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A importância do tratamento odontológico para pacientes com diabetes

Cirurgiã-dentista Nathalie Pepe Medeiros de Rezende: “visitas ao dentista têm como objetivo prevenir o aparecimento de infecções de origem odontogênica e controlar a doença periodontal

Você pode não saber, mas o diabetes, assim como outras doenças sistêmicas, tem relação direta com a cavidade oral. O diabetes descompensado pode predispor à uma série de alterações bucais como, a hipossalivação (diminuição do fluxo salivar), cárie, doença periodontal e infecções oportunistas a exemplo da candidíase e herpes simples. Por outro lado, doenças infecciosas na cavidade oral como, abscessos de origem odontogênica (infecções relacionadas aos dentes) e a doença periodontal descompensada, são hiperglicemiantes e podem levar a uma descompensação da doença.

Por essas e outras razões, o paciente diabético precisa visitar o dentista regularmente. “Essas visitas têm como objetivo prevenir o aparecimento de infecções de origem odontogênica e controlar a doença periodontal, evitando, assim, que essas alterações contribuam para uma maior descompensação do diabetes”, afirma a professora doutora Nathalie Pepe Medeiros de Rezende, professora da FOUSP (Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo), da Faculdade de Odontologia da APCD- FAOA e cirurgiã-dentista do Hospital Estadual Mário Covas/Santo André/SP.

Hiper e hipoglicemia – De acordo com a especialista, as alterações dentárias nos ossos e na gengiva estão relacionadas à descompensação do diabetes. “É comum haver um aumento no índice de cárie relacionado, principalmente, à hipossalivação, que acompanha o paciente nos períodos de descompensação (especialmente nos quadros hiperglicêmicos) e ao hábito de ingerir doces em momentos de hipoglicemia, sendo que, quanto maior a frequência de quadros hipoglicêmicos, maior o consumo de açúcar”, aponta.

Já o periodonto (osso alveolar e gengiva) sofre com uma doença periodontal severa, que acomete indivíduos mais jovens, com rápida perda óssea, mobilidade dentária, formação de bolsas periodontais, hiperplasia gengival inflamatória, sangramento espontâneo e abscessos gengivais e periodontais. “Essa alteração está diretamente relacionada com a descompensação frequente, quer seja por hipoglicemia ou hiperglicemia”, alerta a professora.

Sinais – Um dos primeiros sinais de alterações bucais em um paciente com diabetes, que não visita o dentista regularmente, é a halitose. “A halitose relacionada à doença periodontal chama bastante atenção, assim como a mobilidade dentária. O não tratamento dessa condição, bem como o controle do diabetes, pode levar à perda dentária”, alerta a cirurgiã-dentista.

Leões de cárie extensas, em especial na região cervical, podem levar à amputação da coroa dentária, com necessidade de tratamento endodôntico e reabilitador ou até mesmo à perda do dente, com implicações estéticas e funcionais. “Não podemos esquecer que um problema bucal de um paciente com diabetes pode ter repercussões em outras partes do corpo, em especial quando falamos de infecção de origem odontogênica, como abscessos relacionados aos dentes”, afirma. “A infecção pode migrar para espaços profundos, causando celulite, sepse e até mesmo morte”, alerta a professora de odontologia.

Visitas recorrentes – A periodicidade ideal para um paciente com diabetes visitar o consultório dentário varia de acordo com a sua condição bucal. “Pacientes com doença periodontal avançada devem fazer retornos a cada três a seis meses. Já pacientes bem compensados, sem complicações orais podem fazer retornos anuais”, orienta a especialista.

A prevenção padrão para esses pacientes engloba orientação de higiene, de dieta, orientação para autoexame da cavidade oral a fim de identificar possíveis alterações, além de orientações quanto a interrelação entre diabetes e saúde oral e vice-versa.

            Higienização – Muitos pacientes com diabetes não imaginam, mas precisam saber que para manter a higiene bucal em ordem, é preciso dar atenção a alguns detalhes. Confira:

  • A escovação dentária, com pasta fluoretada e utilização de fio ou fita dental, após cada refeição, é fundamental. O ideal é que a escolha da escova seja feita em conjunto com o dentista, mas, de modo geral, recomenda-se escovas com cabeça pequena e cerdas macias.
  • A presença de lesões iniciais de cárie (manchas brancas ativas) deve ser avaliada pelo dentista e, se necessário, deve ser prescrito bochecho fluoretado, ou pasta dentária com alto teor de flúor.
  • Bochechos com outras substâncias devem ser indicados pelo cirurgião-dentista em casos específicos.
  • A prescrição de saliva artificial spray ou gel deve ser feita pelo dentista e é essencial para pacientes com hipossalivação.
  • Mas lembrando que a principal recomendação é: cuide da compensação do diabetes, uma vez que grande parte das complicações está relacionada à doença fora de controle. “E, ao notar qualquer alteração bucal, procure o cirurgião-dentista, pois essa modificação pode ser um indicador de que o diabetes está descompensado”, alerta a especialista.

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