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Estudo sobre Doença de Silicone: especialista aborda o tema

A investigação criteriosa, realizada com um grande número de mulheres, traz uma forte evidência de que a doença do silicone, pelo menos entre as pacientes oncológicas, é algo que podemos considerar como quase inexistente”, afirma especialista

Foto: Divulgação

Pesquisa publicada em uma das revistas científicas mais conceituadas na área de oncologia traz uma notícia tranquilizadora para pacientes com câncer de mama que necessitam da prótese de silicone para reconstrução mamária e para aquelas que buscam também o recurso estético para melhorar a autoestima, mas se assombram com a possibilidade de desenvolver a chamada doença do silicone. “A investigação criteriosa, realizada com um grande número de mulheres, traz uma forte evidência de que a doença do silicone, pelo menos entre as pacientes oncológicas, é algo que podemos considerar como quase inexistente”, afirma o mastologista Cícero Urban, de Curitiba/PR, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM).

Após a mastectomia, o tratamento cirúrgico – recomendado para cerca de um terço das mulheres com tumor de mama invasivo ou carcinoma ductal in situ, e, também, para aquelas com predisposição genética para câncer de mama que optam pela mastectomia profilática, a reconstrução mamária com implante de silicone é uma aliada da qualidade de vida das pacientes. Nos últimos anos, porém, o uso de implantes mamários de silicone vem sendo questionado pela imprensa leiga, por perfis em redes sociais, bem como por grupos da área médica. Relatos sobre sintomas associados aos implantes, sem qualquer evidência ou estudos sérios e aprofundados, têm dado nome a uma condição não codificada pela Classificação Internacional de Doenças (CID): doença do silicone, também chamada de siliconose ou síndrome autoimune induzida por adjuvantes.

Com o propósito de detectar evidências sobre a doença do silicone, o estudo multicêntrico “Breast implant illness after reconstruction with silicone breast implants”, publicado pela importante revista médica Journal of the National Cancer InstituteJNCI, envolveu 9.590 mulheres, sobreviventes de câncer de mama, tratadas entre 2000 e 2015 em seis grandes hospitais regionais da Holanda. Nessa grande amostragem, os pesquisadores holandeses avaliaram grupos compostos por mulheres com próteses de silicone aplicadas na reconstrução mamária (20,7%) e pacientes que passaram por mastectomia e não tinham próteses (21,2%).

De acordo com o mastologista Cícero Urban, “no longo período de acompanhamento dos dois grupos de pacientes, o estudo demonstra que não houve diferença entre as que passaram pela reconstrução com prótese e as mulheres que não fizeram reconstrução mamária”.

Nas participantes do estudo, os pesquisadores detectaram diversos sintomas, como dor de cabeça, dor muscular, fadiga, suor noturno, neuropatia, problemas cognitivos, depressão, ansiedade, perda de cabelo, intolerância alimentar, fraqueza muscular, palpitações e dores nas juntas. “As pessoas, de maneira geral, podem apresentar essas queixas no dia a dia, independentemente do uso de próteses de silicone. De fato, como reforça a pesquisa, os sintomas são muito genéricos e não se associam à doença do silicone”, diz Urban.

De acordo com o mastologista, não há uma estatística mundial sobre a doença do silicone, “até porque não sabemos se ela existe de fato”, ressalta. Em pacientes que usam próteses mamárias há muitos anos, Urban observa a total ausência de sintomatologia compatível com uma relação de causa e efeito. A título de esclarecimento sobre informações que vêm sendo difundidas principalmente em redes sociais, o especialista destaca que o carcinoma de células escamosas e o linfoma associado a próteses são duas enfermidades distintas que não se configuram como doença do silicone. “Na verdade, trata-se de tumores associados à prótese de silicone, que são muito raros.” Linfoma associado ao silicone e o carcinoma de células escamosas são doenças distintas, acrescenta.

O estudo publicado na revista JNCI, segundo Urban, também pode ser considerado sob o aspecto prático no dia a dia do consultório de mastologia. “As mulheres com câncer de mama têm diversos sintomas relacionados ao tratamento oncológico, que é uma experiência difícil, mas até hoje não diagnostiquei com a doença do silicone uma paciente sequer que teve a mama reconstruída com prótese”, diz.

Para Cícero Urban, o combate à desinformação sobre a doença do silicone e de outras condições que carecem de comprovações científicas é fundamental. Segundo ele, “é importante também que as mulheres, em nome da qualidade de vida, continuem se beneficiando de um recurso comprovadamente seguro, tanto para reconstrução mamária quanto para fins estéticos, com ganhos significativos em autoestima e bem-estar”.

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