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Dia Mundial da Polipose Nasal: 24 de abril. Por que perder o olfato pode ser tão grave?

Por: Dra. Wilma Anselmo Lima / Professora Titular do Departamento de Oftalmologia, Otorrinolaringologia e Cirurgia de Cabeça e Pescoço da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo

Foto: Freepik

“Meu nariz está só entupido” ou “é só uma crise de sinusite, vou me medicar e já já passa”. São frases comuns como essa que precisamos ficar atentos e chamar atenção da sociedade para esses sintomas e para uma palavra estranha e desconhecida, que se tornou um pouco mais popular durante a pandemia da Covid e que significa a perda do olfato, a anosmia.

Apesar de ser um sintoma considerado inofensivo por muitos pacientes, não sentir cheiros pode representar riscos para a saúde e segurança das pessoas. Não é incomum recebermos relatos de pacientes que ingeriram alimentos estragados, não perceberam que uma panela estava queimando no fogão ou não identificaram um vazamento de gás. 

Além disso, o olfato está intimamente ligado à memória afetiva das pessoas, sendo um gatilho poderoso para lembranças e emoções. Pesquisas globais recentes revelaram que 9 em cada 10 entrevistados sobre a importância do olfato, afirmaram que esse sentido é essencial para situações relacionadas ao apetite e à memória.  

Contudo, para quem sofre de polipose nasal (rinossinusite crônica com pólipos nasais – RSCcPN), essa conexão com o mundo por meio do olfato pode ser gravemente prejudicada. Além da congestão nasal persistente, essa condição pode causar anosmia (perda total do olfato), hiposmia (redução do olfato), dor facial, sensação de pressão na cabeça e secreção nasal constante, principalmente na região posterior do nariz.  

Esses sintomas não só impactam a qualidade de vida, dificultando atividades simples como, saborear uma refeição ou sentir o cheiro de alguma coisa queimando no fogão, por exemplo, mas também podem levar a problemas como distúrbios do sono e fadiga crônica.  Caso você ou alguém próximo apresente esses sintomas, é hora de prestar atenção. Muitas vezes confundida com gripes, resfriados ou rinite, a Polipose Nasal é uma doença inflamatória crônica (pequenos tumores benignos) que bloqueiam as vias respiratórias e dificultam a respiração, pode impactar drasticamente a qualidade de vida dos pacientes.

Como os sintomas são comuns a outras condições, como gripes e alergias, muitos pacientes demoram a obter um diagnóstico adequado, convivendo por anos com o incômodo, sem saber que há tratamento específico para a doença. Estudos indicam que a RSCcPN é geralmente diagnosticada geralmente depois dos 30 anos. Entre os principais sintomas estão a obstrução nasal grave, secreção constante, pressão facial intensa, paladar e a anosmia após perda de olfato. Esses fatores comprometem aspectos importantes do dia a dia, como o sono, a alimentação e até mesmo a segurança, já que a incapacidade de sentir cheiros pode impedir que a pessoa perceba até mesmo um vazamento de gás ou fumaça de incêndio, por exemplo. 

O grande desafio para esses pacientes é que, mesmo quando buscam tratamento, muitos não encontram soluções definitivas. A abordagem inicial inclui o uso de medicamentos, por exemplo, corticoides nasais e lavagens nasais com solução salina. Nos casos mais graves, corticoides orais e antibióticos podem ser necessários. Quando o controle clínico não é o suficiente, a cirurgia se torna uma opção para remover os pólipos e restaurar a respiração.  

No entanto, um dos maiores desafios da RSCcPN é a recorrência: alguns pacientes relatam que, mesmo após a cirurgia, os sintomas voltam a aparecer, exigindo novos procedimentos. 

Felizmente, a medicina tem avançado significativamente. Atualmente, existem terapias biológicas inovadoras que agem diretamente nos mecanismos inflamatórios da doença, proporcionando melhor controle dos sintomas. Nesse sentido, novas tecnologias estão começando a chegar ao mercado brasileiro, aumentando as chances de prevenir o seu retorno após os tratamentos iniciais. Essas opções representam uma esperança para os pacientes que sofrem com os sintomas persistentes e que já passaram por vários tratamentos sem sucesso. 

Por tudo isso, é essencial que a RSCcPN receba mais atenção da comunidade médica e da população. Buscar orientação de um especialista ao surgimento dos primeiros sinais e sintomas e entender as opções de tratamento pode fazer toda a diferença na qualidade de vida dos pacientes.  

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