Dormir mal pode estar associado ao aumento do risco de doenças degenerativas
Dra. Neoma Mendes de Assis: “uma boa noite de sono nos garante diversos benefícios, inclusive, melhoras do sistema imunológico”
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Muita gente já sabe que o sono é fundamental para o alinhamento de várias funções no organismo, tal como o reparo dos tecidos, o crescimento muscular e a síntese de proteínas. Enquanto estamos dormindo, é possível repor energias e regular o metabolismo, fatores essenciais para manter corpo e mente saudáveis. Nos últimos anos, no entanto, estudos associam o efeito específico de dormir bem ao sistema nervoso, apontando a relação do sono com a prevenção de doenças como o Alzheimer e outras demências.
Para a Médica da Família e professora de Habilidades Médicas e dos Internatos do UniBH, Neoma Mendes de Assis, instituição instalada na capital mineira, a informação não apenas procede como também contempla além das estruturas nervosas. “Uma boa noite de sono nos garante diversos benefícios, como a produção de hormônios e de neurotransmissores que auxiliam nas sinapses, na conexão de um neurônio com o outro, no nosso funcionamento cerebral, e melhoras, inclusive, no sistema imunológico. A gente fica mais forte, mais vivo, mais disposto para vida, o que pode prevenir o desenvolvimento de doenças dessa natureza”, ressalta.
Segundo ela, isso acontece porque nosso organismo conta com o funcionamento de um sistema de eliminação de toxinas no cérebro, denominado Sistema Glinfático. Ele é similar ao Sistema Linfático que possuímos no resto do corpo, responsável pela remoção de líquidos e toxinas dos espaços entre as células. A descoberta de que o cérebro também apresenta um sistema de eliminação de toxinas surgiu apenas entre 2016 e 2019, demorando tanto para ser revelada pois, peculiarmente, esse sistema trabalha mais ativamente durante o sono noturno (faxina cerebral).
Doenças degenerativas – Conforme a Dra. Neoma explica, diagnósticos como Parkinson e Alzheimer se caracterizam justamente pelo acúmulo de determinadas proteínas no cérebro. Além disso, a interrupção da atividade das ondas lentas (sono profundo) aumenta os níveis de deposição beta amilóide de forma aguda e a piora da qualidade do sono durante vários dias aumenta a deposição de proteína Tau (também relacionada a doenças neurodegenerativas). Estes efeitos são específicos para proteínas derivadas de neurônios, o que sugere que eles são impulsionados por alterações na atividade neuronal durante o sono interrompido. Desta forma, melhorar a qualidade do sono ou tratar distúrbios do sono poderia aumentar a depuração do beta amilóide e proteína Tau ao longo da vida e auxiliar na prevenção da doença de Alzheimer e doenças neurodegenerativas.
Ainda que o desenvolvimento dessas doenças acontece por uma série de fatores ainda não totalmente esclarecidos, uma coisa já se sabe: a má qualidade do sono pode ser um deles. “Essa é mais uma comprovação da importância de respeitar os ritmos do dia e da noite e não apenas do ato de dormir, para que nossa vida funcione da melhor maneira possível”, diz a médica.
Ela enfatiza ainda que há uma grande discussão na medicina sobre um número certo de horas de sono, mas “sabemos que oito horas é suficiente”. No entanto, acrescenta, há pessoas que com seis ou sete horas se sentem bem, e há pessoas que precisam de oito, nove, dez horas de sono para se sentir descansado. Nesse sentido, “é muito importante a gente entender que essa quantidade de horas não é um fator específico, exclusivo, e que devemos observar ações que precisam ser modificadas no nosso dia a dia para uma noite de sono mais reparadora”, destaca a professora, enumerando algumas dicas para a hora de dormir:
- Prepare o ambiente, diminua as luzes e estímulos, evite falar alto, ter discussões e resolver problemas na hora de dormir;
- Escolha bem os alimentos, faça a última refeição até duas horas antes de dormir, evitando comidas muito gordurosas;
- Faça atividade física;
- Evite uso de telas na hora de dormir;
- Faça atividades relaxantes, como ler livros ou colocar músicas brandas.