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Mielomeningocele – que doença é essa que afeta 1,8 a 2,28 de 1000 nascidos?

Hospital Vila da Serra conta com uma equipe altamente qualificada para o tratamento da mielomeningocele

Uma das doenças que vem chamando a atenção dos profissionais médicos é a mielomeningocele, mais conhecida por “espinha bífida”. Esta patologia atinge crianças, já em sua formação uterina, e caracteriza-se pelo fechamento parcial do tubo neural embrionário, levando a uma deformidade da coluna vertebral. De acordo com a Dra. Vívian Lemos, coordenadora do Serviço de Cirurgia Plástica Estética, Reparadora e Microcirúrgica e da Comissão de Feridas do Hospital Vila da Serra, a incidência dessa doença no Brasil é muito semelhante a mundial e varia de 1,8 a 2,28 / 1000 nascidos, ou 0,5 a 5 casos por 1000 nascimentos. “Porem esta taxa varia muito com a localização geográfica e pode ser sazonal, variando em um mesmo local com o passar do tempo”, complementa o Neurocirurgião Pediátrico José Aloysio Costa Val Filho. Ele é chefe do Serviço de Neurocirurgia Pediátrica do Vila da Serra e Ex-presidente da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia Pediátrica e da Sociedade Mineira de Neurocirurgia.

Segundo os médicos Vívian Lemos e José Aloysio, a mielomeningocele é um defeito congênito onde a criança nasce com as estruturas expostas da medula em qualquer altura da coluna vertebral, mais comumente na região lombossacra. Como consequência, “temos o aumento do perímetro cefálico, originando o que denominamos hidrocefalia, ou seja, o acumulo de liquido no interior do cérebro. Quando isto ocorre quase sempre énecessário tratá-la também”. Outras consequências apontadas pelos dois especialistas são a retenção urinária e problemas de locomoção, esta última considerada pelo Ministério da Saúde a segunda causa mais comum de deficiência motora na infância.

Conforme explica a Dra. Vívian Lemos, as causas da mielomeningocele ou “espinha bífida” não são totalmente definidas, ”mas podemos citar como fatores que podem afetar o desenvolvimento desta estrutura medular o alcoolismo materno, o uso de drogas, a genética, o excesso de peso, o diabetes, e, a mais frequente e comum, a questão nutricional, onde a deficiência do ácido fólico (Vitamina B9), encontrada em folhas verdes escuras, pode levar ao nascimento de bebês com esta deformidade”.

Sobre esta vitamina, o Dr. José Aloysio ressalta a sua importância como forma de prevenção da doença. “O uso da complementação medicamentosa pelo ácido fólico é a única maneira conhecida no sentido de diminuir a incidência da mielomeningocele. Por isso mesmo, o ideal é que toda mulher em idade fértil, capaz de gerir uma criança, faça uso constate desta vitamina”, enfatiza.

Diagnóstico e Tratamento – A identificação da mielomeningocele é feita durante o período pré-natal, através da ultrassonografia morfológica, em torno da décima-segunda semana de gestação e de exames do líquido amniótico. Havendo a suspeita, são indicados os exames US morfológico e a Ressonância Magnética Fetal. Após o nascimento, o diagnóstico é feito pelo exame físico do recém-nascido.

Constatada a doença, crianças portadoras de mielomeningocele devem ser submetidas ao tratamento cirúrgico para o fechamento mais precoce possível das estruturas medulares abertas, a fim de evitar as infecções do sistema nervoso central (meningites).

Os cuidados intensivos são necessários para monitorização do perímetro cefálico que em 80% destas crianças podem estar aumentados por dificuldade de drenagem do líquor. Caso necessário, esses pacientes deverão ser submetidos também à drenagem para abdome (derivação ventrículo- peritonial) também de forma precoce, esclarece a Dra. Vívian Lemos, ao acrescentar que a cirurgia reparadora, hoje, é parte integrante deste tratamento cirúrgico inicial, independente do tamanho da abertura na coluna vertebral, como forma de reduzir as sequelas cicatriciais na região afetada.

Nesse sentido, complementa o Dr. José Aloysio, o tratamento pode ser feito em dois momentos. Primeiramente, quando o diagnóstico é realizado em idade gestacional precoce e a gestante e o pequeno feto têm condições, existe a possibilidade da cirurgia fetal. Este procedimento, que deve ocorrer por volta da 24 semana de gestação, é feito pela abertura do útero de forma a expor as costinhas do feto para a correção do defeito medular e posterior fechamento da pele. O segundo, o mais realizado, é após o nascimento. Neste caso é necessário que a criança tenha uma cesariana programada, acompanhada por um serviço capacitado em gestação de alto risco e UTI neonatal.

Após o tratamento, destaca o médico, a maioria das crianças desenvolve a hidrocefalia, ou seja, o acumulo de liquido no interior do cérebro, sendo necessário tratá-la. Além da hidrocefalia, há outros desdobramentos, alerta a Dra. Vívian Lemos. Segundo ela, “sabemos que a dificuldade de deambulação (ato de caminhar) e a falta de sensibilidade dessas crianças nos primeiros anos de vida podem levar ao aparecimento de úlceras e feridas crônicas na região lombossacra. Assim, o acompanhamento inicial favorece cicatrizes mais estáveis, de melhor qualidade e com o potencial de serem utilizadas para reparos futuros, inclusive dos osso da coluna”. Por isso mesmo, a atenção multidisciplinar é muito importante no processo de tratamento.

De acordo com o Dr. José Aloysio“ele se inicia com o obstetra, que faz o diagnóstico, com os especialistas em medicina fetal, que reafirmam o diagnóstico e conduzem a gestação, e, posteriormente, com os neurocirurgiões pediátricos, que tratam a criança com o apoio da cirurgia plástica, a equipe da UTI neonatal e os terapeutas de suporte, além de ortopedistas e urologistas infantis. Sem este time as chances de êxito são muito pequenas, com prejuízo para a criança”.

Hoje, o Hospital Vila da Serra / Nova Lima-MG conta com uma equipe altamente qualificada para o tratamento da mielomeningocele. Ela é composta por obstetras de alto risco, neurocirurgiões, neonatologistas, cirurgiões plásticos, cirurgiões pediátricos, ortopedistas, fisioterapeutas e psicólogos que trabalham do nascimento à vida adulta.

“Esse cuidado tem como objetivo tornar este pequeno paciente parte integrante da sociedade, diminuindo os problemas cognitivos, motores e as deformidades osteomusculares, e proporcionar à família o conforto necessário para superar as ansiedades do nascimento de um indivíduo tão especial”, conclui a Dra. Vívian Lemos.

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