Radioterapia em cinco dias: avanço que pode mudar o tratamento do câncer de mama no Brasil

Por Dra. Isabella Fabres: Radioterapeuta e responsável técnica pelo serviço de Radioterapia Hospital Meridional Vitória – Rede Kora Saúde. Tem residência médica em Radioterapia pelo Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo e pós-graduação em Cuidados Paliativos e Predisposição Hereditária ao Câncer pelo Hospital Israelita Albert Einstein.
O câncer de mama continua sendo um dos principais desafios de saúde pública no Brasil. Segundo estimativas do Instituto Nacional de Câncer (INCA), mais de 73 mil mulheres devem ser diagnosticadas anualmente com a doença entre 2023 e 2025. Diante desse número expressivo, é fundamental discutir não apenas o diagnóstico precoce, mas, também, a evolução dos tratamentos que podem melhorar a jornada das pacientes e otimizar recursos no sistema de saúde.
Entre os avanços mais promissores, destaca-se o chamado “ultrahipofracionamento da radioterapia” — uma abordagem que permite concluir o tratamento em apenas cinco sessões. Trata-se de uma mudança significativa frente ao modelo tradicional, que exige até 30 sessões diárias, ao longo de seis semanas.
Essa inovação não é especulativa, mas baseada em sólidas evidências científicas, como o estudo britânico FAST-FORWARD, publicado na respeitada revista científica “The Lancet”, que acompanhou mais de quatro mil mulheres por uma década e concluiu que a radioterapia em cinco dias apresenta eficácia equivalente e segurança comparável ao tratamento convencional. Além disso, mostrou menor risco de efeitos colaterais e impacto positivo na qualidade de vida das pacientes.
No Brasil, onde o acesso à radioterapia ainda é desigual — especialmente em regiões mais afastadas dos grandes centros urbanos —, essa abordagem tem o potencial de transformar o cenário do tratamento oncológico, ao permitir que mais pacientes sejam tratadas em menos tempo e com menos custo operacional.
A redução da quantidade de sessões não apenas diminui o desgaste físico e emocional das pacientes, como também libera vagas e recursos nos serviços de radioterapia, ajudando a reduzir filas e agilizar o início do tratamento — o que, sabemos, é essencial para aumentar as chances de cura.
Segundo o Consenso Brasileiro de Radioterapia Hipofracionada para Câncer de Mama, publicado em 2025, o ultrahipofracionamento é indicado para pacientes que não fizeram reconstrução mamária e que não necessitam de irradiação nos linfonodos regionais. A aplicação deve ser feita com técnicas modernas, como a radioterapia tridimensional (3D), que garantem segurança e precisão.
Importante destacar que nem toda paciente será candidata a esse tipo de protocolo. O tratamento deve sempre ser individualizado, respeitando as características clínicas e oncológicas de cada caso. No entanto, ampliar a discussão e estimular a incorporação dessa técnica em centros públicos e privados é uma medida inteligente, humana e urgente.
Portanto, a radioterapia em cinco dias é uma inovação com forte embasamento científico, aplicável em larga escala e que pode trazer impactos reais no combate ao câncer de mama. Em vez de ser vista como uma simples alternativa técnica, ela deve ser compreendida como um novo modelo de cuidado — mais eficiente, mais acessível e centrado na paciente.
Diante de tantos desafios enfrentados pela saúde pública brasileira, a adoção de soluções baseadas em evidências, que unem qualidade e eficiência, é o caminho mais responsável. Por isso, está na hora de colocar essa pauta no centro da agenda oncológica