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Câncer de pulmão: mais letal no mundo, apesar dos avanços no tratamento e ser evitável na maioria dos casos

                                                                  Foto: Divulgação

Apesar dos avanços no diagnóstico, das técnicas cirúrgicas e tratamento sistêmico, que aumentaram a expectativa de vida dos pacientes, o câncer de pulmão que na última terça-feira (9), foi a causa da morte da cantora Rita Lee, continua sendo o mais letal entre todos os tipos de câncer. São 1,8 milhão de mortes anuais, segundo o Globocan, da Agência Internacional para Pesquisa do Câncer da Organização Mundial da Saúde (IARC/OMS). O cigarro é causa direta de 80% a 90% dos tumores malignos do pulmão.

No Brasil, segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA) o câncer de pulmão é o terceiro mais frequente entre homens e o quarto mais comum entre as mulheres, com estimativas de 32.560 novos casos em 2023, sendo 18.020 entre homens e 14.540 em mulheres. De acordo com o Atlas de Mortalidade por Câncer – SIM, em 2020 foram registradas 28.620 mortes por câncer de pulmão no Brasil. O câncer de pulmão, quando diagnosticado em estágio inicial, apresenta taxa de sobrevida de 56% (pacientes vivos após cinco anos do início de tratamento).

Apesar da gravidade deste cenário, houve avanços nos últimos anos no entendimento dos diferentes tipos de câncer de pulmão, propiciando abordagens mais assertivas para cada grupo de pacientes, com cirurgia, radioterapia e tratamento sistêmico com quimioterapia, radioterapia e imunoterapia. A tomografia computadorizada de baixas doses em pessoas com histórico de tabagismo, também tem sido usada como método de rastreamento, sendo capaz de descobrir a doença mais cedo e reduzir a taxa de mortalidade que, infelizmente, permanece elevada.

Diagnóstico precoce – Em 2011, o mundo recebeu uma contribuição científica que mostrou redução de mortalidade por câncer de pulmão. Pesquisadores do National Lung Screening Trial (NILST) dos Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos (NIH) concluíram que o rastreamento pela Tomografia Computadorizada de Baixas Doses (TCBD), quando comparada com a radiografia tradicional de tórax, conseguiu reduzir em 20% a mortalidade do câncer de pulmão. O estudo foi publicado no New England Journal of Medicine, um dos periódicos científicos mais importantes do mundo. Ao longo da última década, o trabalho, com mais de 5 mil citações na literatura médica, influenciou estratégias de diagnóstico precoce ao redor do mundo, inclusive no Brasil, mas o exame não é adotado como estratégia de rastreamento populacional no país para aqueles com histórico de tabagismo, como é preconizado.

“A única forma de conseguir aumentar o número de diagnósticos iniciais é implementando política de rastreamento para câncer de pulmão”, explica o cirurgião oncológico Antônio Bonfim Rocha, membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO). O médico cita o exemplo da China – um dos países com melhores resultados na política de rastreamento: “Fazem tomografias de rotina em toda população acima dos 50 anos de idade, principalmente entre aqueles que fumam ou são expostos ao uso do cigarro, em todas suas formas. A tomografia de tórax precisa fazer parte do checkup anual – especialmente para quem tem mais risco de adquirir o câncer de pulmão: fumantes e pessoas acima de 50 anos”.

De acordo com o cirurgião oncológico Héber Salvador, presidente da SBCO, a entidade tem cada vez mais investido em campanhas de informação para combater o tabagismo, principal causa de morte evitável do mundo. “Precisamos da imprensa para tornar isso uma coisa de abrangência maior”, ressalta. Para ele, a formação e acompanhamento do cirurgião especialista em câncer também são pilares para a garantia de tratamentos com sucesso e mais chances de cura.

Avanços cirúrgicos – Nos últimos 15 anos, houve diversos avanços nas tecnologias para tratar esse tipo de câncer. “Tivemos a possibilidade de fazer o tratamento de forma minimamente invasiva, tanto do diagnóstico quanto dos procedimentos mais complexas. A cirurgia robótica é uma das intervenções mais modernas no mundo, e que já é uma realidade em várias regiões do Brasil”, informa Rocha.

As vantagens dessa técnica para o câncer de pulmão são vastas, segundo ele. “Ela proporciona uma qualidade no tratamento oncológico, o que resulta em menos sofrimento para o paciente. Ela também permite que os pacientes voltem às suas atividades habituais com mais rapidez, uma vez que as cirurgias tendem a ter menos complicações.

Tratamento sistêmico – Paralelamente ao cenário de diagnóstico tardio e mortalidade, o câncer de pulmão é uma das doenças oncológicas que mais mostra evidências de se beneficiar de terapias-alvo e de imunoterapias, tratamentos da era da Medicina de Precisão. Ao contrário do início do milênio, quando todo tumor pulmonar era tratado com quimioterapia, hoje os pacientes, antes de iniciar o tratamento, podem receber a indicação de teste de mutação em EGFR, BRAF, ROS-1, KRAS, fusão EML4-ALK, rearranjo em NTRK, dentre outras alterações genéticas para as quais há medicamentos com eficácia comprovada para perfis de pacientes com câncer de pulmão avançado.

Esse arsenal reflete em mais tempo e qualidade de vida para o paciente. Comparativamente, se em 2020, com tratamento restrito à quimioterapia, os pacientes com câncer de pulmão agressivo e metastático tinham sobrevida média de 12 meses, as terapias-alvo e, mais recentemente, as imunoterapias, permitem que os pacientes com câncer de pulmão, que têm indicação e acesso para esta terapia-alvo, tenham média de até 90 meses de sobrevida e com menor toxidade. Por essa razão, o acesso dos pacientes à terapia alvo é essencial. Isso porque a cirurgia não é a opção de escolha para o câncer de pulmão diagnosticado em fase avançada (o que representa 75% dos casos).

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