, mas não uma idade específica.
Qual a faixa predominante das mulheres que fazem cirurgia plástica? Por que?
Dos 20 aos 50 anos. Tenho a sensação que nas idades mais próximas ao final da adolescência é quando a mulher toma uma consciência maior da sua imagem e das coisas que a incomodam. Já nas idades acima dos 45 anos, é quando as mulheres já tiveram seus filhos, estão com suas famílias constituídas e procuram a cirurgia plástica para amenizar algumas marcas deixadas pelo tempo e pelas gestações. Professor Pitangui dizia que “a cirurgia plástica está indicada para as pessoas que não se toleram”.
Qual a idade máxima para se fazer uma cirurgia plástica?
Medicina não é matemática, não existe uma idade máxima ou mínima. O que existe são parâmetros e conceitos que devem ser seguidos.
E os homens, quais são as cirurgias preferenciais?
Cirurgia das pálpebras, lipoaspiração corporal e nariz.
Eles correm menos risco de sequelas e até mesmo de morte que as mulheres? Por que?
Operar homem e mulher, os princípios básicos e todos os cuidados são os mesmos. Da mesma forma, os índices de intercorrências, mas as mulheres se submetem muito mais à cirurgias plásticas do que os homens. Por esse motivo deixa transparecer que as intercorrências e o risco de morte são maiores no sexo feminino.
E os idosos?
Envelhecer é um privilégio, saber envelhecer é uma arte! Temos que ter a percepção de saber a hora de parar, viver com alegria e aproveitar cada dia, sem ficar se olhando no espelho e lamentar as marcas do tempo. Somos finitos e chega um tempo onde a segurança e o bom senso vem em primeiro lugar.
Quais as providências que as pessoas devem tomar diante de uma cirurgia plástica?
Em primeiro lugar perceber se o momento é o melhor para ser feito o procedimento, saber o currículo do cirurgião, ter informações de pacientes já operadas, buscar indicação, pesquisar no site da SBCP e sempre ouvir mais de uma opinião. A cirurgia deve ser favorável ao paciente e não ao cirurgião. Ela deve entender que o barato, por vezes, sai caro, e sempre quando escolher quem vai opera-la, esquecer todo o resto e focar nas orientações e recomendações do profissional escolhido. Você não conhece um bom médico quando tudo dá certo. Você vai conhece-lo quando algo não sair como o esperado e ele vai estar sempre ao seu lado e pronto para resolver a intercorrência.
A cirurgia plástica é um grande mercado no Brasil, não é mesmo? Qual é o valor que ele movimenta anualmente?
O Brasil disputa com os EUA o número em cirurgias plásticas realizadas por ano. Somos um país com excelentes cirurgiões, formados com extremo rigor e total apoio da SBCP. Somos respeitados mundialmente e operamos muito, e por operamos muito, somos referência. Temos um país de dimensões continentais de clima tropical e com um litoral privilegiado e, consequentemente, uma maior exposição do corpo. Temos aí, pontos importantes para tornar a cirurgia plástica um grande mercado. Quanto a valores que se movimenta em torno da especialidade, sinceramente não tenho dados concretos que posso dizer.
Somado a ele, há um mercado paralelo de produtos que ele movimenta, fale um pouco sobre ele?
Existe um mercado que orbita a cirurgia plástica e que acaba um complementando ou outro. Existe uma interação importante entre os tratamentos cosméticos fisioterapêuticos e produtos complementares, como os modeladores pós-operatórios – que auxiliam muito na obtenção de um bom resultado. Esses cuidados acabam agregando gastos que a paciente precisa estar atenta para não se surpreender após o procedimento.
Qual o conceito dos cirurgiões plásticos brasileiros neste mercado mundial?
Me lembro que uma vez perguntaram para o professor Ivo Pitangui porque o cirurgião plástico brasileiro tinha a fama mundial de ser bom? Ele de uma forma serena e sábia respondeu: “nós brasileiros operamos muito, e porque operamos muito somos bons”. O cirurgião brasileiro é criativo, a cirurgia plástica brasileira deu e continua dando ao mundo grandes técnicas cirúrgicas e muitas contribuições. Temos expoentes no Brasil em praticamente todas as áreas da cirurgia plástica e a SBCP – sempre buscando de forma incansável, oferece o que há de melhor para a formação dos novos especialistas.
E por falar em formação, como é a formação de um Cirurgião Plástico no Brasil?
O cirurgião plástico brasileiro, que faz parte da SBCP, tem na sua formação os seis anos da faculdade de medicina. Após a sua graduação, ele presta uma prova para fazer, a partir de sua aprovação, três anos de cirurgia geral em um serviço credenciado pelo MEC ou Colégio Brasileiro de Cirurgiões. Depois outra prova para entrar em um serviço de Cirurgia plástica credenciado pelo MEC e SBCP, por mais três anos, totalizando, assim, mais seis anos de residência médica.
A Cirurgia Plástica é uma especialidade que abrange todo o corpo humano e, como podem ver, demanda muito estudo. Os profissionais brasileiros são muito conceituados. Somos capacitados para realizar cirurgias reparadoras, que se mesclam com a estética, bem como pacientes queimados, passando pelas deformidades congênitas e adquiridas onde, muitas vezes, atuamos de forma interdisciplinar com todas as especialidades cirúrgicas. Temos uma grande responsabilidade frente aos nossos pacientes: um cirurgião bem formado é a chave na obtenção de um bom resultado. Ao finalizar, gostaria novamente de orientar: antes de fazer uma cirurgia plástica, consulte o site da SBCP e se assegure se o profissional escolhido é capacitado ou não para realizar tal procedimento.