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A Terapia Ocupacional na recuperação de pacientes pós covid

A terapeuta ocupacional Valeska Martins: “A pandemia mudou significativamente o mercado de trabalho do terapeuta ocupacional, principalmente no atendimento ao paciente pós covid”

Com o advento da covid, uma das especialidades que vem atuando fortemente na recuperação dos pacientes sobreviventes ao vírus é a Terapia Ocupacional. Para saber mais sobre este profissional e como se desenvolve esse trabalho, o Portal Medicina e Saúde entrevistou a terapeuta ocupacional Valeska Martins Amaral Melo, graduada pela Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG, com residência em “Saúde do Idoso” pelo Hospital Risoleta Tolentino Neves. Atualmente é mestranda em “Estudos da Ocupação” pela UFMG. Integra o corpo clínico do Hospital de Transição Paulo de Tarso, em Belo Horizonte, onde atua, principalmente, na reabilitação de jovens, adultos e idosos pós AVC e pós covid. Como profissional liberal, oferece também atendimento domiciliar, na área de Gerontologia.

Como está o mercado de trabalho com o advento da covid? – Na área da saúde, a covid trouxe modificações nas formas de prestação de assistência. Vários profissionais optaram por cancelar atendimento domiciliar a grupos de maiores riscos, como idosos. Outros tantos se enveredaram na tele saúde, realizando atendimentos à distância por meios virtuais e eletrônicos. No contexto hospitalar profissionais foram contratados ou remanejados para atenderem as alas covid, intensificando o atendimento na fase aguda. Quando pensamos no pós covid, na fase pós aguda e crônica, a demanda aumentou significativamente, pois muitos indivíduos permanecem com sequelas, necessitando de reabilitação a médio e a longo prazos ambulatoriais e/ou à domicílio.

Quais as sequelas que os pacientes pós covid têm apresentado em relação a sua área de atuação profissional e como a Terapia Ocupacional pode atuar nesses casos? – Muitos pacientes pós covid podem apresentar alterações neurológicas, como perdas de memória, perda de concentração, perda de funções cognitivas, como resolução de problemas, além de perda muscular global, baixa saturação e queixa de fadiga e dispneia, que é falta de ar e dificuldade de respirar. Isso tudo impacto no desempenho efetivo e independente de suas atividades cotidianas. E é aí que o terapeuta ocupacional entra. Nosso foco é reabilitar o indivíduo para que ele seja capaz de realizar suas atividades diárias, e eu incluo aqui, o auto cuidado, tarefas domésticas, trabalho e lazer, com a máxima autonomia e independência possível. Para isso, o profissional lança mão de diversas ferramentas, como atividades que promovem estimulação cognitiva, atividades com foco em aumento de força e resistência funcional, graduando o nível de complexidade, aumentando peso e velocidade. Outra intervenção é fazer com que o próprio indivíduo crie estratégias para melhorar o seu desempenho, por meio da descoberta guiada. Nesse sentido, ele deve estabelecer metas e meios como atingi-las. Depois ele testa para ver se deu certo. Como exemplo, posso citar o caso de um paciente que teve como meta lavar toda a louça da pia, sem ajuda e sem cansar muito. Para isto, ele estabeleceu um plano, que era sentar em frente à pia, lavar primeiro os copos, descansar, depois lavar os talhares, descansar, e, por último, lavar os pratos. Ele testou esta estratégia e funcionou. Também podemos orientar sobre manejos e técnicas de conservação de energia de forma que o sujeito seja capaz de realizar suas atividades com menor fadiga. Por último, eu destaco a indicação de adaptações para favorecer o desempenho funcional, por exemplo, escova para banho, com cabo alongado, para facilitar o alcance de partes do corpo, como o dorso e os pés, rodo de limpeza, cuja torção do pano é realizada pelo próprio equipamento, entre outras orientações nesse sentido.

Qual é o índice de sucesso? – Ele varia conforme o quadro do paciente, o tempo em que ficou internado com covid, principalmente o tempo de internação no CTI, comprometimentos causados pelo coronavírus, e eu destaco aqui, o comprometimento pulmonar, como fibrose pulmonar, as comorbidades do paciente e o seu prognóstico clínico e funcional. Casa paciente é um paciente. Não há receita de bolo. O exemplo que dei anteriormente, do paciente que criou a própria estratégia para lavar as louças, sem ajuda e sem fatigar, serviu para ele, mas isto não quer dizer que servirá para outros pacientes. Nós vamos adequando nossas intervenções de acordo com as limitações de cada paciente e observação do quanto ele está evoluindo ou não. A força de vontade do paciente, a adesão dele às nossas intervenções e o engajamento dos familiares e cuidadores têm um papel fundamental no sucesso da reabilitação. Se o paciente e familiares não seguem nossas orientações, a reabilitação pode levar mais tempo do que o esperado. Por último, eu destaco que o índice de sucesso também depende de uma equipe interdisciplinar, que faz um bom trabalho conjunto.

Trabalho em equipe, de forma interdisciplinar, como isto acontece, ou melhor, como é esta interrelação? – Dentro desse quadro de assistência ao paciente não só de covid, mas em qualquer outra situação que exija maior atenção e cuidados, é imprescindível que o TO trabalhe de maneira interdisciplinar, com profissionais da Fisioterapia, Fonoaudiologia, Nutrição e da Medicina, todos falando a mesma língua, ou seja, com todos os raciocínios terapêuticos alinhados, os planos de cuidado, conforme o prognóstico clínico e funcional do paciente. Para isto, é fundamental que ocorram reuniões periódicas, com discussão de casos e compartilhamento de saberes de cada área. Nenhuma decisão deve ser tomada de forma isolada, por um profissional da equipe.

Quais os sintomas que pacientes pós covid devem observar quanto as sequelas deixadas pelo vírus? – É importante que pacientes pós covid atentem-se à fraqueza muscular, baixa saturação, fadiga, dispneia, taquicardia pronunciada, intolerância ortostática, que é a dificuldade de ficar muito tempo em pé sem sentir tontura, palpitação e mal estar. Estas sequelas, além de poderem impactar negativamente na realização nas atividades diárias, já comentadas acima, podem gerar risco de queda. Então, é importante que esses pacientes realizem exercícios para fortalecimento muscular e ganho de resistência funcional, e sigam as orientações sobre o manejo de técnicas de conservação de energia e sobre a maneira adequada de mudar de posições, de deitado para assentado e para de pé, e também que eles se mantenham sempre bem hidratados e bem nutridos.

Qual a mensagem pode deixar não apenas para os sobreviventes da covid, mas para todos nós? – A mensagem que deixo para todos é cuidem-se, vacinem-se, continuem evitando aglomerações, usando máscaras e higienizando as mãos. Amem-se! Digam hoje a seus familiares e amigos o quanto são importantes em suas vidas. Abracem se, beijam se. Não deixem para amanhã. A vida é breve e deve ser aproveitada em cada segundo.

Serviço:

Contato com a Terapeuta Ocupacional Valeska Martins: 31- 9 9995-1825

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