Lesão obstrutiva nas artérias carótidas pode causar AVC
Fatores de riscos como envelhecimento, hipertensão, diabetes, tabagismo, colesterol alto contribuem para a formação de placas de ateroma que promovem a obstrução dos vasos
As carótidas são os vasos localizados na região cervical, responsáveis pela maior parte do suprimento sanguíneo para o cérebro, juntamente com as artérias vertebrais que, na região intracraniana se comunicam por uma rica rede de circulação colateral. Por conta de suas características anatômicas e de fluxo, associadas aos fatores de riscos como envelhecimento, hipertensão, diabetes, tabagismo e dislipidemia, a bifurcação carotídea situada no pescoço, frequentemente é sede de formação de placas de ateroma que podem promover o entupimento do vaso ou, ainda, com mais frequência, liberar fragmentos na corrente sanguínea que irão interromper agudamente o fluxo de sangue para determinada área do cérebro. Essa descontinuação provoca o que conhecemos como isquemia cerebral.
Lesões obstrutivas nas artérias carótidas são responsáveis por 15% a 20% de todas as isquemias cerebrais, também conhecidas como Acidente Vascular Cerebral (AVC) Isquêmico. A prevalência dessas lesões na população idosa varia e pode atingir até 25% em pacientes também portadores de doença coronariana ou de obstruções em artérias dos membros inferiores. O grande desafio é que somente uma pequena parte dos AVCs (15%) é precedida por um sinal de alerta ou sintomas neurológicos transitórios. A grande maioria dos pacientes apresenta, já na primeira manifestação clínica, sequelas neurológicas que permanecerão de forma definitiva.
Conforme explica a Dra. Marcia Maria Morales, o AVC ou Acidente Vascular Encefálico (AVE) é causa relevante de mortalidade e incapacidade física. A hipertensão arterial sistêmica (HAS) está associada a um elevado risco de doença carotídea e o seu tratamento relaciona-se com a redução significativa do risco de AVE e de progressão de placa carotídea. “Este é o mais importante fator de risco para AVE, isquêmico ou hemorrágico, passível de modificação. Setenta e sete por cento dos pacientes com algum tipo de AVE são portadores de HAS”, declara a médica, que é cirurgiã vascular e integrante da Comissão para Tratamento das Doenças Carotídeas da Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular Regional São Paulo (SBACV-SP).
Prevalência – A aterosclerose (acúmulo de placas de gordura, cálcio e outras substâncias nas artérias) é, sem dúvida, o agente causal mais relevante e presente em 90% das vezes. Outras causas menos frequentes podem estar relacionadas à obstrução carotídea extracraniana, como dissecção, displasia fibromuscular, vasculites e traumas arteriais. A especialista diz que, “a formação de uma placa de ateroma parece estar atrelada ao processo de envelhecimento dos seres humanos e de forma sistêmica, ou seja, indivíduos suscetíveis geralmente apresentam a doença em vários territórios, configurando populações de risco para isquemia coronariana, para AVE e para as obstruções arteriais periféricas, simultaneamente”.
No Brasil, os dados sobre a prevalência do AVE não são abundantes, mas a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), fundamentada em inquérito epidemiológico de base domiciliar, estimou, em amostra representativa nacional, a presença de 2.231.000 pessoas com AVE e 568.000 com incapacidade grave. A prevalência pontual foi de 1,6% em homens e de 1,4% em mulheres. A incapacidade grave foi de 29,5% em homens e de 21,5% em mulheres. Uma porcentagem significativa de todos os acidentes vasculares encefálicos, que varia de 10% a 15%, decorre de trombos originários de placas de ateroma que causam estenoses acima de 50% na bifurcação carotídea, conforme consta no site da Scielo.
“O diagnóstico da doença carotídea nos proporciona a oportunidade de inserir o paciente em programas de vigilância dos fatores de risco, de uso de medicamentos apropriados e de seleção para tratamento invasivo, quando indicado. Com isso, reduzimos não somente a ocorrência de isquemia cerebral e suas sequelas, mas, também, a mortalidade cardiovascular como um todo, trazendo grande benefício para essa população”, revela a cirurgiã vascular.
Prevenção – Segundo a Dra. Marcia Morales, a realização de qualquer atividade física reduz a chance em 20% de se ter uma estenose carotídea. Também é importante controlar a obesidade, a HAS, o diabetes, evitar o tabagismo e ter uma dieta balanceada, evitando o aumento no colesterol.
Para o presidente da Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular – Regional São Paulo, Dr. Fabio H. Rossi, é necessário educar a população sobre a alta prevalência e a gravidade, bem como a maneira de controlar os fatores de risco. Além disso, é fundamental informar quais são os principais sintomas do AVC.
Nos casos mais graves, que cursam com deficit motor, como paralisia facial ou de membros, é muito fácil identificá-lo, ressalta. Já nos casos em que não existem sintomas exuberantes, uma dica é usar a técnica mnemônica do SAMU, pedindo para que a pessoa sob suspeita sorria, abrace, cante uma música ou fale o endereço onde mora. Se houver alguma alteração, é preciso encaminhar o paciente imediatamente a um serviço de emergência para que, se for confirmado o diagnóstico, haja rápida desobstrução do vaso comprometido.
Conforme alerta, na ocorrência do AVC, o tempo entre o diagnóstico e a imediata ação da instituição de tratamento, que envolve a desobstrução da artéria por cirurgia ou cateterismo, é muito importante. “Quanto mais precoce o tratamento, menores são os riscos de sequelas graves”, enfatiza o médico.