Síndrome da Impostora – a insegurança em viver a própria vida
Por Julia Massa: Jornalista | Social Media | Analista de Marketing
Você já ouviu falar na “Síndrome da Impostora”? O assunto ganhou visibilidade nos últimos anos quando personalidades como Michelle Obama, ex-primeira dama dos Estados Unidos, vieram a público falar sobre o constante sentimento de dúvida em relação às suas próprias conquistas.
Se você ainda não tem conhecimento a respeito, não vou alimentar sua curiosidade, porque saber do que se trata é importante para que entenda o conteúdo que está por vir. Apesar de ter se popularizado como “síndrome”, os estudos realizados até agora o consideram um “fenômeno” e não um distúrbio, que se caracteriza pela sensação constante de que o sucesso atingido não foi merecido e, tal sensação, acomete majoritariamente mulheres.
Embora tenha ganhado destaque relativamente há pouco tempo, o conceito já havia sido apresentado em 1978, em um artigo publicado pelas pesquisadoras norte americanas Pauline R. Clance e Suzanne A. Imes, cujo título é “O fenômeno do Impostor em mulheres bem sucedidas: dinâmicas e intervenções terapêuticas”. (“The Impostor Phenomenon in High Achieving Women: Dynamics and Therapeutic Intervention”, em seu idioma de origem).
No estudo realizado para escrever o artigo, elas analisaram 150 mulheres que, merecidamente, haviam alcançado sucesso em suas carreiras. Ainda assim, com excelente trajetória acadêmica e conquistas profissionais reconhecidas publicamente, percebeu-se que boa parte dessas mulheres tinha uma tendência à autodepreciação que as impossibilitava de se valorizarem como deveriam.
Ainda hoje, décadas depois, essa é uma tendência. Se, predominantemente, os homens tendem a reconhecer ou até superestimar as suas conquistas, as expectativas associadas ao papel da mulher na sociedade as fazem desconfiar da sua própria inteligência — o que, irrevogavelmente, de forma direta ou indireta, traz consequências negativas às suas vidas. Logo, é pertinente dizer o óbvio: é preciso que nós, mulheres, principalmente inseridas no mercado de trabalho, fiquemos atentas aos efeitos indesejados desse fenômeno, que pode, inclusive, desencadear ou andar lado a lado com transtornos como a ansiedade e a depressão.
Alguns deles são:
- Acreditar não ser boa o suficiente (sentimento de fraude)
- Ansiedade após atingir bons resultados
- Sensação de não pertencimento ao meio onde se está (principalmente corporativo)
- Insegurança em ser avaliada, tendo muito medo da comparação
- Dificuldade em receber elogios (podendo se sentir envergonhada mediante tal situação
- Perfeccionismo e baixa autoestima
- Receio de não conseguir repetir bons resultados (mesmo que já alcançados com êxito anteriormente)
Então, se posso e devo usar esse espaço para algo, finalizo trazendo um questionamento e dois conselhos. A começar pelo questionamento, extraí do livro “Aurora, o despertar da mulher exausta” da comunicadora Marcela Ceribelli, uma frase que me acertou em cheio “Será que o tempo precisa sempre estar em falta e o nosso corpo no limite para nos sentirmos dignas de sucesso?” Pois bem, mesmo respondendo com segurança que não, essa sensação de escassez de tempo e cansaço acaba sendo frequente na minha rotina e de tantas outras mulheres. E percebi o quão problemático é “ter” que me sentir assim para cumprir um dia com êxito e mais problemático ainda era me orgulhar disso de alguma forma. É… vale refazer esse questionamento quantas vezes for preciso e nos lembrar que a resposta deve ser: não.
Para fechar vamos aos dois conselhos:
Primeiro, se coloque para cima, você precisa ser sua melhor amiga e não o contrário. Dicas práticas:
- Verifique se seus pensamentos fazem sentido (tente se escutar de fora para dentro)
- Busque reconhecer seus talentos e reforçar seus pontos fortes (liste-os se preciso)
- Avalie seu trabalho de forma técnica
- Peça feedbacks para pessoas que você confie
Segundo e não menos importante, se precisa de ajuda, busque ajuda – de familiares, amigos e, principalmente, auxílio profissional. O acompanhamento com psicólogos, por exemplo, em muitos momentos é fundamental em nosso processo de autoconhecimento e valorização.
Entenda, quando o cenário é a sua vida, você não é coadjuvante e muito menos impostora, mas, sim, a personagem principal.