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Técnica inovadora salva vidas de recém-nascidos com asfixia perinatal

Foto-crédito: Pixabay

A asfixia perinatal é uma condição que acomete recém-nascidos que apresentam dificuldades na oxigenação durante o trabalho de parto ou após o nascimento. Estima-se que, aproximadamente, 20 mil crianças nasceram com falta de oxigenação no cérebro em um período de 12 meses, no Brasil. Esta condição pode oferecer riscos de lesões irreversíveis do sistema nervoso central, ocasionando comprometido motor, surdez, cegueira, dificuldades ao deglutir ou até mesmo a morte.

A Santa Casa de Misericórdia de São Paulo é pioneira ao incluir em sua rotina de atendimentos o protocolo de hipotermia terapêutica para favorecer a sobrevivência e o desenvolvimento neurológico de recém-nascidos. Esta técnica aplicada na unidade de tratamento intensivo do hospital visa induzir o resfriamento controlado da temperatura corporal do recém-nascido para preservação do sistema nervoso central.

Cerca de 23% das crianças que evoluem para a asfixia perinatal têm chances de evoluir para o óbito. “A hipotermia é uma técnica neuroprotetora que deve ser iniciada em até seis horas após o parto para que recém-nascido não desenvolva um quadro de encefalopatia hipóxico-isquêmica, caracterizada pela interrupção global do fornecimento de nutrientes ao encéfalo, principalmente oxigênio e glicose, levando à lesão irreversível”, explica Dr. Maurício Magalhães, chefe do Serviço de Neonatologia da Santa Casa.

A atendente Camila de Souza Lima Trindade teve uma gestação muito tranquila e seguia à risca o pré-natal de sua filha Pietra. Contudo, ao completar as 38 semanas, foi surpreendida com uma dor intensa devido a um descolamento de placenta, precisando fazer uma cesariana de emergência.

“Fui para o centro cirúrgico porque não tinha passagem para a bebê. Quando a Pietra nasceu os médicos estranharam porque ela não chorava e, imediatamente, perceberam que estava com asfixia. Eu estava desacordada, mas a médica me contou que eles ficaram 12 minutos na reanimação e depois a levaram para a UTI”, conta Camila. “A Pietra ficou na hipotermia pelo período de 72 horas e evoluiu muito bem. O resfriamento foi essencial para salvar minha filha”, complementa.

Protocolo – Resultados de um estudo conduzido pela Santa Casa mostram que a adoção do protocolo de hipotermia terapêutica é uma abordagem eficaz, segura e viável. Para que o procedimento tenha sucesso, a temperatura corporal deve ser mantida entre 33° e 34° pelo período de 72 horas.

Antigamente, os primeiros procedimentos de hipotermia eram realizados com bolsas de gelo. Entretanto, desde 2017, o hospital implantou em sua rotina a tecnologia ArcticSun, um sistema avançado de controle de temperatura que se destaca pela capacidade de monitorar e controlar a temperatura corporal de maneira precisa e não invasiva, além de oferecer programação automática e segura de hipotermia e normotermia. Esta tecnologia foi desenvolvida pela BD, uma das maiores empresas de tecnologia médica no mundo, e doada à Santa Casa de São Paulo.

Diferentemente das bolsas de gelo em que o corpo pode demorar a alcançar a temperatura de 33ºC a 34ºC, além de apresentar possíveis oscilações, o ArcticSun faz o controle automático da temperatura da água circulante no equipamento para que seja atingida ou mantida a temperatura alvo predefinida do recém-nascido.

Iniciativas como essas podem reduzir em até 15% a taxa de mortalidade e incapacidade neurossensorial causada pela asfixia perinatal. Para chamar a atenção para os cuidados com os pacientes desta condição, todos os anos a Santa Casa e o Instituto Protegendo o Cérebro e Salvando Futuros realizam ações de conscientização que defendem a adoção de novas políticas públicas para a prevenção da asfixia perinatal, que pode ser diagnosticada em consultas durante a gestação. “Apesar de não ser possível prever todos os casos, muitos deles podem ser evitados com pré-natal adequado e identificação do paciente de risco”, explica o chefe do Serviço de Neonatologia da Santa Casa.

“Minha filha ficou um mês na UTI e, hoje, é uma criança saudável, que faz acompanhamento médico e fisioterapia. O meu desejo é que mais hospitais também disponham desse equipamento para que possam salvar a vida de mais crianças”, finaliza Camila.

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