Trombofilia: aos primeiros sinais, procure um médico

Inchaço nas pernas, falta de ar, dor no peito, tosse com sangue, dor de cabeça intensa, visão turva ou confusão mental são sintomas que exigem atendimento imediato
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A trombofilia é uma condição que aumenta a predisposição do organismo na formação de coágulos sanguíneos, o que faz aumentar o risco de trombose e gerar complicações mais graves, como a embolia pulmonar. Estima-se que até 10% da população mundial apresente alguma modalidade leve da doença; as variedades mais graves são raras, afetando de uma a duas pessoas a cada 5.000 indivíduos. No Brasil, não há estatísticas consolidadas, mas estudos regionais indicam alta prevalência entre pacientes com histórico de trombose.
Segundo o cirurgião vascular Rafael de Athayde Soares, membro do Departamento de Cirurgia Experimental, Pesquisa e Educação Médica Continuada da Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular – Regional São Paulo (SBACV-SP), as causas podem ser hereditárias ou adquiridas, podendo afetar qualquer idade ou sexo.
“No primeiro caso, alterações genéticas, presentes em até 5% das pessoas de pele clara, aumentam a tendência de o sangue coagular excessivamente. Deficiências de proteínas que evitam a formação de coágulos e níveis elevados de homocisteína também estão entre os fatores genéticos associados. Já as causas adquiridas incluem síndrome do anticorpo antifosfolípide, câncer, cirurgias, longos períodos de imobilidade, uso de contraceptivos ou reposição hormonal, gravidez e algumas doenças autoimunes”, revela o cirurgião vascular.
Gravidez e trombofilia: atenção redobrada – Na gravidez, o corpo aumenta a capacidade de coagulação para reduzir a chance de hemorragia no parto. Em mulheres com trombofilia, esse mecanismo eleva o risco de trombose e pode provocar complicações como hipertensão, descolamento prematuro da placenta e perda gestacional. O perigo está relacionado ao fluxo sanguíneo mais lento, especialmente nas pernas, e à pressão do útero sobre a veia cava, dificultando o retorno venoso. Por isso, mulheres com histórico pessoal ou familiar de coágulos devem ser acompanhadas por hematologistas ou obstetras especializados.
Em alguns casos, alerta Dr. Rafael, “a aplicação de heparina, que é um medicamento seguro para o bebê, durante a gestação e no pós-parto, é fundamental. Também é necessário monitorar de perto o desenvolvimento do feto e a saúde da placenta”.
Outros fatores também podem potencializar os riscos em pessoas com trombofilia: tabagismo, sobrepeso, terapia hormonal e viagens prolongadas. O perigo aumenta quando há mais de um fator presente ou histórico familiar de trombose. Mesmo jovens saudáveis podem desenvolver coágulos após voos longos, intervenções cirúrgicas ou uso de contraceptivos hormonais. Em idosos, a trombofilia pode se somar a outras condições, exigindo cautela no uso de anticoagulantes devido ao risco de sangramento.
A investigação da trombofilia é indicada em casos de coágulos antes dos 50 anos, ocorrência repetida, trombose em locais incomuns (como cérebro ou abdômen), histórico familiar, abortos de repetição ou complicações gestacionais graves.
Medidas preventivas incluem parar de fumar, manter peso saudável, hidratar-se, praticar exercícios, movimentar-se em viagens longas, usar meias de compressão e, quando indicado, recorrer a medicamentos anticoagulantes sob orientação médica.
O tratamento busca prevenir e controlar a formação de coágulos. Para isso são utilizados anticoagulantes ou medicamentos mais modernos. Em casos como a síndrome do anticorpo antifosfolípide, a terapia pode ser contínua. Durante o período gestacional, não se usam anticoagulantes orais, e, sim, injetáveis, e, em alguns casos, ácido acetilsalicílico em baixa dose, sempre com acompanhamento pré-natal rigoroso.
Segundo o Dr. Rafael, o tratamento muda de acordo com o perfil do paciente. Jovens devem se proteger em situações de risco; gestantes precisam de medicamentos seguros e acompanhamento especializado, e idosos exigem atenção para evitar sangramentos.
Sinais de alerta – Inchaço repentino e doloroso em uma perna, falta de ar, dor no peito, tosse com sangue, dor de cabeça intensa, visão turva ou confusão mental são sinais que exigem atendimento imediato. Na gestação, sangramentos ou diminuição dos movimentos do bebê também são motivos de urgência.
Para as mulheres que planejam engravidar, o Dr. Rafael deixa um recado importante: “Se você tem histórico pessoal ou familiar de coágulos, converse com seu médico antes de engravidar. Um acompanhamento antecipado e personalizado pode garantir uma gravidez segura para você e seu bebê. Trombofilia não é uma sentença. Com informação, cuidado e apoio é possível realizar o sonho da maternidade.”