Diabetes gestacional: riscos para o bebê e para a gestante/ Dia Nacional do Diabetes é celebrado em 26 de junho
Ginecologista e obstetra Gabriel Campos, do Neocenter Maternidade/BH: “caso a diabetes esteja mal controlada, há o risco de morte fetal”
Uma das maiores preocupações das gestantes é quanto a diabetes gestacional, doença específica da gravidez que pode gerar riscos tanto para o bebê quanto para a gestante. Caracterizada pelo aumento da glicemia (hiperglicemia) detectada durante o pré-natal, sem qualquer diagnóstico prévio, “a diabetes gestacional pode causar uma série de complicações, dentre elas o aumento da chance de crises hipertensivas, infecções mais graves, risco de uma cesariana e dificuldade de cicatrizações, entre outras. A longo prazo, estudos demonstram também que a diabetes gestacional pode aumentar a chance de a paciente desenvolver diabetes tipo 2, ou ter acometimentos cardiovasculares.
“Antigamente, acreditávamos que era uma doença que terminava na gravidez, mas, na verdade, tem que ser acompanhada de perto, ao longo de toda a vida”, alerta o ginecologista e obstetra Gabriel Campos, membro da equipe de Pré-natal de alto risco e de Medicina Fetal do Neocenter Maternidade, instituição referência em Minas Gerais.
Para o feto, relata, além dos distúrbios de peso e de líquido e comprometimento do crescimento, o bebê pode nascer com descontrole glicêmico. “Mas o pior, caso a diabetes esteja mal controlada, há o risco de morte fetal”, alerta o médico.
Segundo o protocolo de rastreamento e diagnóstico de diabetes melitus do Ministério da Saúde, “no Brasil sua incidência é de mais ou menos 16% das gestações. No resto do mundo, ela gira em torno de 15% a 18%, mas, enquanto especialistas, acreditamos que esse diagnóstico está subvalorizado. Esses valores devem ser bem maiores porque, infelizmente, em diversos locais do país o rastreio não é feito de forma adequada para todas as gestantes”.
Causas –A gestação é, naturalmente, um estado de resistência à insulina, hormônio responsável por levar a glicose, que está na corrente sanguínea, para dentro das células, e, consequentemente, para o embrião, contribuindo, dessa forma, com a sua nutrição. Esse processo acaba favorecendo o desenvolvimento da diabetes porque alguns hormônios produzidos pela placenta podem alterar a atuação da insulina, gerando, assim, um quadro de diabetes gestacional.
“Em linhas gerais, basicamente é uma alteração que os hormônios planetários geram, que, até certo ponto é fisiológico. Mas, em algumas gestantes o organismo não consegue agir da melhor forma possível e se descontrola, gerando níveis de glicemia mais elevados que o esperado”, explica Gabriel, que é também especializado em Ultrassonografia.
Diagnóstico – A doença é diagnosticada durante o pré-natal, tendo diversos protocolos para isto. “Utilizamos, conforme recomendação do Ministério da Saúde e da FEBRASGO, que na primeira consulta o médico deve solicitar todos os exames recomendados, dentre eles a glicemia de jejum”.
“A paciente realiza este exame em laboratório, com tempo pré-determinado de jejum. Se o resultado for menor que 92, está tudo bem. Se ficar entre 92 e 125 – o valor já é compatível à diabetes gestacional. Se for maior ou igual a 126, a paciente já possuía diabetes mellitus e não sabia”.
Contudo, “se ela passou nesse primeiro rastreio, com a glicemia menor que 92, entre a 24 e 28 semanas de gravidez, realiza-se, posteriormente, o teste de tolerância oral à glicose. Qualquer alteração em seu resultado é a confirmação de que a paciente tem diabetes gestacional”, informa o médico, destacando que, nesse caso, “devemos iniciar imediatamente o acompanhamento e tratamento”.
Tratamento – De acordo com o Dr. Gabriel Campos, ele se baseia, em manter um controle glicêmico adequado da paciente. Nesse sentido, “é importante acompanharmos sua curva glicêmica, aferir as glicemias, em todo o seu pré-natal, e, a partir dos resultados, traçar a linha terapêutica”.
Ele destaca também que toda paciente, não só a diabética, mas de risco habitual, tem que ser orientada quanto a uma dieta específica, com controle nutricional personalizado, bem como desenvolver um programa de atividade física durante toda a gravidez, especialmente as diabéticas. Essas, principalmente, devem contar com a ajuda de educador físico e nutricionista, para uma melhor condição de acompanhamento.
“Se durante o processo, ela não apresentar uma curva glicêmica adequada, podemos utilizar a insulina, tratamento padrão. Em casos mais complexos, acompanhamos conjuntamente com a equipe de endocrinologia”, acrescenta o médico, observando que, “atualmente, em casos específicos, podemos fazer uso da metformina. Este medicamento está sendo avaliado e sem recomendações claras, por isso não é a primeira escolha para o controle e tratamento da diabetes”.
Quanto a prevenção, o ginecologista e obstetra Gabriel Campos informa que “não temos como prevenir a diabetes gestacional com medidas específicas, mas sabemos que quando temos uma paciente que faz um acompanhamento pré-concepcional adequado, com controle de peso, da obesidade e das doenças de base, melhoramos em demasia o sucesso do tratamento e, muitas vezes, ela não desenvolve essa doença e quando essas medidas já são estabelecidas, conseguimos um controle mais adequado da doença”.
Finalizando, Dr. Gabriel Campos enfatiza ainda que toda grávida deve e precisa fazer atividade física adequada ao seu quadro clínico e controlar os seus fatores de risco com acompanhamento multidisciplinar.