Resistência antimicrobiana: uso indevido de antibióticos coloca em risco a saúde

No Brasil, o consumo cresceu mais de 30% em cinco anos
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Parte do avanço da medicina moderna se deve à eficácia dos antibióticos. No entanto, o uso incorreto, indevido e excessivo ameaça colocar em risco uma das maiores conquistas da saúde pública. Durante a Semana Mundial de Conscientização sobre o Uso de Antimicrobianos (WAAW, do inglês “World Antimicrobial Awareness Week”), promovida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) anualmente de 18 a 24 de novembro, especialistas reforçam a urgência em conter a crescente resistência antimicrobiana.
Com o tema deste ano, “Aja agora: proteger nosso presente, garantir nosso futuro”, a campanha da OMS busca mobilizar governos, profissionais de saúde, farmácias e a sociedade civil. Segundo alerta recente da ONU, entre 2016 e 2023 houve um aumento de 40% na resistência antimicrobiana em amostras laboratoriais monitoradas globalmente. Segundo o otorrinolaringologista Dr. Fabrizio Romano/São Paulo/SP, “esse crescimento é preocupante e pode comprometer a efetividade de tratamentos básicos, transformando infecções simples em doenças de alto risco”.
Superbactérias – No Brasil, o cenário também é alarmante: uma pesquisa publicada na revista Antimicrobial Resistance & Infection Control, mostra que o consumo de antibióticos aumentou 31,2% entre 2014 e 2019, ultrapassando 59 milhões de unidades vendidas. Além disso, dados da Sociedade Brasileira de Infectologia apontam que quase um quarto dos brasileiros utilizou antibióticos por conta própria no último ano, principalmente para tratar gripes e resfriados — infecções geralmente de origem viral, que não exigem esse tipo de medicamento. Esse comportamento, alerta o Dr. Fabrizio, acelera o surgimento das chamadas “superbactérias”, hoje responsáveis por mais de 1,2 milhão de mortes por ano no mundo. “Quando usamos antibióticos sem necessidade, favorecemos a seleção de microrganismos resistentes, tornando as infecções mais difíceis de tratar e enfraquecendo nossas opções terapêuticas no futuro”, explica o especialista.
O tema vem ganhando força nas agendas globais de saúde. Em 2024, durante as reuniões do G7 e do G20, o Brasil reforçou seu compromisso com a abordagem de “Saúde Única”, que integra saúde humana, animal e ambiental no enfrentamento desse desafio. Preservar a eficácia dos antibióticos é uma responsabilidade compartilhada. A orientação correta, aliada à educação em saúde e à adoção de políticas públicas eficazes, é essencial para garantir que esses medicamentos continuem salvando vidas nas próximas décadas, ressalta o médico, enfatizando, a seguir, o uso correto de antibióticos:
- Não compre ou tome antibióticos sem a receita médica;
- Não tome antibióticos indicados por colegas, amigos, vizinhos ou parentes, mesmo quando indicados para outras pessoas para tratamento de sintomas semelhantes aos seus;
- Não insista com seu médico para lhe prescrever antibiótico quando não for necessário;
- Apenas o profissional médico saberá qual é o melhor antibiótico para o tratamento da sua infecção bacteriana;
- Respeite sempre a dose e o horário indicado na receita médica;
- Complete todo o tratamento com o antibiótico, mesmo se já estiver se sentindo melhor;
- Em caso de uma nova infecção, não utilize a sobra de antibióticos usados no tratamento de infecções anteriores, a não ser que recomendado pelo médico.

