Doenças da Tireoide: atenção para sinais sutis. Eles podem revelar problema hormonal

Segundo a OMS, cerca de 60% das pessoas com doenças da tireoide não sabem que têm o problema, sendo a maioria mulheres acima dos 40 anos.
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“Procuramos um endocrinologista por orientação da pediatra, após eu notar que meu filho estava muito magro para a idade e com dificuldades na alimentação, além de um paladar bastante seletivo. O exame de TSH (exame de sangue que avalia a função da glândula tireoide) apresentou alteração. Exames complementares confirmaram o diagnóstico: hipotireoidismo e síndrome de Hashimoto, uma doença autoimune que afeta a tireoide”, conta Zilma Salmento, funcionária pública de 49 anos e mãe de um garoto de 12 anos.
Passado o susto, veio o alívio. “Há seis anos, ele usa hormônio diariamente para regular e, hoje, leva uma vida normal, pratica esportes semanalmente e está se desenvolvendo bem, dentro do esperado para sua idade”, comemora.
Arthur faz parte do grupo de cerca de 750 milhões de pessoas no mundo afetadas por doenças da tireoide, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Entre as mais comuns estão os nódulos tireoidianos, o aumento da glândula da tireoide, o câncer de tireoide, o hipotireoidismo e o hipertireoidismo, que pode causar sintomas como emagrecimento repentino, palpitações, ansiedade, insônia, suor excessivo, diarreia e tremores.
O alerta ganha força no recente 25 de maio, quando se celebra o Dia Internacional da Tireoide — data voltada à conscientização sobre a importância de ouvir os sinais do corpo e manter os exames em dia. Segundo a OMS, cerca de 60% das pessoas com doenças da tireoide não sabem que têm o problema, sendo a maioria mulheres acima dos 40 anos.
A farmacêutica Karina Rodrigues também viveu isso com o filho, hoje com um ano e cinco meses. “Ele tinha muita diarreia e passamos por diversos especialistas que, inicialmente, suspeitaram de alergia à proteína do leite. Mas, mesmo com fórmulas específicas, ele não melhorava, não ganhava peso e mantinha assaduras frequentes”, relata. Exames hormonais revelaram disfunção da tireoide. O quadro, associado a uma predisposição genética e desencadeado após uma infecção por Covid-19, passou a ser controlado com medicação oral. “Hoje, meu filho segue em tratamento. Sinto-me aliviada com o diagnóstico de hipertireoidismo e por ter uma orientação médica clara para cuidar dele.”
Segundo Adriana Aun, endocrinologista do Vera Cruz Hospital, em Campinas (SP), casos como esses não são tão frequentes, mas podem acontecer. “Hipotireoidismo e hipertireoidismo são mais comuns em adultos, especialmente mulheres, mas podem ocorrer também em crianças e adolescentes, geralmente por causas genéticas ou autoimunes”, explica.
Conforme observa, o hipotireoidismo infantil pode ser congênito — identificado no teste do pezinho — ou adquirido, como na tireoidite de Hashimoto, mais comum em famílias com histórico da doença. Exames simples, como a dosagem de TSH e T4, podem detectar alterações hormonais precocemente.
Adriana também alerta para grupos mais vulneráveis: “O hipotireoidismo é muito mais frequente em mulheres a partir dos 35 anos, e pode surgir após a gravidez, como na tireoidite pós-parto. Já o hipertireoidismo também é mais comum entre mulheres de 20 a 50 anos.”
Entre as causas autoimunes, estão a Doença de Graves, que acelera a atividade da tireoide, e a tireoidite de Hashimoto, que reduz a produção hormonal. Ambas têm ligação genética e podem se manifestar em diferentes fases da vida. Outros distúrbios incluem os nódulos tireoidianos, mais comuns com o avanço da idade — a maioria benignos, mas que exigem atenção especial em homens, devido ao risco maior de câncer. O câncer de tireoide, embora raro, tem sido mais frequente em mulheres entre 30 e 50 anos e costuma ser descoberto incidentalmente em exames de imagem.
Adriana acrescenta que fatores como excesso ou deficiência de iodo, estresse físico ou emocional intenso, flutuações hormonais (como na gravidez ou menopausa), infecções virais, uso de certos medicamentos e até exposição à radiação podem interferir no funcionamento da glândula.
Doenças da tireoide muitas vezes evoluem de forma silenciosa. “Não há uma regra para exames de rotina em toda a população, mas é altamente recomendável que mulheres acima dos 35 anos, gestantes, pessoas com histórico familiar, doenças autoimunes ou exposição à radiação façam a avaliação hormonal regularmente”, diz. Para quem está fora desses grupos, o TSH pode ser incluído nos check-ups a cada um ou dois anos, conforme orientação médica. “Com exames acessíveis e não invasivos, conseguimos detectar boa parte dos distúrbios ainda nos estágios iniciais, o que é decisivo para um tratamento eficaz, permitindo uma vida completamente normal quando há acompanhamento adequado.”
Além disso, hábitos saudáveis fazem toda a diferença na prevenção e controle dos sintomas. “Evitar o estresse, praticar atividade física e manter uma alimentação balanceada é fundamental. O iodo é essencial, mas o excesso também pode ser prejudicial. O mesmo vale para nutrientes como selênio e zinco, presentes em alimentos como castanha-do-pará, peixes e ovos”, recomenda.
Por fim, ela reforça que “mesmo sem sintomas, é recomendável fazer uma avaliação hormonal a partir dos 35 anos — especialmente mulheres. Mudanças no corpo, cansaço extremo ou alterações de humor nem sempre são normais: podem ser sinais de que a tireoide não está funcionando como deveria. E o endocrinologista é o profissional certo para investigar.”