Idade média da maternidade no Brasil pode chegar aos 31,3 anos em 2070
O adiamento para ter filhos reflete tendências globais e destaca a importância da reprodução assistida para mulheres que desejam planejar a gravidez
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O aumento da idade média da maternidade é um fenômeno global, observado em diversos países, e o Brasil não é uma exceção. Segundo projeções divulgadas recentemente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2000, as mulheres tinham filhos com 25,3 anos, e em 2020, com 27,7 anos. A previsão para o ano de 2070, é que essa faixa etária chegue aos 31,3 anos.
Analisando um recorte regional, de acordo com levantamento da Fundação SEADE, do governo de São Paulo, divulgado em maio deste ano, já é perceptível essa mudança na idade em que mulheres paulistanas estão se tornando mães. Nos últimos 12 anos, a média materna passou de 27,2 para 29,1 no Estado de São Paulo. Os dados apontam ainda que 70,3% dessas mães têm entre 20 e 34 anos.
Além disso, ainda conforme as projeções do IBGE, a taxa de fecundidade da mulher brasileira também está passando por reduções. Em 2023, ela caiu para 1,57 filho por mulher, abaixo da taxa de 2,1 filhos, considerada necessária para garantir a reposição populacional, e continuará a cair até 2041, quando deve atingir 1,44 filho por mulher.
Esse movimento acompanha os padrões já vistos em outros lugares do mundo, onde a média gestacional é mais elevada. Estados Unidos, Reino Unido e Japão, de acordo com um relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), por exemplo, registraram um aumento na idade média das mães, impulsionada por movimentos semelhantes aos vistos aqui no país, como a priorização da carreira, maior acesso à educação, e a busca por estabilidade financeira.
Para Oscar Duarte Filho, especialista em reprodução assistida da Vida Bem Vinda, unidade do FERTGROUP, de São Paulo/SP, é importante oferecer alternativas viáveis para quem deseja adiar a maternidade sem abrir mão de ter filhos futuramente. “Durante décadas, a idade era vista como um fator determinante para a fertilidade feminina. No entanto, os tempos mudaram e, hoje, devido ao acesso e popularização de tecnologias de reprodução humana assistida, muitas mulheres podem realizar o sonho da maternidade mais tardiamente, em idades mais avançadas”, afirma.
Apesar do Brasil ter avançado em relação ao alcance de tais tecnologias, como mostram os dados do Sistema Nacional de Produção de Embriões (SisEmbrio) da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que indicam que em 2022 o país registrou um total de 97.312 embriões congelados, ainda há desafios em termos de democratização e conscientização.
“As clínicas de Reprodução Humana no Brasil desempenham um papel superimportante ao oferecer soluções que permitem às mulheres planejar a gestação de acordo com suas realidades e prioridades pessoais. Contudo, em comparação com países onde essas práticas já são difundidas, ainda estamos em processo de expansão e consolidação dessas técnicas”, comenta.
O especialista pontua que, mesmo com a mudança das dinâmicas familiares, pessoais e profissionais, o fenômeno do aumento da idade média materna pode ter implicações diretas na saúde reprodutiva, “uma vez que a fertilidade feminina passa a declinar após os 35 anos”, frisa.
Maternidade e uma nova realidade reprodutiva – Nos últimos anos, tem-se notado uma mudança no comportamento reprodutivo feminino. O resultado? Um aumento expressivo na idade média materna, com um número crescente de mulheres tendo seu primeiro filho após os 35 anos.
Segundo uma pesquisa da Fundação SEADE – Sistema Estadual de Análise de Dados, no Estado de São Paulo, a taxa de mulheres que deram à luz entre 35 e 39 anos, teve um salto de 38 para 43 a cada mil, entre 2010 e 2021. Na faixa etária de 40 a 44 anos, esse número também subiu, passando de 10 para 12 a cada mil no mesmo período.
Esse fenômeno tem levado a uma maior conscientização sobre a importância da saúde reprodutiva e das opções disponíveis para as mulheres que desejam adiar a maternidade. Entre essas opções, destacam-se o congelamento de óvulos e a fertilização in vitro, que têm se tornado cada vez mais comuns.
“Em um procedimento relativamente simples, os óvulos são coletados e congelados para uso posterior, o que permite a mulher preservar sua fertilidade para o futuro”, diz Oscar Duarte, que complementa “congelar óvulos em uma idade mais jovem pode aumentar as chances de sucesso em uma gravidez futura, uma vez que a quantidade e a qualidade dos óvulos tendem a diminuir com o tempo”.
A fertilização in vitro envolve a fertilização em laboratório, seguida da transferência dos embriões para o útero. “A combinação do congelamento de óvulos com a fertilização in vitro oferece uma dupla segurança: os óvulos são preservados na melhor fase da fertilidade da mulher, e a FIV possibilita a utilização desses óvulos em um outro momento, melhorando as chances de uma gravidez bem-sucedida após a triagem e seleção dos melhores embriões para implantação no útero”, finaliza.